Empresários defendem modelo de governança para o setor público

Por: GIFE| Notícias| 20/03/2006

Rodrigo Zavala

O que era um conceito puramente administrativo poucos anos atrás, tornou-se hoje uma preocupação para o primeiro, segundo e terceiro setores. Pelo menos essa é a conclusão dos empresários associados à Lide – Grupo de Líderes Empresariais, em seminário realizado em São Paulo sobre governança coorporativa*.

Com a participação de executivos e CEOs de empresas e grupos como a Embratel, Rio Bravo, Telefônica, Amercian Express, HP, HSBC Bank Brasil, entre outras corporações, o encontro mostrou que os empresários estão crentes que o conceito de governança deva ser adotado pelos governos federal, estadual e municipal. Trata-se da prática de gestão em que se prioriza a fiscalização e o controle dos interesses dos acionistas – neste caso, os cidadãos – a fim de evitar oportunismo administrativo e melhorar o desempenho dos gestores.

“”Trata-se, na verdade, de fazer bem feito a sua parte””, resumiu Fábio Barbosa, presidente do ABN Amro Real, frente a 183 dirigentes convidados para o evento. Segundo ele, “”cuidar bem da coisa privada é fazer aquilo que se espera””, ao criar uma analogia à gestão pública.

A discussão parte do princípio que tanto dirigentes de empresas, como de organizações não-governamentais e a administração pública devem se basear em valores como transparência, ética e eqüidade. “”Essas são as bases do conceito, que são os mesmos considerados essenciais em uma ação de responsabilidade social””, explicou Barbosa.

Para Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda, a discussão atravessa a prática de gestão pública ao se admitir que existe uma necessidade de revisão de valores no governo. “”Trata-se realmente de fazer as coisas certas do jeito certo. Isso envolve escolhas éticas a partir de uma base de valores compartilhados na sociedade””, ironizou, ao fazer menção aos atuais escândalos políticos do governo.

Nesse sentido, Malan reafirmou que o compromisso dos empresários é prestar um serviço à sociedade de forma sustentável, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade. “”Não faz sentido que um país tenha um setor privado pujante (dentro do conceito de responsabilidade social) e seja deficitário quando se fala em governo””, criticou ao falar, mais uma vez, de moral no poder executivo.

Os governos, na visão do ex-ministro, competem atualmente em administração de seus recursos. “”Eles se destacam na qualidade de vida de seus cidadãos e na gestão de suas ações. Isso é o que caracteriza uma economia: paz, ordem e bom governo.””

O professor titular de ética e política da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, avaliou o tema a partir de uma analogia. “”Governança está ligado à idéia antiga de um Estado como navio. Ele é comandado de tal forma pelos seus tripulantes, que as pessoas não têm certeza de que ele resiste ao mar por perícia ou sorte do comandante””, argumentou.

Em um paralelismo, o professor mostrou que a integração entre o líder e os liderados – o que independe de setor – se divide em duas formas simples: a responsabilidade moral, de conversar com a equipe; e a responsabilidade efetiva, de tomar decisões. “”Os dirigentes devem assumir a responsabilidade, sejam eles empresários, sejam presidentes da República. O dirigente assume a soberania, mas, ao contar com os seus dirigidos na hora da decisão, diminui o personalismo em suas práticas””.

Adepto aos discursos curtos, Fábio Barbosa, presidente do ABN Amro Real, acredita que existe uma necessidade de mudança de valores na política brasileira. “”O governo tem como princípio criar condições que permitam o desenvolvimento econômico e social de uma nação. O que se cobra agora não são apenas ações sociais, mas a forma de gestão e suas práticas, tal como nas empresas””, afirmou.

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