Encontro aponta o futuro das fundações

Por: GIFE| Notícias| 25/10/2010

Rodrigo Zavala*

No último dia 22 de outubro, 280 lideranças de fundações brasileiras se reuniram em São Paulo, durante o 5º Encontro Paulista de Fundações. Com o tema “”Uma Nova Fundação para um Novo Mundo Colaborativo””, o evento apontou os caminhos que essas organizações, em especial as comunitárias, deverão trilhar daqui para frente ao enfrentar as novas demandas sociais, cujo atendimento faz parte de suas missões.

Mais do que discussões conceituais, os convidados internacionais do encontro, promovido pela Associação Paulista de Fundações, mostraram que as mudanças globais (sejam elas sociais, tecnológicas ou econômicas) levantam novos desafios aos quais as fundações enfrentarão cedo ou tarde. Um caminho imposto e sem volta, enfim.

Com o tema “”Uma Nova Fundação para um Novo Mundo Colaborativo””, o encontro deu especial atenção ao debate sobre as fundações comunitárias, modelo organizacional ainda pouco difundido no Brasil. Daí a participação dos presidentes das fundações comunitárias do Vale do Silício (EUA) e de Toronto (Canadá), Emmett D. Carson e Rahul K. Bhardwaj, respectivamente, além da fundadora e coordenadora geral do ICom – Instituto Comunitário Grande Florianópolis (Brasil), Lúcia Dellagnelo.

Para entender, as fundações comunitárias são organizações da sociedade civil que atuam em uma base territorial definida, articulam investimentos de uma ampla gama de investidores, são geridas por representantes da comunidade local e que criam mecanismos de sustentabilidade que permitem investimentos locais em longo prazo.

Nesse sentido, o que a experiência internacional mostra, e o caso brasileiro confirma, é que esse modelo de fundação pode ser considerado como peça-chave para o desenvolvimento local. Isso porque, ao proporcionar um caminho para que os investimentos sociais cheguem até pessoas e organizações de base da comunidade, permute que esses recursos sejam replicados ao longo do tempo, criando assim autonomia em nível local

“O futuro da filantropia está nas fundações comunitárias. O aumento do número delas nos EUA, por exemplo, é natural”, afirmou Steve Gunderson, CEO e Presidente do Council on Foundations, organização americana, que congrega mais de 2.000 fundações internacionais.

Segundo ele, essas fundações têm início em seu país com um endowment (recurso destinado a uma organização social na forma de fundo de investimento) de US$ 8 mil, provenientes de pequenos doadores que dão início à iniciativa. “Trata-se de uma democratização da filantropia, que deixa de estar nas mãos das fundações tradicionais”, argumentou.
A Fundação Comunitária do Vale do Silício, por exemplo, nem sempre teve o patrimônio de US$1.7 bilhões, constituído por mais de 1,5 mil fundos de doações da região. De acordo com seu CEO, Emmett D. Carson, trata-se de um trabalho constante de demonstrar sua legitimidade e levantar recursos para atender as demandas da região.
Embora seja berço e sede de uma aglomeração de bilionárias indústrias de tecnologia de ponta, Carson garantiu que não é fácil captar recursos para a região. “Essas pessoas vivem em uma bolha e não conhecem a realidade fora de seus escritórios. Há uma falsa impressão de que o Vale do Silício seja rico e sem problemas sociais”.
O Vale do Silício abrange várias cidades do estado da Califórnia, ao sul de São Francisco, como Palo Alto e Santa Clara, estendendo-se até os subúrbios de San José. “Há muita pobreza, desemprego e violência na região. Além disso, há o problema da imigração ilegal do México. São grandes desafios que precisamos enfrentar”, lembrou Carson.

No Brasil, no entanto, segundo Lúcia Dellagnelo ,o futuro das fundações comunitárias no Brasil dependerá de dois fatores: da capacidade dos investidores de superar a tendência de realizar investimentos sociais isolados e temporais, e da criação de uma legislação que promova e facilite a formação de fundos de sustentabilidade (endowments).

Para ela, a legislação nasce de novos pressupostos da sociedade. O marco legal deve seguir as demandas da sociedade civil, e não determiná-las.

Internacionalização
Quando a presidente da Associação Paulista de Fundações, Dora Silvia Cunha Bueno, foi questionada sobre a importância do 5º Encontro Paulista de Fundações ela foi enfática ao dizer que o evento “nos fará repensar na atuação das nossas instituições”. E o fez.

No entanto, a quinta edição do encontro foi também um divisor de águas para a APF. “Ele vem consolidar o trabalho da associação, que acaba de ser aceita como membro internacional do Council on Foundations, se tornando a única instituição da América do Sul a integrar seu quadro associativo

“Vivemos tempos de questionamentos intensos e reordenamentos importantes em nossa sociedade, e consideramos necessário debater as ideias mais atuais, como forma de realinhar propósitos e ações, tanto no âmbito do poder público quanto no do segundo e terceiro setores”, acredita Dora.


*Rodrigo Zavala é editor de Conteúdo do GIFE.

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