Educação Profissional também é alternativa para investidores sociais

Por: GIFE| Notícias| 31/05/2010

Rodrigo Zavala

Há uma constatação que é fato, quando o assunto é emprego: quanto maior a escolaridade, maior é salário de quem trabalha. Seja como dado empírico, seja por percepção cotidiana, não há nada mais palpável do que anos de estudo para quem quer ter um melhor rendimento no fim do mês.
Mas como educação é um elemento, não fim ou meio, vamos aos fatos. Um estudo inédito realizado pelo Centro de Estudos de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com o Instituto Votorantim analisou os impactos da educação profissional no mercado de trabalho.
No papel, e no dia a dia, a chance de uma pessoa com curso profissionalizante concluído estar ocupada é 48,2% maior daquela saída diretamente do ensino médio. A possibilidade de estar empregado com carteira assinada chega a 38% e os salários podem ser até 13% maiores.
Para chegar a esse percentual, a pesquisa “Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho” cruzou microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram analisadas pessoas que realizaram cursos de qualificação profissional (profissionalizantes), ensino médio técnico e graduação tecnológica.
O economista Marcelo Neri, coordenador do estudo, conhece o contexto. O número de jovens de 18 a 24 anos que estão em alguma instituição de ensino formal vem caindo nos últimos anos – 7,3% entre 2006 a 2008, isto é, 7,5 milhões para 6,9 milhões. Como estudioso que é, cioso de seu trabalho, Neri, já havia elaborado outro estudo sobre o porquê os alunos não frequentam a escola: desinteresse.
Pelo levantamento anterior, ele demonstrou, de forma empírica, que o crescimento econômico tira o jovem da escola mais nas regiões ricas do país do que nas mais pobres, que não oferecem oportunidade de trabalho. Daí o paradoxo: se maior a inserção no mercado de trabalho para quem tem escolaridade, qual a justificativa para sair da escola?
Além dos problemas já sabidos da educação formal pública, em que 3,6 milhões se matriculam no ensino médio, mas apenas 1,8 milhão se formam, segundo dados do Instituto Unibanco, há também o desinteresse acerca da formação profissionalizante. Embora os programas existentes não dêem conta da diversa matiz de habilidade ou competências, não há informação real sobre essa via.
A escolha por essa educação profissionalizante como ferramenta de acesso do jovem ao mercado de trabalho é reducionista. Mas também não pode ser descartada como variável ao que se vê no cotidiano: o “apagão de mão de obra”, principalmente quando se fala em juventude.
Marcelo Neri crê que não se pode dizer que os prêmios são altos ou baixos. Isto vai depender da área e do tipo de curso fornecido e das necessidades específicas de cada um. O resultado desta desinformação são políticas e mercados educacionais e de trabalho relativamente desconectados sobre os percalços e potenciais ganhos das diversidades de alternativas profissionalizantes existentes. No entanto, quem decide a corrida é sem dúvida o estudante.
Segundo ele, na corrida de obstáculos entre oferta e demanda de e por trabalhadores mais qualificados, a educação profissional desempenha papel central, pois além de ser de prazo mais curto e permitir maior facilidade de conciliar trabalho e estudo, ela se volta mais diretamente às necessidades e nichos dos diferentes negócios.
A superintendente do Instituto Unibanco, Wanda Engel, que nada tem a ver com estudo de Neri, diga-se, desde o ano passado – quando entrevistada pelo redeGIFE -, apontava a deficiência escolar do jovem brasileiro. “”Ou você tem 11 anos de estudo ou não entra no mercado de trabalho””, acredita Wanda. Ela citou dados como o do total da população entre 15 e 17 anos (cerca de 10 milhões), mostrando que apenas 48% estão corretamente na sala de aula. “”Isto é, (o jovem) morre na praia””, diz.
Daí entende-se a convicção do economista Marcelo Neri apontar que o Brasil precisa encontrar soluções melhores que as usuais para aproveitar o momento de crescimento. A educação profissional pode ser um salto, na visão dele. “O trabalhador que fizer um curso profissionalizante na área de petróleo e gás sai com emprego garantido. Na área de construção as chances são boas””, afirmou.
Ao dar formato, local e parâmetros às suas pesquisas, o economista foi além do espírito investigador. Tornou público um simulador
capaz de aferir quanto podem ser proveitosos os anos de estudo em diferentes situações sociais. Por meio do programa, que pode ser acessado facilmente aqui, critérios como idade, etnia, posição no núcleo familiar, entre outros, podem ser resultantes de uma assertiva resposta: qual poderá se rmeu salário médio?
Remuneração
A pesquisa de Neri aponta os Estados, capitais e periferias em que as pessoas são mais bem pagas, segundo seu levantamento. O Distrito Federal lidera a lista dos Estados com um salário médio de R$ 1.403, seguido por Santa Catarina, com uma média mensal de R$ 1.037 e São Paulo (R$ 1.004).
Vitória (ES) é a capital que melhor remunera os profissionais técnicos com R$ 1.724 de salário médio, seguida por Florianópolis (SC) com a remuneração mensal média de R$ R$ 1419 e por Brasília com R$ 1.403.
Negri destaca que famílias com baixa escolaridade tendem a ter filhos com níveis igualmente precários. “A revolução da educação está nas casas e não nas escolas. Os jovens têm que ser conquistados para a ideia de que vale a pena estudar”. Para quem investe em Educação, não há maior questionamento.

Para ver as outras pesquisas do professor Marcelo Neri desenvolvidas em parceria com o Instituto Votorantim, clique aqui.

Associe-se!

Participe de um ambiente qualificado de articulação, aprendizado e construção de parcerias.

Apoio institucional