Em ano de Olimpíadas, racismo no esporte deve ter destaque

Por: GIFE| Notícias| 19/02/2024

Crédito: Agência Brasil / Reuters - Amanda Perobelli

A preocupação com a recorrência de casos de racismo no esporte tem se ampliado cada vez mais no Brasil, em especial através de mecanismos legislativos. No último dia 31 de janeiro, foi sancionada em Santa Catarina, a lei que cria o Dia Estadual de Combate ao Racismo no Esporte, a ser celebrado anualmente, no dia 21 de maio.

Desde que foi sancionado em julho de 2023 na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a Lei Vini Jr., tem sido replicada em diversos estados, como Paraíba, Amapá e Paraná. A legislação prevê o combate ao racismo nos estádios e arenas esportivas, e foi a primeira ação concreta no país após a repercussão dos atos de racismo sofridos pelo  jogador Vinícius Júnior, na Espanha. 

Trata-se de uma preocupação que está longe de se limitar aos estádios de futebol, apesar destes terem alcançado mais visibilidade atualmente – de acordo com a CBF, 41% dos profissionais que atuam no futebol no Brasil já sofreram racismo durante o exercício de sua atividade

Em janeiro, a Conferência Brasileira de Voleibol (CBV) foi fortemente cobrada pela comunidade do vôlei, após três jogadoras do Tijuca Tênis Clube e o técnico do América-RN denunciarem terem sido chamados de macacos durante jogos por espectadores na arquibancada.

A ginasta Daiane dos Santos, em entrevista ao Podcast dos Jogos Olímpicos sobre seu legado, também desabafou sobre casos de racismo. “A gente ainda tem problemas com questões raciais no Brasil, como a gente tem no mundo inteiro.”

Para Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, além da pouca cobertura midiática sobre casos de racismo no esporte em modalidades além do futebol, algumas atividades esportivas ainda não têm muita presença de atletas negros, o que agrava o quadro. 

“O atleta que entra em uma modalidade esportiva restrita tem muito mais medo de denunciar o racismo que os atletas do futebol. Dessa forma a gente acaba acreditando, o que é um engano, que esses casos em outros esportes acontecem com menos frequência”, aponta o diretor, enfatizando que outra camada desse racismo é a não presença de pessoas negras em diversas modalidades que têm um investimento maior de para participar.

Marcelo Carvalho destaca que, se a presença de pessoas negras em alguns esportes já é limitada enquanto atletas – como tênis, hipismo e natação -, ela é ainda menor enquanto dirigentes de clubes e cargos de gestão. 

Paris 2024

A preocupação com casos de racismo tendo como cenário os ambientes esportivos têm sido uma constante também na Europa, e está no horizonte da comissão organizadora das Olimpíadas, que acontece em julho deste ano em Paris, na França. A escalada de ofensas racistas contra atletas negros no basquete e no futebol por parte de torcidas rivais têm provocado a cobrança por medidas de combate mais duras. 

“Existe um motivo para o comitê estar preocupado, que é o aumento das denúncias de racismo na Europa, o ódio aos imigrantes negros, africanos. Vamos ver nessas Olimpíadas uma tensão muito grande relacionada à questão racial”, projeta Marcelo Carvalho. O diretor do Observatório, no entanto, diz não ter esperança de atitudes dos comitês olímpicos, e principalmente do Comitê Olímpico Internacional, para frear esses casos de racismo.

Ele prevê que devem haver ações informativas, mas muito poucas punições, no caso de registrado algum episódio de racismo. “Pecamos por ser muito reativos. Quando acontece um caso nós pensamos o que fazer, quando na verdade temos informação suficiente para sermos proativos.”

Importância de maior investimento no combate ao racismo nos esportes

Diante desse cenário, Marcelo Carvalho considera fundamental a atenção do terceiro setor no apoio ao esporte. “A partir do momento que esses institutos [de atenção ao esporte, e de combate ao racismo] surgem, é muito importante que a iniciativa privada apoie para que continuem a existir. Tirando jogadores de futebol que estão na atividade, como o Vini Jr. e o Paulinho, que vão manter seus Institutos com recursos próprios, tantos outros vão precisar da iniciativa privada para que surjam e se mantenham.”

O diretor executivo chama atenção ainda para o papel de influência das grandes patrocinadoras. “O atleta que fala sobre racismo, e não perde o patrocínio, mas sim é apoiado pelas patrocinadoras do clube, vai ter mais coragem de falar sobre isso”, finaliza.

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