Editorial – Uma área para pisar com cuidado

Por: GIFE| Notícias| 28/02/2012

Caroline Hartnell*

Os editores especialmente convidados pela Alliance invariavelmente contribuem muito em cada edição especial: sólidos conhecimentos, experiência, contatos. Acho muito difícil produzir uma edição da Alliance sem a colaboração deles. No caso da edição especial sobre “Respondendo as Esperanças da Primavera Árabe”, poderia dizer que foi indispensável ter um editor convidado.

A região árabe é um campo minado feito de erros e julgamentos prontos. Apenas para mencionar dois: ao mostrarmos a Atallah Kutab, editor convidado, o que pensávamos que fosse uma belíssima foto de mulheres na Praça Tahrir, ouvimos o comentário: “a foto mostra todas as mulheres com as cabeças cobertas (um estereótipo das mulheres da região) e isto não ilustra a real diversidade das ruas do Egito ou da Tunísia”; e ao lhe mostrar duas fotos possíveis de ser a capa, uma da Praça Tahrir de dia e outra de noite com fogos de artifício, ele não hesitou: “Use a do dia, ainda é muito cedo para fogos de artifício”.

O que é verdadeiro na montagem de uma edição da Alliance também deve ser verdadeiro no financiamento: o aconselhamento com peritos e especialistas é indispensável. Algo que me impressionou ao ler as diversas contribuições é que os requisitos das doações feitas em circunstâncias desafiadoras como no caso de aquelas feitas hoje em dia para a região árabe são muito parecidos com as boas práticas das doações internacionais.

Muitos doadores fora das regiões árabes estão ansiosos para apoiar o que nós esperamos que seja uma transição pacífica para sociedades mais justas e abertas. No entanto, poucos conhecem a região e a sociedade civil não está bem sedimentada. “As fundações do Ocidente precisarão de orientação local para se assegurar que oferecem ações em concordância com as necessidades locais e não com o que os doadores desejam”, como afirma Atallah na visão geral do seu artigo.

Porém não se trata apenas de fazer o melhor possível: também existe o potencial de fazer danos, mesmo com pequenas somas de dinheiro. A mensagem que chega intermitentemente é que é preciso ter cautela: os governos de transição nos países árabes, assim como os déspotas antes deles, suspeitam, das intenções dos países ocidentais. Também existem suspeitas sobre as organizações civis dos seus próprios países, especialmente quando estas se envolvem em atividades relacionadas aos direitos humanos.

Assim sendo, as doações ocidentais para ONGs árabes poderão de fato causar danos a setores da nascente sociedade civil ao aumentar as suspeitas e a repressão dos governos. Daqui a conveniência de procurar aconselhamento local e talvez fazer doações por meio de intermediários locais como o Fundo Árabe de Direitos Humanos. Esta é uma área para andar com muito cuidado tanto para nossos editores quanto para doadores.


*Caroline Hartnell é editora-chefe do revista Alliance.

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