Especialistas contestam conceito de desenvolvimento sustentável

Por: GIFE| Notícias| 29/01/2007

Rodrigo Zavala

Um certo pessimismo marcou as apresentações realizadas durante a segunda edição da série de debates Diálogos Sustentáveis. Organizado pela Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças (ABDL), o evento reuniu representantes do primeiro, segundo e terceiro setores para responder a seguinte pergunta: quem é o responsável pelo desenvolvimento sustentável?

As conclusões para cada um dos participantes foi clara. Quando se trata de transformação social, atrelada a fatores econômicos e ambientais, todos somos responsáveis direta ou indiretamente. No entanto, quando o tópico de discussão é “”o que pode ser feito para colaborar para essa transformação””, os debates tornaram-se reticentes e, por vezes, conflituosos com o tema do próprio evento.

Um dos exemplos mais claros foi a palestra do professor titular da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo, José Eli da Veiga. Conhecido por seu caráter provocador, principalmente na série de livros que escreveu (entre eles um justamente sobre desenvolvimento sustentável), o especialista foi assertivo ao criticar como o conceito tem sido tratado.

Segundo Eli da Veiga, trata-se de “”um dos mais generosos ideais surgidos no século passado””, porém, essa noção continua vaga e vem recebendo tratamento descuidado. Dessa forma, ao contrário de tomá-la como um “”conceito””, como tem sido o senso comum, o palestrante considerou como um enigma que pode ser dissecado, mesmo que ainda não resolvido.

Com uma colocação simples, Eli da Veiga deixou os participantes do Diálogos um tanto irrequietos. “”Qualquer desenvolvimento econômico gera danos ao meio ambiente. Assim, desenvolvimento é contrário à sustentabilidade. Todas as sociedades sustentáveis foram aquelas que se recusaram a crescer””, afirmou.

As opiniões do professor da FEA foram seguidas por um debate multissetorial, que reuniu profissionais do primeiro, segundo e terceiro setores, além da participação especial de um representante da mídia (que, dizia-se, ser um setor independente). No entanto, entre trocas de farpas e mal versadas palestras, o diálogo se tornou um cipoal de críticas sobre a falta de políticas públicas.

O chefe de gabinete da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, Hélio Neves, foi um dos exemplos. Embora tenha declarado que o órgão público em que trabalha tem pensado o desenvolvimento sustentável, criticou a inexistência de ações políticas multissetoriais dentro de órgãos públicos e a falta de atitude governamental na efetivação de leis como a da Resolução Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) de 95 que deveria controlar a emissão de poluentes em veículos automotores.

Como representante do setor público, o empresário e sócio da ERM Brasil joint venture entre a ERM e o Grupo Semco), Eugênio da Mota Singer, foi reticente quando afirmou que o problema é histórico e que “”todos sabem, mas que poucos querem assumir ou fazer sua parte””.

Para ele, a maior ameaçada ao progresso do desenvolvimento sustentável entre empresários é a corrupção e o desrespeito a normas ambientais. Afinal, entre outras coisas, muitos sabem exatamente qual deve ser sua participação, o que podem fazer para diminuir a poluição gerada por sua empresa, mas não fazem nada e ficam à espera da ajuda do governo.

Outro profissional que apresentou uma visão pouco agradável foi o jornalista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Carlos Tautz. Ele deixou claro que a imprensa não dá atenção ao tema (“”porque não quer ou porque não pode””, ironizava), contando com jornalistas mal preparados para realizar uma cobertura eficiente (de novo, “”porque não querem ou porque não podem””). Enfim, não há qualquer compromisso.

Por fim, um dos organizadores do evento, Andrés Falconer, da ABDL, apontou a falta de comunicação entre ambientalistas e defensores do meio social urbano como um dos principais empecilhos para que a sociedade civil tenha uma visão favorável do desenvolvimento sustentável.

Segundo ele, o movimento ambiental brasileiro ficou taxado historicamente como “”direitos humanos de luxo””. A causa disso é a “”separação dramática””, o que explicaria os equívocos sobre o que são projetos sócio-ambientais. “”Geralmente ele são colocados por bancos ou mineradoras. E a impressão que se tem é que sócio-ambiental é algo a favor de quilombolas e índios. Na cidade, em zonas urbanas, não parece importante””, afirmou, ao explicar porque é tão baixo o nível de discussão da população.

Diálogos Sustentáveis, realizado pela Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças (ABDL) aconteceu na sede da Umapaz – Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura da Paz -, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

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