Educação para o desenvolvimento sustentável deve ir além da conscientização ambiental

Por: GIFE| Notícias| 16/05/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

No próximo dia 31 de maio acontece, no Rio de Janeiro, o lançamento oficial na América Latina da Década da ONU da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. A iniciativa será apresentada durante o Congresso Ibero-Americano sobre o Desenvolvimento Sustentável, realizado pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Os principais objetivos da Década são melhorar a qualidade do ensino, facilitar a troca de experiências entre os diversos atores envolvidos e aumentar a atenção pública ao assunto. “”Isso só poderá ser alcançado mediante um longo e amplo debate envolvendo governos, iniciativa privada e sociedade civil””, afirma o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein.

A definição de educação para o desenvolvimento sustentável ultrapassa a questão ambiental e agrega aspectos econômicos e valores sócio-culturais. Segundo Werthein, em um país como o Brasil – dono da maior biodiversidade do planeta -, esta compreensão é fundamental para que as bases de um novo modelo de desenvolvimento possam ser construídas. “”A educação nos torna aptos a entender esta complexidade e a interdependência entre as condições necessárias para o próprio desenvolvimento.””

Ele lembra que a Carta da Terra, resultado da Eco-92, já pedia prioridade para a educação para o desenvolvimento sustentável. “”Sabemos hoje que a criação de uma agenda positiva para o uso sustentável dos recursos depende, cada vez mais, de novas fontes e redes de conhecimento capazes de compreender esta complexidade. Daí, mais uma vez, a importância crucial da educação neste sentido, no Brasil e no mundo.””

Sem considerar um dos fatores do tripé “”econômico-social-ambiental””, não haverá desenvolvimento sustentável, seja no âmbito das comunidades ou no empresarial, afirma a gerente de relações institucionais da Fundação CSN, Sônia de Oliveira Morcerf. Por conta disso, os atuais projetos de educação ambiental têm abordado também os aspectos econômicos e sociais das comunidades. “”Muitos projetos de preservação ou recuperação ambiental consideram também esses fatores, até como forma de gerar renda e trabalho nas comunidades onde são implementados. A experiência tem mostrado que o mais eficiente é alinhar essas iniciativas com a vocação econômica da região.””

Os principais projetos da Fundação CSN na área ambiental são o Museu Arqueológico de Arcos e o Centro de Educação Ambiental, ambos em Minas Gerais. Eles foram idealizados para receber pesquisadores e educadores, estudantes e visitantes em geral, com palestras, encontros, seminários, trabalhos de campo e campanhas de preservação do meio ambiente.

Infância – Sônia vê a criança como uma grande disseminadora de informações e conceitos junto ao núcleo familiar, na medida em que não só leva a informação para dentro de casa, como incorpora o aprendizado e cobra do adulto uma posição e uma mudança de postura com relação ao que foi discutido. Assim, indica ela, estes valores podem ser transmitidos por meio de projetos específicos, com acompanhamento didático-pedagógico, bem como na escola, transversalmente, em disciplinas como geografia, ciências e estudos sociais, conforme previsto na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) do Ministério da Educação.

Tomas Zinner, presidente do conselho do Instituto Unibanco, concorda que crianças e jovens não só podem influenciar o comportamento de toda a família, como são os mais indicados para fazer isso. “”Muitas vezes, as pessoas ficam presas a hábitos e costumes que se tornam mais rígidos com o passar dos anos, tornando-as resistentes a novas idéias. Como os jovens alunos ainda estão se desenvolvendo e formando suas identidades, estão mais abertos aos valores da preservação ambiental, tornando-se, dessa forma, agentes transformadores de comportamento entre seus pais e amigos e, posteriormente, entre seus próprios filhos, garantindo a conscientização de toda uma geração.””

A educação ambiental é um dos principais focos de atuação do Instituto Unibanco. Entre suas ações mais significativas nesta área está o Unibanco Ecologia, que desde 1991 apóia projetos e estimula a preservação e recuperação de áreas degradadas. Há três anos, o programa passou a ser levado a salas de aula de todo o país. Já foram implementadas mais de 270 ações, em 135 municípios. Outra iniciativa foi a criação dos Centros de Educação Ambiental (CEAs), que promovem a conscientização ecológica da sociedade por meio de cursos, exposições e debates.

“”A educação ambiental ocupa um papel fundamental no caminho para o desenvolvimento sustentável, que só poderá ser alcançado quando as pessoas tiverem consciência plena do impacto que produzimos no mundo ao nosso redor e das melhores formas de minimizá-lo. É justamente essa consciência que as ações nessa área devem despertar nas pessoas””, afirma Zinner.

Paulo Groke, gerente do Parque das Neblinas, do Instituto Ecofuturo, atenta para o fato de que o primeiro passo é despertar nas crianças uma relação de afetividade e carinho com os diversos elementos da natureza. “”Fica mais fácil conservar aquilo que se gosta. O entendimento sobre as complexas relações ecológicas deve ser deixado para um segundo momento. Passa a ser natural que as crianças que assimilaram estes conceitos e éticas também se transformem em agentes disseminadores. Isso pode ser medido em pequenas ações que vão desde a singela bronca pelo ato de limpar a calçada com a mangueira, até uma posição de maior tolerância com a lagartixa que passeia à noite em busca de alimento””, explica.

Comunidade – Buscando mostrar que todos são agentes de mudança, a Fundação Alphaville atua dentro das escolas e nas comunidades. Criou uma cartilha de atividades para o professor e apóia projetos como o de reuso da água do bebedouro para limpeza e manutenção do jardim, de cooperativa de artesanato em papel em lixão (em São Paulo), de artesanato com produtos do mangue (no Ceará) e de catadores de materiais recicláveis, entre outros.

“”A consciência ambiental é uma das bases da sustentabilidade. Sem ela é muito difícil trabalhar preservação em uma comunidade, seja ela de classe alta ou em risco social. Todas as coisas estão interligadas: a coleta de materiais recicláveis, o lixo, a conservação da água e da energia. E, para formar essa consciência, é necessária sensibilização e atitude. Usamos a educação ambiental como ferramenta””, afirma Mônica Picavêa, diretora da fundação.

Para ela, o mais importante é a consciência que a comunidade precisa ter sobre a sua capacidade de transformação, seu poder de mudança da realidade em que vive pela modificação das atitudes. Por isso, é preciso mostrar que existem maneiras de transformar em arte, utilitários, biojóias e artefatos de cozinha, por exemplo, insumos antes desperdiçados. “”Isso leva em conta uma economia riquíssima de produção que incentiva a reciclagem, a redução dos desperdícios, o consumo sustentável e auxilia na distribuição de renda.””

Paulo Groke ressalta que não há país sustentável sem que o conceito seja aplicado ao restante do planeta. Se o consumo das nações mais ricas ou populosas impacta globalmente o ambiente, explica ele, a pobreza e a fome oferecem munição para um tipo de destruição mais pontual, mas muito nociva. “”Coerentemente, nas últimas décadas, o conceito de educação ambiental experimentou uma importante evolução ao integrar às necessidades do próprio homem a preocupação conservacionista, pois para oferecer algo de bom ao planeta, é necessário que cada ser humano se perceba como parte integrante desta grande comunidade, e não como um mero apêndice.””

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