Entrevista: Falta de visão é a principal causa de dificuldades financeiras para organizações sociais

Por: GIFE| Notícias| 06/09/2013

Na próxima semana, o GIFE realizará mais um módulo da edição 2013 do curso Ferramentas de Gestão. Nos dias 19 e 20 de setembro, serão abordados os temas administração e finanças para organizações do terceiro setor.

O conteúdo estará a cargo de Eleno Paes Gonçalves Junior. Formado em administração de empresas pela EAESP/FGV (1999) e especializado em Gestão de Iniciativas Sociais pela UFRJ (2002), ele atuou como superintendente adjunto de operações do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2011-2013).
À redeGIFE o consultor falou sobre o tema e adiantou um pouco sobre o conteúdo do curso. Veja a entrevista.
redeGife: Na sua opinião, atualmente, quais são os maiores desafios enfrentados na administração de organizações sociais?
Gonçalves Jr: Os cinco principais, na minha opinião, são: ter uma boa governança, viabilizar sua sustentabilidade financeira, enfrentar a crescente pressão tributária por parte dos governos, lidar de forma ética com a competição por recursos e atingir um grau de profissionalismo maior.
redeGife: Quais são as principais dificuldades encontradas por organizações do terceiro setor no que diz respeito às finanças?
Gonçalves Jr: As dificuldades são bastante variadas, pois dependem do posicionamento da organização e de sua estratégia financeira. Mas eu apontaria a falta de visão como a principal causa para as dificuldades. As organizações com perfil de investidor social privado, que dispõem de um fundo patrimonial ou que possuem uma empresa mantenedora, por exemplo, têm o desafio de maximizar o retorno do capital investido e o rendimento das aplicações dos recursos. Mas elas raramente apresentam dificuldades financeiras. Já as organizações sociais prestadoras de serviço ou gestoras de projetos, as chamadas ONGs, têm desafios financeiros muito mais urgentes, ligados à gestão de fluxo de caixa, nível de endividamento e capacidade de investimento.
Uma ONG que vive de captação de recursos tem muitas dificuldades para constituir fundos de reservas ou de investimento. A maior parte dos financiadores, principalmente o governo, aceita apenas “”cobrir os custos”” dos projetos. Eles deveriam compreender que, para que um bom projeto exista, a organização fez investimentos que precisam ser de alguma maneira repostos. Mas essa visão é muitas vezes reforçada pelos próprios gestores das organizações, que ainda entendem a expressão “sem fins lucrativos” como se fosse “com fins deficitários” e elaboram orçamentos que igualam receitas e despesas. Toda ONG que deseja ser sustentável precisa apresentar superávits anuais de, no mínimo, 5%. Essa é uma condição básica para que a organização tenha reservas de emergência, para que possa fazer investimentos em capacitação e infraestrutura e para que possa assumir todas suas obrigações trabalhistas.
redeGife: Como a governança impacta a saúde financeira da organização?
Gonçalves Jr: A meu ver, a governança é importante para três coisas fundamentais. Em primeiro lugar, definir o posicionamento, isso é, qual o perfil predominante da organização do ponto de vista financeiro: investidor social privado, organização captadora de recursos para seus projetos, organização que desenvolve projetos para editais ou organização prestadora de serviços especializados.
Em seguida, o conselho precisa definir sua estratégia financeira, estabelecendo objetivos de médio e longo prazo para os principais indicadores financeiros: patrimônio líquido, endividamento, liquidez, entre outros.
Por fim, ele define os limites anuais nos quais o gestor deverá enquadrar sua proposta de orçamento plurianual, que deve mostrar o caminho para que a organização atinja os objetivos definidos no segundo passo.
redeGIFE: Quais os principais conflitos de interesse que o setor financeiro dessas organizações pode encontrar?
Gonçalves Jr: Os conflitos de interesse existem em todos os setores e estamos todos sujeitos a eles. O que a organização precisa é saber lidar com os conflitos e tratá-los de forma adequada. Para isso, os sistemas de controle que dividem responsabilidades e segregam funções na área financeira são fundamentais.
redeGIFE: Quais ferramentas práticas pretende abordar em seu curso?
Gonçalves Jr: No curso, primeiramente compartilhamos nossa visão de como as ONGs devem se posicionar e definir sua estratégia financeira. Em seguida, trabalhamos algumas ferramentas úteis, tais como planejamento por centros de resultado, orçamento de pessoal, precificação de projetos, revisão orçamentária, relatórios periódicos, modelos de orçamento de projetos, políticas de viagens, gestão de agenda, tipos e usos de indicadores, entre outras.
Serviço
Módulo 7 – Administração e Finanças para Organizações do Terceiro Setor
Data: 19 e 20 de setembro
Carga horária: 16h
Horário: quinta-feira e sexta-feira, das 9h às 18h
Local: Instituto Itaú Cultural – Av. Paulista, 149 – Jd. Paulista – São Paulo (SP)

Associe-se!

Participe de um ambiente qualificado de articulação, aprendizado e construção de parcerias.

Apoio institucional