Editorial – As orientações estão claras, mas há mais perguntas do que respostas

Por: GIFE| Notícias| 26/06/2013

Caroline Hartnell *

Esta edição especial neste número da Alliance aborda a “filantropia em uma economia mundial em mudança”. Queríamos explorar como a filantropia tem respondido às mudanças econômicas desde a quebra do Lehman Brothers, em 2008. Eu usei a palavra “explorar” de propósito: esta edição especial é a primeira tentativa de ver o que está acontecendo no mundo. Tentamos construir um quadro com base nas experiências e impressões das pessoas em diversos países.

Uma das coisas que aparece mais claramente é que à medida que o equilíbrio do poder econômico inexoravelmente passa ao leste e sul, uma nova riqueza está levando a uma nova filantropia. Como Matthew Bishop conta, desde 2008 o número de milionários e bilionários cresceu consideravelmente no mundo todo e a proporção vinda de “fora do que agora chamamos de países desenvolvidos” tem aumentado constantemente. A filantropia parece seguir o mesmo caminho.

Em 6 de maio foi anunciado que a Iniciativa Global Clinton vai expandir para a América Latina e vai realizar sua primeira reunião no Rio em dezembro. Poucas semanas antes, o Fórum Global de Filantropia, com sede nos EUA, anunciou o lançamento de sua filial mais recente, o Fórum Africano de Filantropia, depois do primeiro Fórum Brasileiro de Filantropia, lançado em novembro passado. Bishop aposta que haverá “muito mais bilionários e multimilionários se tornando doadores ativos e aumentando a parcela de doações super ricas em relação ao total de doações na maioria dos países”. Além disso, mas um pouco mais difícil de documentar neste ponto, está a filantropia por milionários “comuns” e pelas crescentes classes médias.

Como fica claro no relato de Alison Bukhari sobre a filantropia na Índia e no comentário de Theo Sowa sobre a África, a nova filantropia sofre fortes influências das consagradas tradições locais de filantropia. Essas influências devem ser importantes em outros lugares também, tanto na Europa quanto nas economias em desenvolvimento.

Como era de se esperar, acabamos com mais perguntas do que respostas. Será que o investimento de impacto algum dia vai corresponder às expectativas? Será que as fundações subvencionadas pensam em uma terceira forma, entre a longevidade e o gasto de seu patrimônio, como coloca Richard Jenkins? Será que as fundações encontrarão formas para lidar com a desigualdade, que parece ser o reverso da medalha da crescente concentração de riqueza?
“Será que o público vai se tornar cada vez mais hostil às atividades dos super ricos?” Bishop continua: “e será que isso vai levar os ricos a usarem a filantropia como uma forma de melhorar sua posição junto ao público?” Por outro lado, poderia haver uma pressão política para refrear a filantropia como “uma demonstração da crescente influência plutocrática?”

Para o editor convidado Anthony Tomei, uma questão essencial é como as relações das fundações com o governo evoluirão. Todos os governos querem mais insumos da filantropia para ajudar a atender às necessidades de seus cidadãos. Mas em que base? Será que as fundações terão o poder de convocação, a independência e os recursos para fazer com que o governo assuma sua responsabilidade?

*Caroline Hartnell é editora-chefe do revista Alliance.

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