[Editorial]

Por: GIFE| Notícias| 02/09/2019

Por: José Marcelo Zacchi e Neca Setubal

O percurso da construção pública não é nunca linear. Envolve o movimento contínuo na sociedade, a sucessão de demandas e prioridades, a sobreposição constante de ideias, pontos de vista, experiências e acúmulos na arena coletiva.

Mas se realiza da melhor maneira quando nutrida pelo sentido de coexistência e destino comum, amparando a soma de esforços e recursos para a superação de desafios. A valorização e ativação das diferenças a serviço da criatividade, da experimentação e da expansão de possibilidades. A combinação de repertórios, causas e agentes para a ação prática e efetiva nas várias frentes a convocar-nos para a produção de uma sociedade mais justa, plural e feliz, capaz de avançar nos trilhos da garantia de liberdade, direitos e oportunidades e do desenvolvimento pleno, dinâmico e sustentável para todos os seus integrantes.

Na próxima semana, vivenciaremos a nossa 1ª Mostra GIFE de Inovação Social, voltada à visualização ampla de ações, experiências e práticas impulsionadas pela dedicação conjunta da filantropia e do investimento social, de organizações da sociedade civil, empresas, instituições acadêmicas e órgãos governamentais nos vários temas da agenda pública do país, e à troca igualmente aberta e diversa de aprendizados e ideias em torno deles. Criada para somar uma contribuição mais à atuação regular do GIFE e de sua rede de associados e parceiros pela difusão de caminhos para o fortalecimento dos modos de ação coletiva e a formação de soluções públicas no país, a Mostra vê seu sentido ampliar-se pelo contexto de erosão e ataque ao exercício dessas habilidades no nosso cotidiano público.

Nos últimos anos, assistimos à afirmação crescente da agressão, da desconfiança e do ressentimento na vida pública no país. Deles, passamos ao cultivo da fragmentação social e a culpabilização do “outro” como atitudes dominantes no nosso espaço coletivo. E afinal, também crescentemente, para a denúncia e perseguição ao dissenso – na sociedade, na produção de ciência, nos meios de comunicação e demais âmbitos em geral – como indigno e alvo de suspeição. Diante disso, para todos que acreditamos que o destino comum se faz coletivamente, é preciso dizer e relembrar: não avançamos assim. Liberdade e pluralismo, mais que valores fundantes, são requisitos essenciais para criar, inovar e construir a riqueza da vida pública. Reconhecimento e diversidade, mais que definidores da nossa existência, são combustível vital para o dinamismo e a solidez da trajetória social. Como as mais de 300 iniciativas de colaboração e cidadania em todo o país reunidas pela Mostra demonstram, um espaço público vibrante, múltiplo e ativo é base fundamental para a construção de respostas reais para nossos desafios e a realização plena do nosso potencial.

Uma sociedade exitosa não se faz de inimigos, mas de diferenças e pluralidade. Que podem ser danosas e comprometedoras quando capturadas para a negação mútua e o conflito diversionista, ou acionar o melhor de nós quando mobilizadas para o respeito, a criação compartilhada e a realização de objetivos comuns. Se olharmos para trás, veremos que todos os nossos avanços enraizados – sociais, econômicos, ambientais, cidadãos e políticos – nutriram-se sempre dessa condição. A 1ª Mostra GIFE busca somar a contribuição para recordar-nos disso e da nossa capacidade como sociedade e país de fazer assim, e iluminar a existência de múltiplos atores cultivando e levando adiante essa habilidade no dia-a-dia da nossa ação pública. Esperamos poder estar juntos nela, renovando e reafirmando o fazer dessa história.

José Marcelo Zacchi, Secretário-geral do GIFE e Neca Setubal, Presidente do conselho de governança do GIFE e da Fundação Tide Setubal.

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