“A gente é um país com uma cultura pouco cidadã”, afirma José Luiz Egydio Setúbal
Por: GIFE| Notícias| 30/09/2024Em entrevista ao Podcast GIFE, José Luiz Egydio Setúbal, criador da Fundação que leva o seu próprio nome, falou sobre os desafios para que a filantropia brasileira amplie seu potencial investidor em prol das organizações que atuam contra as injustiças sociais
A filantropia desenvolve papel fundamental no combate às injustiças sociais através do direcionamento de recursos para áreas, como a educação, cultura e saúde. No Brasil, essa tem sido uma medida importante, no entanto o setor ainda não explora amplamente seu potencial. É o que avalia José Luiz Egydio Setúbal, médico pediatra e presidente da Fundação José Luiz Egydio Setúbal. “A gente é um país com uma cultura pouco cidadã.”
As falas proferidas por José Luiz foram feitas durante o 18º episódio da temporada “Conversa com quem doa” da série Grantmaking, feita pelo GIFE. O programa entrevista filantropas e filantropos em um diálogo sobre atuação, reflexões e desafios do setor. Referência filantrópica no comprometimento com a saúde infantojuvenil no Brasil, a Fundação José Luiz Egydio Setúbal foi criada em 2005 e desde então vem realizando trabalhos relevantes que têm se expandido para outras regiões, como Norte e Nordeste, onde os índices de acesso à saúde são precários.
“No Brasil, há a desigualdade que impulsiona uma série de outros problemas, não apenas financeira, mas também de educação, econômica, traduz uma desigualdade étnica racial, regional e isso vai se perpetuando”, avalia o fundador. “A filantropia tem um papel nisso que é importante mas muito limitado com a capacidade de colocar recursos que ela tem”, completa.
Limitação que se projeta através dos dados apresentados pela Oxfam e a pesquisa Desigualdade SA, lançada em janeiro deste ano. O levantamento aponta que 4 dos 5 bilionários brasileiros mais ricos tiveram um aumento de 51% em suas riquezas desde 2020, em detrimento dos 129 milhões de brasileiros, que ficaram mais pobres.
“Acho que o grande apelo da filantropia estaria em as pessoas terem consciência, principalmente as mais privilegiadas, de que não cabe só ao governo resolver os problemas do nosso país. Isso porque elas têm o dever de colaborar com a solução, seja com doação de dinheiro, tempo ou expertise como voluntário em alguma organização”, opina José Luiz Egydio Setúbal, que atrela a esse processo a necessidade de uma mudança cultural, que conduza o país por caminhos de amplo comprometimento cidadão.
“Para conscientizar as pessoas temos que mudar nossa cultura, nos tornarmos mais cidadãos. Eu acho que isso nas classes menos privilegiadas acontece mais, [são pessoas] mais solidárias, participativas, seja por uma questão religiosa ou de sobrevivência”, finaliza.