Editorial- Convivendo com o poder

Por: GIFE| Notícias| 16/10/2013

Caroline Hartnell*

“Quanto mais vidas e comunidades são destruídas pelo sistema que cria grandes riquezas para poucos, mais vemos “compensar” como algo heróico. Isso é o que eu chamaria de “lavagem de consciência”… Mas isso só mantém a estrutura de desigualdade que existe hoje em dia. O rico vive sossegado, enquanto os outros só têm o bastante para sobreviver”.

De quem é esse texto? Talvez de Michael Edwards? Ou de Rick Cohen da Nonprofit Quarterly? Ou de Stephen Pittam, editor convidado desta edição? Não. A frase é de Peter Buffett, filho de Warren e presidente da Fundação NoVo, em um artigo muito discutido do New York Times de 26 de julho de 2013.

Peter Buffett questiona a forma como a riqueza é criada e também a “compensação” que nada faz para atingir a estrutura subjacente à desigualdade. Onde ficam ele e sua fundação nessa história? “Minha esposa e eu sabemos que não temos as respostas”, ele diz, “mas sabemos como ouvir. Enquanto pudermos continuar a aprender, continuaremos a apoiar as condições necessárias para a mudança sistêmica”.

Muitas pessoas que trabalham com filantropia acham que não é pertinente fazer tantas perguntas sobre o que os ricos fazem com seu dinheiro filantrópico. Eles doam voluntariamente e, com certeza, são eles quem sabem o que farão com dinheiro. Consequentemente, todos nós devemos ser gratos. Em nossa sociedade o dinheiro traz poder e o poder da filantropia é só mais um aspecto dessa relação.

Mas outros, sejam os donos da riqueza, como Peter Buffett, ou funcionários dos fundos patrimoniais, não se sentem à vontade com o poder que detêm, como Stephen Pittam coloca tão bem em seu artigo. Não tem como fugir do fato que o dinheiro traz poder então, como Theo Sowa diz sucintamente, “nós precisamos conhecer o poder que temos e exercê-lo com responsabilidade”. Muitos dos artigos da edição especial se concentram em como fazer bom uso do poder, inclusive apresentando diversas abordagens para “compartilhar o poder” ou construir o poder dos outros juntamente com o do doador. Também é crucial reconhecer as limitações do poder da filantropia e que há coisas que os outros, como o Estado e sociedade civil, devem fazer.

Uma consequência do poder da filantropia é que quase sempre os doadores ou as fundações são quem tratam do problema. As pessoas mais afetadas, aquelas que se beneficiam da filantropia, têm muito perder se falarem abertamente sobre a questão. A Alliance raramente inclui artigos escritos por beneficiários. Então, eu gostaria de agradecer especialmente a Richard Murphy por seu artigo sobre filantropia e imposto, e o uso de paraísos fiscais na acumulação de riqueza. É um artigo que realmente nos faz pensar muito. Espero ouvir a resposta dos leitores a esse e a outros artigos.

*Caroline Hartnell é editora da Alliance Magazine

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