Empresários aproveitam mal os recursos das universidades

Por: GIFE| Notícias| 15/05/2006

Rodrigo Zavala

Parcerias entre setor privado e academia privilegiam projetos universitários em que empresas e fundações constam apenas como patrocinadoras. A prática demonstra que empresários ainda não aproveitam a expertise dos pesquisadores acadêmicos e estudantes para gerenciar seus próprios programas sociais.

Segundo a professora doutora Maria Estela Graciani, Coordenadora do Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC de São Paulo, é muito raro que institutos e empresas busquem auxilio no desenvolvimento de suas ações sociais. “”O meio acadêmico pode prestar consultoria, na avaliação, nos indicadores de resultado. As empresas podem e devem aproveitar o acúmulo que a universidade tem nesse tema””, acredita.

Ela dá como exemplo o programa AABB Comunidade, criado pela Fundação Banco do Brasil e desenvolvido pelo Núcleo que coordena. Com o objetivo de proporcionar novas perspectivas de vida a crianças e adolescentes de famílias de baixa renda, o programa conjuga educação, saúde, cultura, esporte e lazer.

Realizado em parceria com a Federação Nacional das Associações Atléticas, a ação é fundamentada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e promove complementação escolar a estudantes da rede pública de ensino, com idades entre 7 a 17 anos. As atividades são conduzidas por educadores capacitados pelo Núcleo de Maria Estela.

Outro exemplo de trabalho vem da Fundação Bradesco, que está articulando uma rede de inclusão social formada por centros de pesquisa e universidades. A idéia é aplicar tecnologias em comunidades com carência socioeconômica, na busca de solução para os problemas locais.

O projeto piloto da rede foi implantado na aldeia dos Javaés na Ilha do Bananal, TO, com a participação da Universidade MIT (Massachusetts Institute of Technology, Boston, EUA) e da Universidade de São Paulo (USP), onde alunos dessas instituições e da Fundação Bradesco levaram tecnologias para a melhoria da captação de água potável, separação do lixo e processamento de frutas secas.

Esse projeto é uma das iniciativas que estão sendo articuladas nos 40 Centros de Inclusão Digital (CIDs) mantidos pela fundação, localizados nos 26 estados e DF, em parceria com universidades locais e o Centro de Pesquisa Media Lab, do MIT. Além da USP, a Universidade Católica de Brasília também está participando dessa rede com a finalidade de atender as comunidades carentes de Brasília e região.

“”Consideramos que a rede de inclusão social é uma iniciativa que irá mobilizar as comunidades carentes em todo o país na busca de soluções para os problemas sociais locais, através da aplicação da tecnologia, voluntariado dos nossos alunos e formação de uma liderança social atuante e que articule parcerias para a continuidade dos projetos sociais””, afirma Denise Aguiar Alvarez Valente, diretora da Fundação Bradesco.

Iniciativas como essa chamam a atenção do pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários (PREAC) da Universidade de Campinas (Unicamp), Mohamed Habbib. Pela sua vivência, ele observa que são as empresas que invariavelmente esperam a iniciativa da academia. “”Poucas têm a iniciativa de apresentar alguma proposta. O que é um absurdo, pois em muitas comunidades as empresas entendem mais sobre a população local do que os acadêmicos.””

Uma das explicações para essa aparente incoerência se dá na análise do perfil das organizações empresariais. “”Não pode existir choque com os ideais da academia. Por exemplo, como fazer convênios com companhias de cigarro? A análise criteriosa de projetos, nesse sentido, frustra o setor privado, que prefere patrocinar.””

A cada ano, a Universidade Estadual Paulista (Unesp), por exemplo, implementa cerca de 800 projetos de extensão. Além de colaborar na formação profissional dos alunos da Universidade, essas iniciativas beneficiam diversos setores da população, como catadores de material reciclável, habitantes de conjuntos habitacionais e favelas, integrantes de assentamentos rurais, portadores de necessidades especiais e estudantes da rede pública

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