Encontro reafirma compromisso do investimento social na superação da pobreza

Por: GIFE| Notícias| 02/03/2012

Rodrigo Zavala*

O IV Fórum Internacional RedEAmérica terminou na noite do último dia 01 de março, em Campinas (SP), com mais perguntas e desafios sobre o papel do investimento social privado na superação da pobreza e das desigualdades, do que, propriamente, com respostas às aflições relacionadas ao trabalho das cerca de 180 liderança de institutos, fundações e empresas latino-americanas, que passaram dois dias de intensas atividades discutindo o tema.
Promovido pela RedEAmérica, articulação hemisférica que reúne 70 fundações, institutos e empresas em 11 países, o evento traduziu suas ambições de ser uma oportunidade para produzir reflexões e permitir o conhecimento de experiências do que vem sendo implementado pela região. Nesse contexto, como colocaram os participantes, quanto mais o investimento social se aprofunda nas causas sociais – com sua consequente necessidade de ampliar a qualidade das ações – maiores são os desafios e questionamentos sobre o trabalho.
“Quando iniciamos a rede há 10 anos (comemorados durante o evento), nossos maiores reptos eram avaliação e monitoramento dos projetos. Hoje, os desafios são maiores, macros, que acompanharam a evolução do próprio investimento social”, afirmou o diretor de Aprendizagem da Fundação DIS – Desenvolvimento Institucional para Organizações, da Colômbia. E esses tais desafios deram forma e conteúdo ao temário do evento.
Na conferência principal, realizada na noite do dia 29 de fevereiro, o secretário extraordinário para a Superação da Pobreza Extrema do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Tiago Falcão, fez um panegírico sobre as políticas públicas, com foco no lançamento do programa Brasil Sem Miséria, no ano passado, e a constatação de que 30 milhões de brasileiros superaram essa situação nos últimos anos.
Ao discorrer sobre as oportunidades para os investidores sociais, com foco específico nas empresas, o secretário reafirmou a possibilidade do setor privado estar alinhado com as políticas públicas do governo. No que toca a programas, mencionou sua importância na geração de renda e na qualificação para o mercado de trabalho.
O enfoque de Falcão, no entanto, foi confrontado pelo reconhecido especialista em investimento social privado, Francisco Tancredi. Para ele, o investidor deve ousar e financiar projetos de inovação para que, estes sim, quando tornados tecnologias sociais, passem a ser políticas públicas. “É preciso testar e assumir riscos”, disse.

Discussões
Se a bússola do investimento social aponta para a inovação, as análises postas nos debates trouxeram essa preocupação. Como, por exemplo, na mesa “Redes: uma Oportunidade e um desafio”. Um pouco além de sua importância em potencializar as mudanças que se quer atingir, houve espaço para a preocupação sobre como superar as dificuldades para seu fortalecimento.
Segundo a consultora Célia Schlithler, autora do livro “Redes de Desenvolvimento Comunitário – Iniciativas para Transformação Social”, trabalhar em uma rede social exige um desprendimento de seus participantes, muitos ainda acostumados com formatos mais tradicionais e piramidais em sua forma. Isto é, deve existir um aprendizado – e as redes assim ensinam – sobre o processo horizontalizado de informações e decisões, em confronto ao hierarquizado, em que um ou poucos decidem.
Abre-se então uma questão: como trabalhar em uma rede cujos componentes são acostumados com outra forma de relacionamento? De fato, como atesta Célia, no papel que lhe cabe de facilitadora de processos, trata-se de um aprendizado que todos podem passar – com inerente complexidade. Porém, como trabalhar horizontalmente quando é a organização (esta, hierárquica) o componente da rede, na qual colaboradores se revezam nessa tarefa? Não se cria o vínculo, imprescindível para o resultado?
Outro exemplo vem da mesa Incidência em políticas públicas, um caminho?. Para a diretora-executiva da RedEAmérica, que compôs o time de convidados, este é um dos temas mais desafiadores para os investidores sociais.
Segundo os palestrantes da mesa, trata-se, aqui, de um processo político. Não é papel da fundação ou instituto incidir, mas gerar o alcance. Em outras palavras, o investidor social deveria ampliar os espaços e fortalecer movimentos sociais para, estes sim, terem voz na concepção e implantação de políticas públicas. O contrário poderia gerar conflitos entre o interesse público e privado na atuação política de uma organização empresarial.
As discussões sobre inclusão econômica, eixo temático da terceira mesa, também levaram a reflexões por parte dos participantes. É possível trabalhar a extrema pobreza sem ter foco também na extrema riqueza? A provocação não passou despercebida pelo público.

Embora não tenha sido palestrante da mesa, o superintendente do Instituto Camargo Corrêa, Rogério Arns Neumann, foi enfático ao dizer que renda não é suficiente para tirar as pessoas da miséria. “O que é superação de pobreza? Todo mundo entende da mesma forma? Não se trata de dinheiro no bolso, mas o investimento que se faz com ele”, argumentou.

Na visão de Neumann, é preciso ter em mente, na concepção dos programas, que a renda deve alavancar o desenvolvimento da pessoa que a recebe. Só assim ela pode fechar o ciclo contínuo de pobreza, em que a próxima geração será ainda mais distante da condição original.
Fundações corporativas
Na quarta e última mesa do dia, Empresa, Fundação e Comunidade: Uma Visão compartilhada de desenvolvimento?, Rodrigo Villar analisou os desafios de fundações e institutos corporativos, nos últimos anos, no que se refere à inter-relação entre investimento social e Responsabilidade Social Empresarial (RSE).
Consideradas a “”inteligência social das empresas””, essas organizações passaram a incorporar novas responsabilidades trazidas por suas mantenedoras, que vêem nelas a possibilidade impulsionar uma gestão corporativa comprometida com a ética, tal como serem facilitadoras de diálogos entre o setor privado e a sociedade. “Mas essa tendência está realmente aumentando o impacto na comunidade?”, questionou.
No fechamento do Fórum, o vice-presidente de Programas da Fundação Interamericana (EUA), Stephen Cox, ao lembrar a importância dos estudos empíricos para a solução dos problemas (usando a epidemia de cólera na Inglaterra na década de 1830 como ilustração), afirmou: “o que importa são as perguntas”.


*Rodrigo Zavala é editor de Conteúdo do GIFE

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