Educação: diferença está na parceria entre público e privado

Por: GIFE| Notícias| 24/03/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Lúcia Dellagnelo é doutora em educação pela Universidade Harvard e participou do Conselho Editorial do Guia GIFE sobre Investimento Social Privado em Educação. Em entrevista ao redeGIFE, ela fala sobre parcerias entre o poder público e a iniciativa privada, o papel do empresário na educação brasileira e os desafios que ele encontra ao investir nessa área.

redeGIFE – Qual o papel do empresariado no desenvolvimento da educação no Brasil?
Lúcia Dellagnelo – A educação é um bem público, por isso precisa da participação de toda a sociedade para ter qualidade e relevância social. Em todos os países do mundo onde há uma boa educação, há participação de todos os segmentos da sociedade para garantir essa qualidade e relevância.

redeGIFE – Você acha que os projetos de investimento social privado em educação que vislumbrem, desde a sua origem, a criação de políticas públicas são mais eficazes?
Lúcia – Eu acho que eles têm mais chance de darem certo e, mais ainda, eles têm um impacto social maior. O potencial de impacto social desses projetos é maior do que aquelas experiências isoladas e desarticuladas do sistema público de ensino.

redeGIFE – O governo tem sido receptivo o suficiente e já está consciente da importância das ações de investimento social privado em educação?
Lúcia – Eu acho que estamos cada vez mais descobrindo formas de colaboração interessantes entre a iniciativa privada e o poder público na área de educação. É um caminho que está sendo construído, não existem estratégias ou modelos prontos, mas existem vários exemplos interessantes hoje, no Brasil, de colaboração e parceria entre o investimento social privado e o poder público.

redeGIFE – Qual parceria tem sido mais eficaz no investimento em educação: organizações da sociedade civil entre si ou organizações da sociedade civil e governo?
Lúcia – Eu acho que são modelos diferentes. Quando a parceria envolve setores diferentes, ela precisa ser muito bem organizada. Precisa ter, primeiramente, um processo de integração entre os setores, que às vezes funcionam com lógicas e linguagens diferentes, até chegar a um ponto de trabalho em conjunto que traga resultados bons para todos os envolvidos e que gere o resultado social esperado. Quando a parceria é dentro de um setor, como entre as organizações sociais, geralmente o diálogo e o planejamento são mais fáceis. Por isso acho que um grande desafio que se coloca agora para nós é construir formas de colaboração intersetoriais.

redeGIFE – Pesquisas indicam que o ponto forte das organizações do terceiro setor ao investir em educação são as ações complementares à escola. Por que isso acontece?
Lúcia – Porque as organizações têm grande experiência em trabalhar com crianças e adolescentes, principalmente em programas de artes e esportes, que são atividades consideradas complementares ao currículo escolar. O grande desafio agora é mostrar que isso também faz parte da educação e que essas atividades, na realidade, devem fazer parte do projeto político-pedagógico das escolas. Não é criar um sistema paralelo de atendimento às crianças, mas enriquecer o currículo escolar e educacional, cada um contribuindo de uma maneira.

redeGIFE – Quais são os maiores desafios que os investidores sociais privados encontram ao investir em educação?
Lúcia – A questão é que até hoje foi muito difícil encontrar canais efetivos e eficientes do investimento social privado no ensino público, por isso muitas organizações decidiram fazer investimentos paralelos, criar escolas, criar estruturas diferentes. Hoje nós queremos incentivar o empresário a investir em educação pública, porque cerca de 80% das crianças e adolescentes brasileiros estão nas escolas públicas. Então, é ali que se pode fazer a maior diferença no investimento em educação. Mas é mesmo um desafio, porque o poder público às vezes funciona com grande burocracia, com uma lógica e um timing diferente do empresário. Assim, é preciso uma adaptação tanto do empresário, para entender a lógica do poder público, quanto do poder público, que deve criar canais de negociação e interlocução com a iniciativa privada que permitam maior eficiência no investimento.

redeGIFE – Esse seria, então, um dos aspetos importantes no lançamento de um guia como este que o GIFE e o Grupo de Afinidade em Educação estão lançando?
Lúcia – Claro. E nesse guia estamos enfatizando a necessidade das parcerias, do empresário entender o contexto da educação brasileira, para que ele possa escolher as formas de fazer uma contribuição mais efetiva.

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