Especialista traz experiência norte-americana em acolhimento familiar ao IV SIMAF

Por: Fundação FEAC| Notícias| 13/03/2023
IV Simpósio Internacional de Acolhimento Familiar (Simaf)

Nos Estados Unidos, 50% das crianças separadas de seus pais pela Justiça vivem em uma família acolhedora após sair de casa

A psicóloga brasileira Cristina Peixoto, radicada nos Estados Unidos há três décadas, é uma das palestrantes que virão para o IV Simpósio Internacional de Acolhimento Familiar (Simaf), que acontece entre os dias 20 e 23 de março, no Centro de Convenções da Unicamp, em Campinas.

Cristina irá trazer ao encontro um pouco de sua experiência à frente da organização norte-americana Spaulding for Children, que há 55 anos atua nesta área, e apresentará os resultados observados de uma bem-sucedida metodologia de capacitação de famílias acolhedoras. Ela esteve à frente da instituição por 13 anos e hoje é consultora internacional da entidade (conheça mais no fim do texto).

O simpósio é realizado pelo Observatório da Infância e Adolescência (OIA), do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Unicamp, em conjunto com o Instituto Geração Amanhã. Conta com apoio dos governos federal e estadual e patrocínio da Fundação FEAC e outros parceiros.

Nos EUA, acolhimento familiar é prática mais adotada

O cenário do acolhimento familiar nos EUA é bem diferente do Brasil. Atualmente, 50% das crianças norte-americanas separadas de seus pais pela Justiça vivem em uma família acolhedora após sair de casa, 29% vão para casa de parentes próximos e 19% vivem em casas lares. Apenas 6% delas encontram-se em acolhimento institucional. No Brasil, ao contrário, 95% das crianças e adolescentes estão em abrigos e apenas 5% encontram um lar em famílias acolhedoras.

“Campinas é uma das cidades que têm estado na linha de frente no que diz respeito ao avanço de estratégias e implementação de serviços e políticas que visam transformar o serviço de acolhimento no Brasil, e que prometem melhorar a trajetória de crianças que não podem ser protegidas por suas famílias”, destaca Cristina. Ela também aponta a importância da neurociência para uma melhor compreensão do impacto das experiências adversas na infância.

“Estas descobertas têm fomentado o interesse de governos e entidades filantrópicas para uma abordagem preventiva. Nos EUA, isso significou uma mudança radical nas políticas públicas e na abordagem de problemas que afetam a estabilidade e proteção de crianças”, conta Cristina.

De Porto Rico, onde representou a organização em um evento sobre adoção e acolhimento, a psicóloga Cristina Peixoto concedeu a seguinte entrevista à Fundação FEAC:

Como é o seu trabalho junto à organização Spaulding for Children?

Cristina Peixoto – Eu me aposentei da Spaulding for Children no final de setembro, depois de 13 anos na agência, primeiro como vice-presidente da divisão de serviços para crianças e famílias, e nos últimos seis anos na função de presidente/CEO da organização. Spaulding me ofereceu a oportunidade de continuar a ser parte da missão da organização no papel de consultora internacional. Nesse novo papel, vou poder apoiar países que estejam interessados em implementar metodologias baseadas em evidências científicas para equipar famílias interessadas em cuidar de crianças com histórico de trauma, separação e perdas.

A missão da organização está alinhada com minha filosofia a respeito do papel da família no fortalecimento de crianças e de comunidades. É mesmo uma honra e um privilégio poder continuar a ser parte de uma organização que se propõe a fazer parcerias com famílias, comunidades, organizações acadêmicas e governos para garantir que crianças cresçam em famílias carinhosas, estruturadas e estáveis e tenham a ajuda que precisam para atingir seu potencial.

Pela sua experiência, qual deve ser o foco das políticas públicas? Por quê?

Cristina Peixoto – O desenvolvimento saudável de crianças é essencial para o progresso da sociedade. A contribuição da neurociência na compreensão do impacto permanente de experiencias adversas na infância tem fomentado o interesse de governos e entidades filantrópicas em reforçar a abordagem preventiva.

Nos EUA, isso significou uma mudança radical nas políticas públicas na abordagem de problemas que afetam a estabilidade e proteção de crianças. Verbas federais (e programas) que anteriormente eram usadas apenas no serviço de acolhimento, agora podem ser também usadas pelos estados para a prevenção de maus-tratos.

O foco do governo americano no que diz respeito a famílias com fatores de risco para maus-tratos na infância e adolescência tem sido a construção de evidências através de financiamento de pesquisas científicas que possam informar o desenvolvimento de políticas públicas que visam positivamente afetar a trajetória dessas famílias.

Assim sendo, o foco na construção e utilização de estratégias e metodologias baseadas em evidências para abordar os desafios que impactam famílias é fundamental para a sociedade em geral.

E como é feita a capacitação das famílias acolhedoras nos EUA?

Cristina Peixoto – A capacitação de famílias acolhedoras é parte intrínseca do foco do governo americano de minimizar o trauma de crianças que estão no acolhimento. Isso significa que famílias acolhedoras têm o trabalho árduo, mas gratificante, de expandirem o paradigma da parentalidade para que possam cuidar de crianças cujo desenvolvimento cerebral, cognitivo e emocional foram negativamente impactados pelas experiências adversas que tiveram.

Os estados americanos têm autonomia para utilizar uma variedade de modelos baseados em evidência para o treinamento de famílias. O governo tem incentivado o desenvolvimento de novas metodologias e programas de capacitação de famílias acolhedoras para aumentar a eficácia delas no processo de ajudar as crianças a superarem seus históricos de perdas e traumas.

O que o Brasil e, em especial, Campinas, podem aprender com essa experiência?

Cristina Peixoto – A Prefeitura de Campinas e a Unicamp têm estado na linha de frente no que diz respeito ao avanço de estratégias e implementação de serviços e políticas que visam transformar o serviço de acolhimento no Brasil, e que prometem melhorar a trajetória de crianças que não podem ser protegias por suas famílias.

Acredito que os participantes do IV SIMAF terão oportunidade de ter acesso a uma variedade de perspectivas e estratégias relacionadas ao acolhimento familiar, terão acesso a conhecimentos científicos e novos conceitos, e acesso a novas ferramentas para apoiar famílias acolhedoras na criação de um ambiente familiar que fortaleça a resiliência em crianças acolhidas.

Vou apresentar o Currículo Nacional de Treinamento e Desenvolvimento de Famílias Acolhedoras e Adotivas (NTDC), uma metodologia científica desenvolvida pelo Spaulding com financiamento do Children’s Bureau, (Department of Health and Human Services, Administration of Family and Children’s services) em parceria com a University of Washington, the Child Trauma, the Center for Adoption Support and Education, North American Council on Adoptable Children and the Nacional Council for Adoption. O NTDC oferece estratégias para o desenvolvimento de características e habilidades típicas de famílias acolhedoras bem-sucedidas.

Em sua opinião, qual a importância de encontros como o SIMAF?

Cristina Peixoto – A estabilidade e bem-estar de crianças no acolhimento está relacionado com a capacidade de famílias acolhedoras de mudarem o foco do que está errado com a criança para um que visa entender o que aconteceu com a criança. Um encontro internacional de profissionais do acolhimento oferece uma oportunidade ímpar para o aprofundamento do conhecimento, troca de experiências e para o estabelecimento e fortalecimento da rede de apoio e colaboração entre o mundo acadêmico e as práticas do acolhimento. Encontros como esse trazem a promessa de que coletivamente, podemos equipar famílias acolhedoras para que elas sejam verdadeiros agentes de transformação na vida de crianças que já perderam tanto.

Simpósio reúne especialistas de seis países

O IV Simpósio Internacional de Acolhimento Familiar (Simaf) atingiu sua capacidade máxima em inscrições em algumas horas – o que mostra o interesse que o tema desperta no país. O evento tem 840 inscritos, vindos da maioria dos estados brasileiros e de outros países. A transmissão on-line do evento ainda não está confirmada pela organização.

Acompanhe as informações sobre o simpósio aqui: www.simaf.org.br

Outros destaques do SIMAF:

  • 70 palestrantes, entre especialistas nacionais e internacionais (EUA, Inglaterra, Argentina, França, Portugal e Espanha).
  • 105 trabalhos acadêmicos inscritos – os aprovados serão apresentados no SIMAF na forma de apresentação oral e de pôster.

Spaulding for Children, especialista em acolhimento

A Spaulding for Children é uma organização da sociedade civil norte-americana que há 55 anos atua na capacitação de profissionais da área de acolhimento e adoção e de famílias acolhedoras, adotivas e consanguíneas.

A instituição conduz projetos de pesquisa em parceria com agências do governo federal, estadual e municipal, tribos indígenas e universidades e é reconhecida como prestadora de serviços de prevenção de abuso e negligência na infância, acolhimento familiar, recrutamento e treinamento de famílias acolhedoras e adotivas e serviços de pós-adoção.

Por Natália Rangel

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