Educação não pode ser vista como favor

Por: GIFE| Notícias| 31/07/2006

Rodrigo Zavala

“”Não é incomum ver uma mulher agradecendo o diretor de uma escola porque conseguiu uma vaga para o seu filho. Aí está o erro. Ela deveria perguntar como a educação daquela escola irá formar seu filho e como esse conhecimento irá levá-lo a uma vida digna, com base nos direitos humanos””

Esse foi um dos pontos altos da palestra do celebrado pensador colombiano Bernardo Toro, que participou do Encontros de Sustentabilidade, série de debates mensais promovidos pelo ABN Amro Real. A iniciativa tem o objetivo de promover o diálogo entre especialistas em sustentabilidade, funcionários, clientes e sociedade.

Com o tema A Educação como mecanismo de transformação social, Toro foi enfático ao dizer que os latino-americanos devem deixar o comportamento terceiro-mundista de perceber a educação como um favor do estado e não como um direito. “”Isso tem que acabar. O ensino é um contrato entre a sociedade e a instituição educativa””, argumentou.

As razões que levam a esse panorama acompanham, na visão do filósofo e educador, um processo histórico que secularmente minou a educação básica e excluiu a população pobre das universidades públicas. Mais do que isso, criou, principalmente no Brasil, uma inversão de papéis, em que o Estado banca o Ensino Superior dos que têm mais recursos.

“”O vestibular é a mais cruel face disso. Ele diz aos professores e estudantes de escolas públicas, que o diploma de ensino médio não prova aptidão para ingressar na universidade””, criticou Toro, lembrando que há 15 anos, quando as universidades alemãs resolveram aplicar o vestibular, os professores ameaçaram processar as universidades. “”Isso é impensável no Brasil, porque ninguém pensa na escola pública””.

Um contexto de educação precária, na visão do colombiano, não interessa a ninguém, nem mesmo ao setor privado. Afinal, quanto maior a qualidade de ensino público de um país, maior é a excelência de suas instituições privadas. Nesse sentido, incitou os participantes da palestra a pressionarem não apenas o Estado na busca de soluções, mas também de empresas e organizações da sociedade civil.

“”O Governo é institucionalizado e só pode fazer o que está dentro da legislação. O presidente não pode fazer o que quer. Por isso, a cidadania tem o poder de pressioná-lo para fazer o que é necessário. E de onde vêm os projetos que atendem as necessidades? Da interlocução entre o primeiro, segundo e terceiro setores, que buscam, por meio da criatividade dos dois últimos, idéias inovadoras de superação da pobreza e formação popular””, argumentou.

Um dos primeiro passos que as pessoas devem tomar é uma mudança comportamental histórica dos latino-americanos. Explica-se: apesar das inovações de tecnologia de informação e comunicação, Toro ainda vê a população acostumada mais com a oralidade do que com a leitura e escrita.

“”A cultura oral é ainda muito presente, pois a alfabetização universal começou nas últimas décadas. Uma das provas disso é o baixo número de livros que as pessoas lêem por ano (no Brasil, a média não chega a dois livros por ano)””, afirmou.

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