Ensino fundamental é foco de investimento social privado
Por: GIFE| Notícias| 11/12/2006Rodrigo Zavala
Os investimentos em educação realizados pelos institutos, fundações e empresas associadas ao GIFE estão focados em crianças e jovens dos ensinos fundamental e médio (7 a 24 anos) da rede pública de ensino. Nesse sentido, as linhas de ação prioritárias se voltam para a capacitação dos professores, oficinas de arte-educação e complementação escolar.
As conclusões fazem parte do Censo GIFE Educação 2005 – 2006, apresentado no último dia 5 de dezembro, que traça um mapa sobre o destino dos recursos aplicados na área pela Rede. Patrocinada pelo Instituto Unibanco e sob a responsabilidade técnica de Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), a publicação buscou analisar as múltiplas dimensões da atuação de empresas na melhoria da qualidade do ensino.
A importância das informações se dá no volume dos investimentos realizados pelos associados ao GIFE, que, no ano passado, chegou a aproximadamente 1 bilhão de reais. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o setor privado destina cerca 4,7 bilhões para a área de social. “”A Rede GIFE é responsável por mais de 20% de todo os recursos de origem privada encaminhados ao bem público no país””, argumentou o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti.
O fato de esse montante ser prioritariamente voltado para a educação, mais precisamente para estudantes jovens de escola pública e para seus professores, levou a uma necessidade de demonstrar como esse dinheiro é gasto. “”O Censo objetiva identificar quem investe, quanto e onde, e que sua divulgação facilite parcerias ou que mostre áreas que são importantes, mas que recebem pouco interesse, podendo se tornar oportunidades interessantes de apoio””, esclareceu o presidente do Instituto Unibanco, Tomas Zinner, durante o lançamento.
Segundo o levantamento, a cobertura dos investimentos em ensino é ampla, abarcando desde a população infantil até a alfabetização dos adultos e permite diversos tipos de atuação, incluindo atividades educativas propriamente ditas, atividades complementares e apoio a pessoas, instituições e sistemas escolares. Em todas essas áreas de atuação, os associados ao GIFE beneficiam, diretamente e indiretamente, 2 milhões de pessoas.
“”O diagnóstico de que, dentre esses segmentos, a prioridade seja o ensino fundamental, reflete, na verdade, um movimento que começou há duas décadas. A Constituição de 1988 focava essa área, tal como o governo de Fernando Henrique Cardoso””, explicou Fernando Rossetti.
Não é só dinheiro – No ranking das ações, a capacitação de professores aparece como prioridades para 74% dos associados questionados (55 ao total), seguido por oficinas de arte educação, 54%, e complementação/reforço escolar, 50%. Por outro lado, o grupo preferencial das ações educacionais se destacam ensino fundamental (7 a 14 anos), 94%, ensino médio (15 a 17 anos), 83%, e ensino infantil (3 a 6 anos), 43%.
“”É provável que a preferência pela ação direta, capacitando professores e preparando estudantes, em vez de simples doações de equipamentos e recursos, reflita a percepção, por parte dos associados, de os problemas da educação não se limita à falta de recursos, e que os recursos adicionais nem sempre produzem resultados positivos esperados””, conclui o presidente do Iets, Simon Schwartzman, no livro.
Rossetti coloca a questão como polêmica, principalmente entre docentes. “”O que se percebe nos projetos investimento social privado é que existem escolas com bons resultados, mas a variável recurso não faz uma diferença tão importante. Isso pode ser percebido quando duas escolas com as mesmas condições financeiras e na mesma região mostram diferentes resultados educativos””, refletiu.
No entanto, o secretário-geral do GIFE, ao comentar os dados, afirmou que ainda é preciso ampliar mais o espectro dos níveis educacionais beneficiados pelos investimentos . Segundo ele, embora seja positivo que a juventude seja o foco, creches e pré-escolas também são áreas estratégicas para o investimento social, tal como o ensino técnico, “”prioridade dos anos 70″”, que na lista aparece em nono lugar (17%)
Para superintendente-executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel, essa é uma questão complexa e se torna um desafio para projetos, sejam públicos, sejam privados. Ex-ministra de Assistência Social do governo Fernando Henrique Cardoso, Wanda questiona qual das faixas etárias deve ser vista como prioritária.
“”É uma questão política. Estudos apontam que, se você investe em dações para crianças de 0 a 3 ou de 4 a 6, você economiza até 17 vezes o que gastaria com ele no futuro. No entanto, existem problemas gigantescos com os jovens de 15 a 17 anos, que deveriam estar no ensino médio. Dos 10 milhões de jovens com essa idade, um milhão está no ensino fundamental, 4 milhões estão no médio e cinco milhões estão fora da escola””, argumentou durante o lançamento do Censo.
Na visão de Wanda, todos parecem ter as melhores soluções, mas quem decide as políticas públicas deve escolher um segmento. “”O problema é que invariavelmente ele escolhe um segmento ou outro por pressão política, lobby ou mesmo porque um deputado pediu. Isso ocorre principalmente no interior””, criticou.
Recomendações – As conclusões do Censo também apontam para uma dificuldade em avaliar os impactos das ações desenvolvidas em educação. Segundo opresidente do Instituto Unibanco, Tomas Zinner, ainda não há sistemas regulares e eficientes de análise. “”Essa talvez seja uma das mais importantes percepções da pesquisa, já que nos leva a repensar modelos e estratégias para assegurar a consolidação de nossas metas comuns””, afirmou.
O professor da Fundação Getúlio Vargas, Fernando Abrucio, disse durante o evento que o Censo é, na verdade, um primeiro passo. “”É uma pesquisa de produto e não de impacto, pois não há uma análise sobre a efetividade dessas atividades. No entanto, as pesquisas de produtos são fundamentais para realizar as de impacto””.
Ele, no entanto, adverte para que o GIFE e seus associados não cometam os mesmos erros “”comuns”” quando se fala de análise de impactos. “”Se nós quisermos melhorar, é preciso criar diagnósticos intersetoriais, que agrupe diferentes áreas (saúde, educação, etc) para um trabalho socialmente orgânico. Falar que o problema é unicamente a educação é um engodo””, criticou.
A coordenadora de programas da ONG Ação Educativa, Vera Masagão, fez coro a Abrucio quando argumentou sobre a necessidade de se ter uma visão sistêmica de educação. “”Uma ação sistemática deve saber representar o ator social, quem ele é. Para entender o que eles precisam e o que eles acham que precisam””, acredita.
O trabalho comunitário do setor privado deve também ter esse viés orgânico na gestão de seus projetos. A especialista dá como exemplo a juventude, cujas necessidades vão além do que se oferece na escola. Para ela, a questão da educação do jovem também tem um foco prioritário em sua inserção no mundo produtivo.
“”As ações devem definir qual o sentido para alongar a escolaridade? O jovem de baixa renda não percebe porquê passar todo o ensino médio, já que não vê viabilidade para universidade. A classe média agüenta, ao contrário, pois sabe que é um meio para o ensino superior e um salário melhor””.
Nesse sentido, Vera vê certa responsabilidade dos associados GIFE em promover a inserção dos jovens no mercado de trabalho. “”Por isso estranho a pouca atenção dos associados com o ensino técnico, por exemplo, que é hoje uma grande contradição, pois é elitizado.””
Censo – O Censo GIFE Educação 2005 – 2006 faz parte do Censo GIFE 2005-2006, apresentado em maio deste ano, durante o 4° Congresso sobre Investimento Social Privado, realizado em Curitiba. O levantamento revelou que em 2005 o grupo atendeu a mais de 5 milhões de pessoas, por meio 2.210 projetos sociais, culturais e ambientais.
Conheça os resultados do Censo GIFE Educação