O povoado Angico dos Dias, localizado na cidade de Campo Alegre de Lourdes (BA), tem pouco mais de mil habitantes. A história da comunidade foi transformada pelo esporte. Em 2022, num terreno onde a comunidade descartava lixo, surgiu um campinho improvisado e o projeto Jovem Feliz, que tinha como objetivo reunir crianças e adolescentes do povoado.
“A ideia era ter aulas de futebol no tempo livre dessas crianças e jovens para evitar que se envolvessem com drogas. A gente tinha carência de engajar a comunidade no esporte. De início eram 50 inscritos, dos quais apenas sete eram meninas”, explica Rani Farias, de 24 anos, nascida e criada no povoado e uma das idealizadoras do projeto.
Pouco depois de criado o projeto, ele foi aprovado em um edital do Instituto Lina Galvani. “Esse apoio foi de grande importância porque o que a gente tinha era uma bola e um sonho. Conseguimos equipar o time com uniforme, comprar material para os treinos e palestras. Hoje o projeto atende 80 pessoas.”
Rani Farias conta ainda que, quando iniciou o projeto de futebol feminino, havia pouquíssimas meninas, o que gerou descrédito de alguns. “Foi bem complicado, bem difícil mesmo, a gente recebeu várias piadinhas machistas durante os treinos e isso foi sendo trabalhado, tanto em conversas dentro do projeto, como durante os treinos. E aí o nosso time hoje conta com 22 meninas de Angico dos Dias e mais algumas outras das comunidades que são próximas.”
Para além do esporte, o Jovem Feliz realizou mutirões de limpeza, o espaço deixou de ser local de descarte de resíduos e a comunidade passou a ter coleta de lixo. Rodrigo Kuyumjian, que atua no Instituto Lina Galvani, afirma que foi doada uma casa para funcionar como espaço para debates comunitários, batizada de Casa de Diálogo.
“O que o futebol tem a ver com isso? É uma maneira de aproximar esses jovens e mobilizar a formação de novas lideranças comunitárias. Eles frequentam a Casa de Diálogo, porque daqui alguns anos serão os adultos dessa comunidade”, explica.