Entrevista – Vikki Spruill

Por: GIFE| Notícias| 26/06/2013

“Acho que nosso maior valor para nossos membros é defender o papel da filantropia como um setor único e catalítico em nosso país e no mundo”.

Em tempos difíceis, as adesões e assinaturas geralmente são as primeiras coisas a serem cortadas. O Council on Foundations por exemplo, viu o número de membros cair de 2.000 em 2007 para cerca de 1.700. Agora emprega 47 pessoas, em comparação às quase 65 há 18 meses, e 105 antes da recessão. No entanto, como Vikki Spruill – que virou presidente e CEO do Council on Foundations em julho de 2012 – explica à Alliance, esse números de emprego sinalização mais uma reorganização do que um recuo.

Em uma entrevista em dezembro passado, você disse: “a diretoria me trouxe com um mandato de mudança”. Que tipo de mudança?

No antigo modelo de associações com filiação por adesão, os membros pagavam taxas em troca de serviços, informações sobre temas específicos e uma oportunidade de se conectar com outros membros. Agora que a internet disponibilizou informações e até mesmo a formação de redes gratuitamente, todas as associações com filiação por adesão devem reavaliar sua abordagem. Eu passei grande parte dos últimos oito meses conversando com os membros do Council on Foundations, outros financiadores e líderes filantrópicos para entender melhor as necessidades deles.

Historicamente, o Council on Foundations tem sido organizado por tipo de fundação. Nós apoiamos um grupo de filantropia familiar, um grupo de filantropia comunitária, um grupo de doadores corporativos e assim por diante. Os grupos funcionavam de forma muito independente uns dos outros. Mas os membros disseram que queriam oportunidades de se conectar com outras fundações além daquelas de seu tipo. Uma fundação comunitária, por exemplo, teria como se conectar com outras em sua área, mas não terá como se conectar com as fundações privadas ou familiares que trabalhassem com questões afins. Como uma associação com filiação por adesão nacional para o setor filantrópico, achamos que nosso maior bem é a criação de possibilidades para que os membros façam isso.

No entanto, percebemos que não estávamos estruturados para isso. Então, re-estruturamos a organização. Precisamos de uma perspectiva diferente e de uma significativa mudança na cultura. Desde o início deste ano temos contratado novos funcionários e mobilizado a equipe existente para a nova direção. Para que nossos funcionários entendam mais claramente as preocupações e os objetivos dos membros, colocaremos pessoas em diferentes partes dos Estados Unidos. Esses funcionários ajudarão os membros do Council on Foundations nessas áreas. Em outras palavras, eles serão responsáveis por administrar o relacionamento com eles. Eles ouvirão os membros e identificarão as tendências e traços comuns e o que aprenderem servirá de base para nossos programas e serviços. Esses serviços nós somos os únicos aptos a prestar. São coisas como nosso trabalho sobre a política pública nacional dos EUA, serviços legais, desenvolvimento profissional em nível de executivo, estrela em ascensão e diretoria, nosso portfólio de pesquisa e, é claro, nossa capacidade de convocar. Não só grandes conferências, mas formas mais ágeis e inovadoras de conectar as pessoas em questões como diálogos moderados. Nós ofereceremos esse conjunto principal de serviços e, depois, faremos parcerias com outras organizações mais capazes do que nós para prestar outros serviços.

Em sua mensagem aos membros do Council on Foundations, chamada “Uma Nova Visão para o Council”, você diz: “O novo modelo do Council on Foundation funcionará como o foco da maior e mais conectada rede filantrópica do mundo”. É um objetivo ambicioso – como você vai realizá-lo?

Em primeiro lugar, preciso deixar claro que o Council on Foundations é um foco. Nós temos organizações colegas, globais e nacionais, e se você pensar como as redes funcionam, não há o foco. É uma questão de formação de rede entre os membros, mas também com a academia, o governo, as empresas e outras organizações filantrópicas. O campo de infraestrutura filantrópica é densamente povoado e cada um de seus grupos – grupos de afinidade, associações regionais, associações de associações – oferece um conjunto único de serviços aos membros. Precisamos ser muito mais do que um foco em um mundo em rede quando se trata de informação de fonte aberta, e criação de parcerias e alianças. Isso é essencial.

No final do ano passado você eliminou alguns cargos no Council on Foundations que, segundo você, “não dão suporte a seu novo modelo” e você pretende criar novos cargos que deem esse suporte. Você podia falar um pouco mais sobre isso?

Nosso modelo antigo tinha muito a ver com implantação e execução; nosso novo modelo tem muito mais a ver com parceria e relacionamentos. Então, vários dos novos cargos se concentrarão em construir e fortalecer conexões dentro das redes, com nossas organizações colegas, para desenvolver novas formas de liderar, compartilhar, servir e funcionar.

A filantropia também está muito mais diversa, com doadores de alto valor, investidores de impacto, fundos assessorados por doadores. Você prevê que o Council on Foundations amplie sua composição para incluir esses grupos?

Atualmente nossa missão gira ao redor da filantropia organizada, mas estamos em constante evolução e analisaremos essas questões em um futuro próximo. O Council on Foundations deve desenvolver parcerias mais fortes com organizações e líderes além da filantropia organizada. E nós já começamos a fazer isso.

Você vê o Council on Foundations se tornando uma organização mais global? Você imagina ter funcionários do Council em outros lugares?

Nosso foco tem sido ajudar as fundações dos EUA a serem doadoras globais mais eficientes, mas temos um número crescente de membros no exterior. Se levarmos este modelo de rede a sério, precisamos entender as tendências da filantropia global também. Eu não imagino ter funcionários do Council em outros países, mas penso que vamos estreitar nossas conexões com organizações como o European Foundation Centre, o GIFE, o China Foundation Centre e a WINGS, por exemplo.

Qual o papel do Council on Foundations no apoio a seus membros em um período potencialmente difícil?

Nosso foco principal é manter a política atual sobre o setor de caridade, mais imediatamente a dedução de caridade. Nosso governo está discutindo opções para equilibrar o orçamento e a dedução de caridade se tornou parte da conversa sobre como conseguir isso. Então, temos realmente trabalhado duro para ajudar os formuladores de política e o público a entenderem o papel da filantropia nos EUA e no mundo. Acho que o maior valor que temos para nossos membros é a defesa do papel da filantropia como um setor único e catalítico em nosso país e no mundo.

Você acredita no risco de parecer estar advogando em causa própria, que possa parecer que o Council está defendendo seus membros mais do que defendendo as causas que eles apoiam?

Eu não acho que o setor tenha feito um bom trabalho de descrever o que faz em termos do impacto que ele tem, então estamos tentando mudar a atenção da filantropia como cifrões para a filantropia como impacto na comunidade. Há algumas semanas, o presidente do comitê do Council, Kevin Murphy, testemunhou perante o Comitê de Finanças (House Ways and Means Committee). Ao invés de eu ir como a CEO de um “grupo de interesse especial”, nós pedimos a Kevin, que é de uma fundação comunitária rural, que fosse nosso mensageiro. Ele conseguiu ser convincente sobre o impacto que sua fundação comunitária teve em sua comunidade. Então, precisamos fazer a mudança e podemos liderar esse processo.

O Council on Foundations deve assumir uma posição pública sobre as questões de interesse de seus membros?

Eu faria uma distinção entre as posições sobre o negócio de filantropia e o que eu chamo de questões típicas de preocupação de nossos membros, como a reforma tributária e uma política específica para a filantropia. Então, assumimos uma posição de defesa da dedução de caridade, mas como uma associação nacional de afiliação por adesão que representa vários membros não assumimos posturas específicas em questões de interesse para nossos membros. Ao contrário, somos a força de convocação e os expansores dos debates sobre essas questões. Fica a critério de nossos membros assumirem essas questões depois.

Em sua opinião, quais os principais desafios que o Council on Foundations enfrenta?

Eu acho que o maior desafio é cultural. O mundo está mudando a passos largos. Somos bombardeados com dados todos os dias, e os resultados são medidos a cada hora, e não a cada ano. Isso significa que todos devemos pensar de forma muito diferente sobre o que queremos dizer com planejamento em longo prazo e direção estratégica. Eu acho que nosso maior desafio seja seguir em frente em um campo que talvez tenha tido pouco incentivo ou pressão externa para forçar esse tipo de mudança.

Você quer acrescentar alguma coisa?

O motivo que me faz levantar da cama todos os dias é minha forte crença na contribuição que a filantropia dá à solução dos desafios de nosso mundo. É por isso que isso tudo é tão importante. É por isso que demos estar em mais sintonia com nossos membros, para que possamos aproveitar melhor o imenso trabalho deles e acelerar as mudanças tão necessárias no mundo hoje em dia.

Mais informações disponíveis em:
www.cof.org

Comentário: Gerry Salole*

Ao ler a entrevista de Vikki Spruill eu percebo que há muita coisa parecida aqui na Europa e nos Estados Unidos. Enfrentamos muitos problemas iguais: como uma organização de filiação por adesão continua relevante quando as pessoas estão mais conectadas de todas as formas? Qual o papel de uma organização de filiação por adesão no incentivo a seus membros para que melhorem ou cooperem ou influenciem a política pública? Como você defende este setor privilegiado em tempos de estresse econômico e social? Geralmente as fundações não conseguem explicar de forma simples o que elas fazem. O público não entende o que elas fazem e como elas fazem – na Europa isso ainda é um desafio.

E quando as pessoas conseguem fazer conexões e encontrar parceiros, elas às vezes se sentem muito confortáveis com isso. É necessário desafiá-las a entrarem em diferentes tipos de parcerias e o apetite delas por mudança não é grande. Então surge uma questão que é constante para uma organização de filiação por adesão: manter as pessoas felizes ou desafiá-las? Às vezes você exagera no desafio e perde pessoas; às vezes você não desafia o bastante e as pessoas perdem o interesse.

Mas o que mais me chamou a atenção na entrevista foram as diferenças. Tudo parece tão “alinhado” nos Estados Unidos. Reconheço que é um setor mais desenvolvido e conectado, mas, de alguma forma, eles parecem mais presos às interpretações e aos rótulos: o que são fundações? O que as fundações fazem? O que as organizações de filiação por adesão fazem?

Uma das coisas que o EFC precisa fazer muitas vezes é se reinventar, simplesmente porque o setor está mudando muito rápido. Eu fico quase nervoso em usar a palavra “fundação” hoje em dia, porque há tantos atores envolvidos: instituições híbridas que possuem empresas que são filantrópicas no escopo, responsabilidade social corporativa, filantropia de risco, associações de convocação, fundações operacionais, etc. É um setor muito mais complexo.

Outra coisa que me chamou a atenção foi a forma como o Council on Foudations continua a falar de doações (grantmaking) e doadores (grantmakers), porque o modelo dos EUA basicamente se restringe a isso. Nós temos tantos membros que não são doares e que estão mais interessados na política ou em convocar ou todas as coisas que podem fazer sem fazer doações.

Algumas instituições, como a King Baudouin Foundation (KBF), mantêm fundos de indivíduos, o que é incomum nas fundações tradicionais dos EUA. Por exemplo, a KBF tem seu próprio eleitorado de doadores que dão dinheiro a ela, que participam ativamente, havendo fundos para filantropia de risco dentro da fundação. Cada vez mais pessoas chegam às fundações e dizem “você tem experiência como doador, então eu vou dar o dinheiro e quero que seja usado neste lugar ou para este tema”. A KBF é um exemplo perfeito de fundação híbrida. Ela pode ser vista como uma fundação comunitária e um fundo assessorado por doador. Quando eu fui executivo chefe o EFC pela primeira vez, em 2005, as organizações ecléticas como a KBF eram muito mais raras, mas, com o passar do tempo, elas começaram a surgir com mais frequência.

Para nós o grande desafio é se seremos versáteis o bastante para responder a todas as diferentes necessidades que estão surgindo. Isso quer dizer ter relacionamentos bem próximos com outros órgãos filantrópicos. Além da retórica da cooperação, o fato de estarmos mudando para um edifício compartilhado – o Philanthropy House (Casa da Filantropia) – com Network of European Foundations, e European Venture Philanthropy Association e alguns dos laboratórios de ideias envolvidos na filantropia, nos obriga a pensarmos sobre como representamos o grupo maior de atores. Não são apenas as organizações que são definidas, em última instância, pela forma legal estreita de fundação, independentemente do simples fato que na Europa a noção de uma fundação é intrinsecamente muito mais diversa do que nos EUA. Nós estamos somando às organizações que nem aspiram ser fundações, como as instituições híbridas com um pequeno portfólio e poucos recursos, e que buscam doações. Esta é a situação corrente.

Queremos vínculos muito mais fortes com as ONGs internacionais, agora que estamos fazendo o trabalho de desenvolvimento. Precisamos ter certeza que nossas conexões com a academia, com fundos assessorados por doador e laboratórios de ideias sejam mais profundas. Algumas instituições acadêmicas hoje ensinam filantropia, então está surgindo um diálogo entre os praticantes e os acadêmicos. Na realidade, temos pensado em expandir nossa composição para incluir esses “amigos da filantropia” – pessoas interessadas em filantropia – o que não fizemos antes. Isso incluiria doadores individuais, e as atividades de capacitação que realizamos deveriam ser abertas a eles. Também precisamos conversar com organizações especializadas em ajudar pessoas de alto valor líquido a descobrirem o que querem fazer. Nós vemos o EFC desempenhando cada vez mais esse papel. Estamos tentando expandir nossos membros lateralmente e não somente entre as fundações.

*Gerry Salole é o diretor executivo do European Foundation Centre
E-mail : [email protected]

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