Escolas devem promover maior participação da comunidade nos processos educacionais

Por: GIFE| Notícias| 12/04/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Durante a abertura do Fórum Mundial de Educação – São Paulo, que aconteceu de 1º a 4 de abril, no Anhembi, a prefeita Marta Suplicy assinou um termo de adesão à Rede Mundial de Cidades Educadoras. Criada em Barcelona no início da década de 90, a rede congrega atualmente cidades de 32 países, sendo nove brasileiras.

A proposta é incentivar a utilização de todos os espaços para a educação. “”Uma cidade educadora se constrói com relações, interações e apoio de toda a sociedade. Ela deve estruturar programas e ações com a sociedade civil, trabalhando juntos para que ruas, rios, praças e shopping centers sejam transformados em espaços educadores””, explicou a diretora da Rede Latino-Americana de Cidades Educadoras, Alicia Cabezudo, durante conferência sobre identidade cultural e cidadania.

Uma das principais discussões durante o evento foi justamente a importância da inserção de toda a comunidade no processo educacional, algo que fundações e institutos de origem empresarial com projetos na área vêm procurando disseminar nas regiões onde atuam.

A Fundação Orsa lançou, durante o Fórum, o projeto Bairro Escola Feliz. Em parceria com a ONG Cidade Escola Aprendiz, a iniciativa visa a ampliar o trabalho que a Fundação já desenvolve desde 1997 na Vila Madalena, em São Paulo, tendo como base seus programas de arte educação e educação infantil.

Praças, lojas e livrarias do bairro devem ser transformadas em locais educativos e um laboratório pedagógico será instalado para integrar escola e comunidade. O objetivo é transferir ao projeto Aprendiz toda a tecnologia social desenvolvida pela Fundação, além de organizar a rede de contatos envolvidos com a educação no bairro: secretarias, escolas, educadores e moradores, entre outros.

“”A educação é vista hoje como um processo contínuo e ocorre para além da escola formal. Portanto, levar para dentro da escola as questões do cotidiano e levar a educação para outros espaços só contribui para o processo de aprendizagem e a ampliação de seu repertório, dando sentido aos seus diversos papéis sociais””, explica Ana Carolina Vanossi, analista do projeto.

Célia Petti, da diretoria pedagógica do Aprendiz, conta que o projeto tem base de articulação nos organismos públicos e em suas políticas sociais. “”Temos encontrado abertura e apoio dos órgãos públicos aos nossos projetos, assim como temos ocupado de forma responsável os espaços abertos à participação comunitária.””

Comunicação – No entanto, não são todas as iniciativas que contam com esse apoio. Zulmira Braga, gerente de educação da Fundação Belgo-Mineira, afirma que entre as dificuldades encontradas em processos de integração escola-comunidade está a inexistência ou fragilidade dos conselhos gestores – como o Conselho Municipal de Educação – e dos conselhos escolares.

Desde 1999, a Fundação Belgo-Mineira desenvolve o Programa Ensino de Qualidade (PEQ), que busca a melhoria do ensino fundamental nas escolas públicas estaduais e municipais de comunidades onde a Belgo está presente. A iniciativa, que já se tornou política pública na cidade de Vespasiano (MG), contribui para o desenvolvimento de um padrão de ensino e aprendizagem que reduz os níveis de repetência e evasão escolar.

“”Percebemos ainda uma resistência entre os próprios educadores a uma maior abertura da escola à participação da comunidade. Há também inexistência de metodologias de trabalho com as famílias e falta uma estratégia nas escolas para valorizar a relação com a comunidade. As escolas nem sempre estão preparadas para uma comunicação adequada com familiares de baixa renda que não têm escolarização””, explica Zulmira.

Para Aline Torre, responsável pelo Programa Escola que Vale, da Fundação Vale do Rio Doce, existe uma falta de compreensão das secretarias de educação sobre a importância da participação dos pais nas atividades escolares, o que se reflete diretamente no ambiente escolar. “”Percebemos algumas vezes que, ainda que faça parte do discurso, isso não se traduz em uma prática e concepção efetivas.””

Segundo ela, o que atrapalha a comunicação entre a escola e os pais, muitas vezes, são problemas operacionais, como o agendamento das reuniões em datas e horários desfavoráveis. Outras vezes, falta estabelecer e explicitar quais são os canais disponíveis para o contato ou o discurso utiliza termos e expressões muito técnicas, advindas da pedagogia, o que dificulta a compreensão por parte dos pais sobre o trabalho da escola e amplia o distanciamento entre as duas partes.

O Escola que Vale tem como objetivo colaborar para a melhoria da qualidade do ensino fundamental de escolas públicas municipais, por meio do aprimoramento pedagógico e social de todos os envolvidos no processo educacional. O programa envolve professores, diretores, supervisores, empregados, técnicos das secretarias de educação, alunos, pais e toda a comunidade próxima à escola.

“”Além da intenção de estabelecer a parceria com os pais, cabe à escola também se preocupar com as formas de recepção, o acolhimento, a comunicação e as atividades que resultem em um envolvimento da família com a escola””, explica Aline.

Para isso, são fundamentais os trabalhos de ordem sócio-cultural, que contribuem para que esses atores tenham uma melhor compreensão dos seus papéis sociais, e assim desenvolvam sua auto-estima e valorizem a própria identidade da comunidade. Zulmira, da Belgo, aponta como essenciais as atividades em que os pais e a comunidade possam ter participação mais ativa na escola, na análise dos problemas e na proposição de soluções. Outros grandes desafios a serem superados, segundo ela, são a baixa demanda da população por melhorias na qualidade do ensino e a pouca transparência por parte dos órgãos gestores da educação quanto aos processos e resultados da área.

Participação – A presidente do Instituto Qualidade no Ensino (IQE), Andrea Tissembaum, reforça a importância dos conselhos escolares e lembra que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional prevê esses órgãos como instrumentos que autenticam a gestão democrática da escola pública. “”Um conselho forte, atuante e representativo é o melhor indicador de eficácia e validação da participação efetiva dos pais e da comunidade dentro da escola. No plano extracurricular, as atividades mais eficazes são aquelas que respeitam as necessidades da escola, que escutam os gestores e o corpo docente e que são contextualizadas à realidade da comunidade em questão.””

Ela acredita que diferentes parceiros trazem novas formas de avaliar e propor soluções para o processo educacional. Esse diálogo, por sua vez, gera impactos altamente positivos. “”Educação de qualidade é a que transmite conhecimentos socialmente válidos, estimula os valores culturais e políticos de uma sociedade democrática na formação de indivíduos e os prepara para o mundo produtivo. Ela também envolve a capacidade da escola administrar, negociar, informar e envolver a sua comunidade, fazendo-a mais participativa e mais próxima””, explica Andrea.

O IQE foi criado há dez anos, é coordenado pela Amcham-SP (Câmara Americana de Comércio de São Paulo) e tem parcerias com órgãos públicos, empresas e outras organizações da sociedade civil. Sua atuação envolve a formação e a valorização do educador, contribuindo para a melhoria do ensino nas escolas da rede pública. Além disso, busca contribuir para a ampliação do papel social da escola como espaço de participação e exercício da cidadania, ampliação do universo cultural, inclusão social, elevação da auto-estima e estreitamento dos laços comunitários.

Além do envolvimento dos profissionais da educação para levar a comunidade para dentro da escola, de acordo com Zulmira Braga, da Belgo, a relação com organizações e movimentos sociais da região também é decisivo. “”Uma escola articulada com associações de bairros, conselhos gestores e empresas, entre outras instituições, pode obter ganhos diversos. Entre eles, melhor compreensão da comunidade acerca do papel da escola, geração de recursos e participação voluntária da população para sua melhoria.””

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