Entrevista: Ana Carolina Velasco
Por: GIFE| Notícias| 10/09/2010*Clipping
Investimento Social Privado é “o uso planejado, monitorado e voluntário de recursos privados, provenientes de pessoas físicas ou jurídicas, em projetos sociais de interesse público” (GIFE). O movimento de Investimento Social Privado, no Brasil, é recente e, por isso, as empresas ainda estão em fase de aprendizagem.
Claro que há algumas exceções, mas ainda são raras as empresas que realizam um investimento social com foco bem definido. Este deve, portanto, ser o primeiro passo para uma empresa que vise iniciar investimentos em benefício da sociedade. Ao definir uma única área para investimentos, a empresa consegue ter mais clareza sobre o problema, formar parcerias mais interessantes, mensurar melhor os desafios e os resultados a serem alcançados.
Como o investimento social privado é uma forma de ajudar a solucionar problemas relevantes para a sociedade, ele pode ter um papel importante como facilitador da relação entre a empresa e a comunidade de entorno ou entre a empresa e grupos de interesse que afetam e são afetados pelos seus negócios.
Neste sentido, o investimento social privado costuma representar uma relação ganha-ganha, já que quanto maiores os benefícios para a comunidade, maiores são, também, os benefícios para a empresa: ao otimizar a qualidade de vida da comunidade do entorno, por exemplo, a empresa também está melhorando a qualidade do ambiente em que está inserida.
Outra forma de realizar o ISP é por meio de patrocínios a ações culturais e /ou esportivas. Estas têm um escopo mais abrangente, no sentido de que podem interessar a um público mais abrangente e que os benefícios não são tão localizados (geograficamente falando). Nestes casos, ao promover uma ação, a empresa cria oportunidades de disseminação de temas de importância cultural ou dá oportunidades para atletas que possam representar sua região e, ao mesmo tempo, agrega visibilidade à sua marca.
Em ambos os casos, a decisão de investimento deve ser tomada levando aliando a estratégia da empresa às necessidades das comunidades de entorno ou da sociedade como um todo, gerando resultados para a causa escolhida e para o negócio da empresa.
Independente da vertente do ISP escolhida, o importante é que tenha caráter transformador da sociedade, pois assim será sustentável.
Ana Carolina Velasco, Gerente de Relacionamento do GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas), responsável pela associação de novos associados e relacionamento com a Rede, conta um pouco mais sobre a atuação do GIFE e sobre Investimento Social Privado. ]
Apoena – O que é o GIFE? O que vocês realizam?
Ana Carolina – O GIFE é uma associação sem fins lucrativos que reúne organizações de origem empresarial, familiar, independente e comunitária, que investe em projetos com finalidade pública.
Trata-se atualmente de uma rede de 131 associados no Brasil que investem cerca de R$ 2 bilhões e, para exemplificar essa diversidade de investidores, pode-se citar: Natura ou Instituto Votorantim (investidores empresariais), Fundação Tide Setúbal (investidor familiar), Fundação Ford (independente) e Fundação Semear (comunitária).
O GIFE começou e se mantém com o objetivo de se constituir como um espaço de relacionamento e conhecimento entre investidores sociais privados.
De forma prática, promovemos encontros de articulação da Rede, em que os associados se reúnem para promover a troca de informações, articulação política e implantação de ações conjuntas, em áreas temáticas diversas, como educação, juventude, cultura, esporte, desenvolvimento comunitário etc. Nesse sentido, as ações dos encontros também buscam influenciar a implantação de políticas públicas, promovendo o debate sobre as proposições mais relevantes para setor.
Como sua missão é aperfeiçoar e difundir conceitos e práticas do uso de recursos privados para o desenvolvimento do bem comum, o GIFE também organiza cursos, publicações, conteúdo editorial, congressos e outros eventos para o público em geral.
Ana Carolina – O GIFE considera Investimento Social Privado (ISP) como o repasse voluntário de recursos privados de forma planejada, monitorada e sistemática para projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público. Incluem-se neste universo as ações sociais protagonizadas por empresas, fundações e institutos de origem empresarial ou instituídos por famílias, comunidades ou indivíduos.
Ana Carolina – Considerando os três pilares da sustentabilidade: econômico, ambiental e social, o ISP possui um importante papel na atuação da empresa com a sociedade. Por meio de seus institutos, fundações ou mesmo departamentos internos de gestão social, as empresas passam a ter uma unidade de inteligência social, muito importante na relação da empresa com diferentes públicos de interesse, em especial com a comunidade da qual faz parte, contribuindo para a sustentabilidade e sociedade mais justa.
Ana Carolina – A principal vantagem é a contribuição para uma sociedade mais justa e sustentável: a questão com a qual a organização está trabalhando melhora, a comunidade melhora, a relação da empresa com a sociedade melhora e sua imagem fica mais valorizada.
Realizar Investimento Social Privado implica em desafios, como todas as áreas de uma empresa ou organização. Nesse cenário, o grande risco é definir um foco de atuação, um programa, sem realizar diagnósticos sobre a área que deseja atuar, sem conhecer as demandas do público a ser beneficiado e com uma equipe pouco qualificada para desenvolver e acompanhar os projetos. Quando a atuação é amadora, todos perdem: a empresa, que vê sua imagem arranhada e desperdiça dinheiro e o público-alvo, que perde tempo com ações sem resultado.
Apoena – As empresas também investem em patrocínios e doações, este tipo de ação, quando realizada de forma pontual, também pode ser considerada um Investimento Social Privado?
Ana Carolina – Invariavelmente os resultados são tangíveis. Projetos voltados para a diminuição da mortalidade infantil, aumento da escolaridade, inserção de jovens no mercado de trabalho ou a geração de renda podem ser mais facilmente mensurados. No entanto, dependendo da especificidade de alguns projetos, sua avaliação torna-se mais complexa. Esse é o caso de programas que buscam melhorar a autoestima de crianças, educação para a cidadania, estimular uma postura crítica no jovem, etc.