Entrevista: Cerca de R$500 milhões estão disponíveis para investimento em negócios de impacto no país
Por: GIFE| Notícias| 15/07/2013A fim de ampliar o campo de atuação de investidores e criar novas oportunidades de geração de impacto, os negócios sociais têm sido identificados como uma das fronteiras do investimento social privado. Porém, a construção deste campo demanda investimento e comprometimento, especialmente de indivíduos e instituições com capacidade financeira para apoiar o desenvolvimento na área. Afinal, embora eles se diferenciem da filantropia ao pressupor retorno financeiro, são distintos aos negócios mais tradicionais ao capitalizar o lucro inteiramente à causa.
O diretor da Artemisia, organização pioneira e referência em negócios sociais no Brasil, Renato Kiyama, fala ao redeGIFE quais são os principais desafios nesta área. Ele afirma que o cenário é favorável para a atuação nos negócios sociais, existindo cerca de R$ 500 milhões de reais disponíveis para empreendimentos com impacto social no país. Confira a entrevista.
redeGIFE:Como um empreendimento pode produzir resultados financeiros e sociais?
Kiyama: A Princípio, todo negócio produz resultados financeiros e sociais, pois paga impostos, gera empregos, etc. Entretanto, existem empreendimentos que nascem com o propósito explicito de resolver um problema social ao mesmo tempo em que gera valor econômico. São os negócios de impacto social ou negócios sociais. Estes negócios devem cumprir, no mínimo, 2 critérios:
1. Oferecer um produto ou serviço que diretamente resolve um problema social. Por exemplo, uma das empresas aceleradas pela Artemisia oferece reformas completas (material, mão-de-obra e crédito) a baixo-custo para pessoas que moram em favelas. Chama-se Vivenda. O grande problema aqui está relacionado à qualidade habitacional. Muitas das casas sofrem com a falta de ventilação (casas sem janelas), luminosidade e umidade, que causam sérios problemas respiratórios principalmente em crianças e idosos. Já a falta de acesso a credito faz com que as pessoas realizem reformas eternas, pois compram um saco de cimento com o dinheiro que sobra do mês, no próximo mês compram outro, depois vem a chuva e estraga tudo. O gasto total no fim das contas é muito maior.
2. Possuir um modelo de negócio escalável. O modelo de negócio da Vivenda é atuar com pequenos escritórios locais nas comunidades. Cada escritório possui uma equipe padrão de venda, assistência técnica e operação. As reformas são vendidas em 4 opções de “kits”. O kit banheiro, o kit anti-umidade, o kit revestimento e o kit janela. Cada kit possui um valor entre 1.5 mil a 4mil reais e a pessoa pode parcelar em até 12 vezes.
redeGIFE: Quais são os instrumentos para medir sucesso em ambas as dimensões?
Kiyama: Medir sucesso financeiro é fácil. Basta verificar se houve lucro ou não. Já os resultados sociais são mais complexos. Hoje, existem duas ferramentas para os negócios sociais medirem seu impacto. O IRIS e o GIIRS.
O IRIS (Impact Reporting and Investment Standards) é uma biblioteca de indicadores sociais padronizados que permitem a produção de reportes de impacto social e ambiental com uma linguagem comum. Ou seja, o indicador “acesso a credito” possui o mesmo significado para duas empresas diferentes mesmo se estiverem em países diferentes.
Já o GIIRS (Global Impact Investment Rating Sistem) é sistema de avaliação do impacto social e ambiental gerado por um negócio. Utiliza os indicadores do IRIS como base de análise, audita a veracidade dos dados reportados nos indicadores e ranqueia a empresa de acordo com uma comparação de empresas atuantes no mesmo setor.
redeGIFE: É possível que o Governo, organizações sociais e empresas trabalhem conjuntamente em um negócio social?
Kiyama: Não só é possível como extremamente necessário. O setor dos negócios sociais é muito jovem no Brasil. Somente o diálogo e a articulação entre empresas, organizações sociais e governo é que conseguiremos de fato avançar. O que temos percebido hoje é que essa articulação já está acontecendo. Muitos negócios sociais estão vendendo seus produtos e serviços para o governo. E muitas organizações sociais estão vendo negócios sociais como uma alternativa a mais de financiamento de suas operações.
redeGIFE: Há um cenário favorável aos investimentos de impacto no Brasil?
Kiyama: A Artemisia foi fundada em 2004 no Brasil. Daquela época para hoje verificamos uma evolução surpreendente no setor dos negócios sociais e investimento de impacto no país. Há 3 anos atrás, existia apenas 1 fundo de investimento de impacto, hoje, já são 10 fundos. Fora o crescente número de investidores de impacto internacionais que abordam a Artemisia interessados em atuar no Brasil. Poderia calcular que existem atualmente entre 300 milhões e 500 milhões de reais disponíveis para investimento em negócios de impacto social no país.
Renato Kiyama é consultor do GIFE no curso Ferramentas de Gestão. O módulo “Investimento de impacto e Empreendedorismo” está com inscrições abertas para a edição que acontece no dia 08 de agosto, em São Paulo. Saiba mais aqui.