Entrevista: “Apesar de experientes, captadores de recursos ainda são mal remunerados”

Por: GIFE| Notícias| 28/06/2013

É o que diz o presidente da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), João Paulo Vergueiro, a partir dos resultados da pesquisa Censo ABCR, que abordou cerca de 140 profissionais associados à organização.

De acordo com o levantamento, cerca de 40% dos entrevistados informaram ganhar menos de R$2.000 por mês e 35% disseram ter o rendimento mensal entre R$2.000 e R$5.000. Alguns profissionais recebem unicamente a partir do percentual do que é captado, representando 20% da amostra. Outro dado relevante é que 17% são voluntários, sem vínculo formal com a organização.

O redeGIFE entrevistou Vergueiro para saber um pouco mais sobre a realidade desses profissionais e as formas com que atuam nas (ou para as) organizações da sociedade civil para garantir a sustentabilidade financeira das mesmas.

redeGIFE- Afinal, qual é o perfil do profissional de captação de recursos no Brasil?
João Paulo Vergueiro –
O Censo mostrou que esse profissional, no geral, tem boa formação escolar, com pelo menos a graduação completa. Muitos têm formação em administração (40%), o que não é de surpreender, uma vez que a captação de recursos é uma atividade bastante ligada à gestão.

Os captadores também têm conhecimento de outros idiomas, principalmente espanhol ou inglês, o que foi uma boa novidade, e atuam na área há bastante tempo, pelo menos cinco anos, majoritariamente. Mas, apesar de experientes, os captadores ainda são mal remunerados.

Ainda há muito o que se fazer. Há bastante carência dentre os profissionais de mais conhecimento técnico sobre a área, sendo que muito do que se desenvolve é aprendido na prática, no dia-a-dia, e não a partir de cursos, estudos de casos de sucesso ou de referências científicas.

redeGIFE – Qual é o nível de importância do profissional nas organizações em que atuam?
João Paulo Vergueiro – Em relação à percepção da importância do profissional de captação de recursos como um cargo estratégico à organização, ainda não há uma valorização do papel do captador tendo em vista que ele muitas vezes é responsável pela sustentabilidade econômica da entidade. O Censo ABCR levantou que 22% dos profissionais são contratados como autônomos, 30% como consultores e 17% são captadores voluntários. Ainda não se valoriza a profissão como ela deveria ser de fato valorizada nas organizações da sociedade civil, como a que atua para garantir as receitas, a entrada de recursos via doações.

Por sua importância, a captação de recursos é uma atividade que deve ser realizada a partir da própria organização, com estratégia e equipe próprias, compartilhando valores e crenças da organização que faz parte. No Brasil, este modelo vem se desenvolvendo, seja a partir do crescimento das organizações que começam a estruturar suas áreas de mobilização de recursos profissionalizadas ou com a chegada de organizações internacionais que já utilizam esse modelo como padrão.

Com relação ao tempo dedicado à atividade de captação, 27% dos entrevistados informou trabalhar oito horas por dia só com isso, o que significa dedicação exclusiva do profissional.

redeGIFE – Como a ABCR estimula essa boa prática de trabalho do captador de recursos?
João Paulo Vergueiro – A ABCR estimula a boa prática para o profissional de captação de várias maneiras. A principal é disseminando o Código de Ética e Conduta Profissional do Captador, um documento estabelecido no Brasil há 13 anos que apresenta as melhores práticas de atuação do profissional, baseado em critérios seguidos no mundo inteiro no que é chamado de fundraising.

Mais recentemente, a partir de 2009, passamos também a investir em eventos, com a realização do Festival ABCR – FLAC, no qual capacitamos os profissionais no que há de mais moderno em mobilização de recursos.

Também reforçamos nossa atuação politica em defesa da profissão e da atuação ética do profissional, participando com ênfase de debates sobre o marco regulatório da sociedade civil e outros fóruns de discussão sobre o terceiro setor e a sociedade.

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