Educação integral exige criatividade e rede comunitária

Por: GIFE| Notícias| 14/08/2006

Rodrigo Zavala

Como alinhar o conhecimento produzido por diferentes atores de uma comunidade na promoção de um ensino público de qualidade? Essa é a questão central dos defensores do conceito de educação integral, na qual é fundamental a criação de espaços educativos articulados entre escolas, seu entorno, o setor privado e a administração pública.

Defendido pelo celebrado educador brasileiro Paulo Freire, o conceito privilegia o desenvolvimento integral e pressupõe o fortalecimento das oportunidades de aprendizado pela convivência social, pela ampliação do repertório cultural, pela aquisição de informações e pelo acesso e uso de tecnologias, Mais do que isso, de forma emancipatória, favorece o ensino por meio do incentivo à participação na vida pública nas comunidades em que vivem.

Nesse sentido, quanto mais articulados forem os espaços educativos disponíveis numa comunidade, maiores serão as chances de alcançar esse objetivo. “”Está muito longe do que alguns interpretam como educação em tempo integral. É a conjugação de diversos espaços educativos, quando se criam oportunidades e uma dinâmica do aprender””, crê Maria Júlia Azevedo Gouveia, coordenadora da área Educação e Comunidade do Centro de Educação de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).

Rede social – Em uma visão prática, essa comunidade de aprendizagem depende de uma rede colaborativa que envolva o aparato governamental (postos de saúde, escolas, segurança pública, parques, bibliotecas, entre outros), aliado à expertise do setor privado e ao laboratorial know-how das organizações do terceiro setor.

Mas por que unir esses diferentes atores em prol da educação? A resposta vem de Mário Sérgio Cortella, filósofo, professor de programa de Pós-Graduação de Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). Segundo ele, A educação sempre ocorre em duas dimensões; a ocasional, que é vivencial e espontânea (coletiva); e a intencional deliberada e proposital (escolar).

“”A grande vantagem da primeira é o aprendizado de forma mais concreta, útil, pragmática e significativa, portanto perene. A vantagem da educação intencional está no fato de ser metódica, programada, organizada, sistematizada, veloz. E as desvantagens? A ocasional é mais lenta – às vezes simplória, às vezes experiente – e a intencional é pouco estimulante, artificial, unívoca e limitada””, explicou no livro Muitos lugares para aprender (Aprendendo na Escola e na ONG, Cenpec, 147 pág.).

Nesse contexto, sinteticamente, o conceito integra educação escolar e não-escolar, recursos reais e virtuais em um âmbito territorial determinado (urbano e/ou rural), incluindo, desse modo, as diferentes noções de comunidade de aprendizagem ao longo das décadas. “”A criança não tem apenas o direito à educação, mas a aprender. Ir à escola já não é suficiente””, defende Cenise Monte Vicente, representante do Unicef Centro-Sul.

Envolvimento – Um dos pontos levantados na promoção do conceito é o incentivo à participação dos atores comunitários. “”O problema da educação no país é grave e a sociedade se contenta com pouco. Se o país não se mobilizar, o problema não se resolve””, critica Antonio Matias, vice-presidente da Fundação Itaú Social.

Uma das propostas levadas a cabo pela fundação para reunir esses atores é o Seminário Nacional Tecendo Redes para a Educação Integral. O evento vai reunir, nos dias 15, 16 e 17 de agosto, professores, representantes de ONGs, governos municipais, estaduais e federal para debater o conceito de educação integral e discutir soluções possíveis para a implantação do sistema.

“”Precisamos criar na sociedade uma demanda por qualidade. Não é possível um país ser tão competitivo no futebol, em que existe uma verdadeira catarse coletiva, e não se importar em estar sempre nos piores posições nos rankigs internacionais de ensino. Como é possível aceitar que um aluno se forme na 8ª série com o conhecimento adquirido de 4ª?””, questiona.

Com esse contexto, a fundação dividiu as atividades do evento em cinco grupos temáticos: Propósitos da educação integral, Projetos pedagógicos, Propostas de políticas públicas, Monitoramento e avaliação de resultados e Redes para educação.

Na Fundação Itaú Social, a discussão sobre Educação Integral nasceu no âmbito do Prêmio Itaú Unicef, que há onze anos contempla bienalmente atividades socioeducativas desenvolvidas por organizações da sociedade civil. “”Desde a sua criação, o Prêmio trata de educação integral, já que valoriza ações complementares à educação formal, mas foi a partir de 2001 que a proposta de Educação Integral começou a aparecer de forma mais definida””, diz superintendente da Fundação Itaú Social, Ana Beatriz Patrício.

Serviço:
Seminário Nacional Tecendo Redes para a Educação Integral
Local: Memorial da América Latina
Data: 15, 16 e 17 de agosto
Inscrições: Gratuitas, nos sites www.fundacaoitausocial.org.br ou www.cenpec.org.br
Informações: 0800 7017104

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