Empresas não podem ignorar debilidades governamentais

Por: GIFE| Notícias| 20/11/2006

Empresas resididas em países em vias de desenvolvimento têm responsabilidades adicionais quando o assunto é desenvolvimento social. A opinião é do o gerente interino do Departamento de Desenvolvimento Sustentável do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Antonio Vives.

Segundo ele, essas organizações podem se deparar, por exemplo, “”frente a ′responsabilidades′ adicionais de contribuir para a educação primária para preparar seus futuros empregados, incentivar os esportes, ou contribuir para a eliminação da violência””.

Em entrevista ao redeGIFE, Vives fala um pouco mais sobre responsabilidade empresarial, o potencial do investimento privado em uma mudança social e da IV Conferência Interamericana sobre RSE: Um bom negócio para todos, que o banco realiza em dezembro.

redeGIFE – Para o BID, qual é a responsabilidade das empresas na busca por uma sociedade sustentável?
Antonio Vives – A responsabilidade da empresa depende do entorno na qual ela opera e é diferente em países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. Nos países em vias de desenvolvimento, as empresas têm interesse que a sociedade prospere também e sendo assim, não podem ignorar algumas debilidades dos governos, mas também não devem pretender ocupar seu lugar ou interferir na política.

De qualquer forma, responsabilidade não é pagar impostos, é pagar todos os impostos, sem evasão. Responsabilidade não é pagar salários, é pagar salários justos e oferecer condições de trabalho dignas e enriquecedoras. Responsabilidade não é comprar bens, é comprar bens que tenham sido produzidos com salários justos, em condições dignas de trabalho, com respeito ao meio ambiente, e se possível, contribuindo ao desenvolvimento de comunidades em condições adversas.

Responsabilidade não é ter mais clientes e vender para eles mais produtos, é educar os atuais e potenciais clientes para que tomem suas decisões baseadas nas suas necessidades. Responsabilidade é desenhar produtos para satisfazer necessidades e oferecer ao cliente o que seja mais útil e necessário para ele.

Responsabilidade é usar eficientemente os recursos naturais. Além disso, em países em vias de desenvolvimento, a empresa pode se deparar, por exemplo, frente à “”responsabilidade”” adicional de contribuir para a educação primária para preparar seus futuros empregados, a incentivar os esportes, a contribuir para a eliminação da violência. Responsabilidade empresarial não é assistencialismo, é realizar as atividades empresariais com consciência do impacto que tem no entorno em que opera.

redeGIFE – O Banco tem se preocupado em dialogar com a sociedade civil em busca de parâmetros para as ações no banco. Como a área de RSE pode servir de forma consultiva para os projetos do BID?
Vives- O objetivo do BID é contribuir para a eliminação da pobreza, e em geral, ao desenvolvimento econômico, e considera que o setor privado é fundamental para o desenvolvimento da América Latina e Caribe. Acreditamos que para conseguir a sustentabilidade política e social é indispensável um bom governo e a participação ativa da sociedade civil junto com um setor privado responsável.

A promoção da RSE na América Latina, mais que uma ferramenta de consulta, é um dos instrumentos que o BID utiliza para contribuir ao desenvolvimento econômico. Adicionalmente, em suas operações com o setor privado, o BID busca se associar com empresas responsáveis e promover, através de seus projetos, essa responsabilidade.

redeGIFE – Como podemos avaliar o investimento social das empresas na busca de soluções para o desenvolvimento econômico e social do país?
Vives- Mais que falar especificamente de investimento social das empresas, devemos falar de diferentes etapas na concepção do que se constitui uma prática responsável. Na América Latina, ainda prevalece a confusão entre investimento social e responsabilidade social da empresa. Mas pouco a pouco os conceitos vão se expandindo.

O conceito de RSE como estratégia, como parte do negócio e, como comentávamos acima, o conceito de investimento social como uma parte da responsabilidade (que alguns podem dizer que não é sua “”responsabilidade””, que o fazem por altruísmo), mas focado somente em uma das partes interessadas (stakeholders): a comunidade, estão cada vez mais conhecidos.

Para avaliar o investimento social das empresas na busca de soluções para o desenvolvimento econômico e social é necessário, antes de tudo, verificar se essas ações conduzem a mudanças favoráveis e duradouras para as populações mais desfavorecidas e para o meio ambiente, utilizando indicadores que forneçam informações sobre o impacto.

O investimento pode ser medido, por exemplo, com relação à contribuição ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, através dos Indicadores desenvolvidos pelo Instituto Ethos, que vinculam cada meta a um indicador.

redeGIFE – Na visão do BID, como projetos realizados por organizações sem fins lucrativos de origem privada podem chegar a ter escala?
Vives –Através de alianças intersetoriais. As organizações da sociedade civil são as responsáveis por fazer ouvir as vozes dos cidadãos. A proximidade dessas organizações aos problemas cotidianos causados pela pobreza e pela desigualdade e o conhecimento de seu entorno, as coloca em uma situação privilegiada para encontrar soluções.

O setor privado, por sua vez, pode não somente financiar iniciativas como também transferir tecnologia, compartilhar técnicas de gestão e conhecimentos próprios do setor. Pode contribuir para que essas organizações atinjam um maior impacto através de maior efetividade, autonomia, voz e influência.

O governo pode estabelecer um marco para desenvolver agendas de desenvolvimento sócio-econômico que favoreçam a participação, a informação e a transparência de ações de todos os atores, tanto no setor privado como na sociedade civil, e claro, no próprio governo.

A existência de uma clara aliança e articulação entre os três setores (empresas, governo e sociedade civil) é fundamental para o sucesso, e amplia o impacto dos projetos implementados pelas organizações privadas sem fins de lucros.

redeGIFE – Vocês preparam uma conferência para o final do ano…O que se pode esperar como resultado desse encontro?
Vives Esta é a quarta edição das conferências sobre responsabilidade social da empresa que o BID organiza com o apoio de diferentes parceiros do continente. Nessa ocasião, a IV Conferência Interamericana sobre RSE: Um bom negócio para todos é organizada juntamente com o Instituto Ethos e a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB).

Essa conferência já se tornou uma contribuição importante para o debate sobre RSE nas Américas. Seu propósito é contribuir para um setor privado responsável por questões sociais e ambientais e que tenha um impacto positivo na geração de riquezas, na criação de empregos e no bem-estar da sociedade. Desse modo, cria-se também um ambiente mais estável, mais propício para as empresas, governo e sociedade civil.

Teremos uma agenda com muitos expertos em uma variedade de temas relacionados com a RSE e seu impacto no desenvolvimento eqüitativo. Este ano introduzimos uma nova modalidade de seleção competitiva de sessões paralelas através de uma convocatória aberta para organizá-las. Isto nos permitiu ter acesso a um diverso conjunto de atores, organizações e programas de um grande número de países da América Latina e Caribe.

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