Empresários devem se envolver no controle das ações para atingir objetivos da ONU

Por: GIFE| Notícias| 23/05/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Ética, transparência e participação foram os três pontos mais citados na Conferência Internacional – Os Empresários e as Metas do Milênio, promovida na última semana pela Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (Fides) e a Fundação Konrad Adenauer, em São Paulo. O evento levou a debate o papel dos empresários latino-americanos para atingir os objetivos de desenvolvimento socioeconômico mundial definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2000.

O principal aspecto abordado pelos palestrantes foi a importância do envolvimento das empresas no monitoramento das prioridades e dos avanços no alcance das metas, fazendo o controle das ações em conjunto com outros setores da sociedade.

“”Fala-se muito em parceria, mas geralmente não se espera e não se pratica um verdadeiro envolvimento do empresariado nas ações sociais. O próximo passo consiste em que os empresários comecem a participar ativamente da ampliação do controle social neste país, algo até agora restrito às ONGs, aos militantes comunitários e aos movimentos sociais””, afirma o diretor executivo da Care Brasil, Markus Brose. (leia artigo nesta edição)

As Metas do Milênio foram aprovadas por 191 países que se comprometeram em atingir, até 2015, oito macro-objetivos de desenvolvimento: erradicar a extrema pobreza e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

Para Juan José Lopes Valdívia, presidente da União Social de Empresários Mexicanos, honestidade e transparência são chaves para o desenvolvimento e responsabilidade de todos. “”A despreocupação com o bem comum é um tipo de corrupção, e a luta contra a corrupção deve ser feita em suas causas e por todos. Precisamos desenvolver e colocar em prática leis de transparência.””

Neste sentido, Paulo Francini, diretor do departamento de pesquisa e estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), lembra que a primeira experiência de responsabilidade social deve acontecer dentro da empresa. “”A perda de compromisso com a ética é um grande problema. Estamos num período de declínio e o resgate disso é função de todos. A empresa deve fazer valer os valores dentro de seus próprios muros, em primeiro lugar.””

Valdívia acredita que as grandes desigualdades sociais têm origem na falta de participação cidadã e que, cumprindo sua responsabilidade social, as empresas conseguem atacar as causas estruturais que deram origem a esses objetivos do milênio. “”As políticas públicas não devem ser ditadas pelos políticos, não devem vir de cima para baixo. A sociedade civil deve implementar sua capacidade de influência e encontrar uma maneira de se articular com o governo. Temos potencial, mas nos faltam líderes e pessoas conscientes de sua função social, uma sociedade mais atuante e propositiva. O empresário tem recursos e influência, por isso tem maior responsabilidade. Pode ajudar na organização da participação da sociedade civil.””

Capacitação – Luís Fernando Neri, gerente de comunicação nacional da Petrobrás, lembra que não basta que se incorpore, no papel, a responsabilidade social no planejamento estratégico da empresa. “”Um dos passos é capacitar a comunidade para participar e se organizar para receber os programas com relação às metas do milênio, cruzar ações de produtividade da empresa com iniciativas sociais voltadas a políticas públicas””, indica.

A participação dos funcionários na definição dos projetos a serem desenvolvidos na comunidade e o bom relacionamento da empresa com os governos e a população local, são aspectos que César Ortiz Sotelo, do peruano Suez Group, identifica como fundamentais. “”É importante criar mini-cadeias produtivas para a ampliação das ações, capacitando pequenos empresários e fornecendo microcrédito, além de formá-los para implementar responsabilidade social em seu negócio.””

Transferir conhecimento e tecnologia para que empresas menores tenham ações de responsabilidade social também é uma ação defendida por Eric Altit, coordenador da Câmara Técnica de Responsabilidade Corporativa do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds). “”As grandes corporações estão qualificadas, mas 98% das empresas nacionais são micro e pequenas. Como chegar a elas? Como qualificá-las ao microcrédito?””, questiona.

Para Sérgio Foguel, presidente da Fundação Turismo para a Paz e o Desenvolvimento Sustentável, uma das principais questões a serem tratadas pelos empresários é como criar condições políticas, institucionais, técnicas e econômico-financeiras para que esse conjunto de atores faça um trabalho sinérgico. “”Os programas partem de uma causa empolgante, normalmente um sonho que as pessoas entendam como desejado e viável, e uma política pública impulsiona essas transformações. Este ideário comum que a ONU catalisou nos cria um pano de fundo para causas concretas. O papel da empresa perpassa a construção de políticas públicas e, se as pessoas não sentirem que a política pública é nossa, não vai funcionar.””

A falta de diálogo entre os setores para definir de forma conjunta as prioridades e formas de trabalho é uma das preocupações de Alberto Augusto Perazzo, presidente executivo da Fides. “”Ouve-se falar muito em ′partes interessadas′, mas isso ainda não se materializou concretamente dentro do domínio empresarial. Este diálogo não está internalizado todo o tempo na empresa, só acontece em ações isoladas. Precisamos de ações concretas de todos os agentes, sem dispersão de esforços ou publicidade momentânea.””

Ele defende a criação de canais de comunicação reais entre os agentes, em nível municipal, para que os projetos sejam materializados. “”A partir da definição dos resultados a serem atingidos, as empresas poderão planejar o que fazer. Me preocupa atingir a meta apenas quantitativamente, sem qualidade. Diálogo é definir as prioridades e resultados esperados conjuntamente””, afirma.

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