Especialistas discutem a importância da avaliação para a análise sobre os avanços sociais gerados pelo ISP

Por: GIFE| Notícias| 18/04/2016

 

“Cabe à avaliação construir o valor sobre o efeito do investimento social privado (ISP) na sociedade, tendo em vista que o investimento social privado tem por natureza uma finalidade pública”. A explicação de Rogério Silva, diretor de pesquisa da Move Social, resume, em poucas palavras, a proposta e a importância da avaliação para o ISP.

Investir em avaliação já não é mais uma opção ou um diferencial das organizações, mas ponto fundamental para aqueles que visam melhorar a sua governança e transparência e promover de fato processos de desenvolvimento social.

Essa agenda estratégica do GIFE tem chamado a atenção dos investidores sociais, tanto é que foi o segundo tema entre os desafios centrais propostos nas sessões do Congresso GIFE de 2016. A última edição do Censo GIFE também mostrou o avanço desta prática: somente 1% dos associados respondentes não faz avaliação para nenhum de seus programas.

“Uma das perguntas-centrais da avaliação é justamente em que medida a intervenção realizada está conseguindo avanços e transformação social numa determinada realidade, comunidade ou contexto. Mas ela não é a única. A avaliação tem uma importância também para a própria estratégia dos investimentos, o que significaria orientar as organizações a olharem para a sua intervenção e entender o que está acontecendo, quais os processos e as armadilhas colocadas e o que precisa ser melhorado no que está sendo feito”, comenta Daniel Brandão, sócio e diretor executivo da Move, no seu depoimento ao terceiro episódio da websérie COMUM (clique aqui para conferir).

Assim, ainda que possam demandar investimento de tempo e recursos, sendo os seus resultados muitas vezes obtidos apenas a longo prazo, essas práticas são capazes de fortalecer as organizações na medida em que deixam mais claros e consistentes os seus pontos fortes de atuação e os resultados e mudanças pretendidos.

Rogério Silva explica que, nessa perspectiva, é essencial utilizar a avaliação para lançar um olhar mais amplo sobre determinada iniciativa, a fim de verificar a sua relevância e a qualidade das intervenções.

Para exemplificar, o diretor de pesquisa da Move, cita um programa de inserção da tecnologia na educação: “Podemos fazer uma avaliação e descobrir que a iniciativa traz muitos ganhos para a aprendizagem dos alunos. Porém, podemos olhar  ao mesmo tempo para o fato de que os custos são absolutamente insustentáveis se esse piloto visa se tornar uma política pública e ganhar escala. Sendo assim, a partir da avaliação, será possível redimensionar as ações”, pondera.

Relevância

Na opinião dos especialistas, avaliação e transparência caminham lado a lado e precisam ganhar cada vez mais esse olhar de sinergia dentro das instituições. José Eduardo Romão, diretor vice-presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), acredita que as organizações devem criar ferramentas de avaliação de impacto, inclusive com a participação de beneficiários.

Isso é o que garante à avaliação, segundo Martina Otero, membro da diretoria colegiada da Rede Brasileira de Avaliação, a relevância e democratização das informações, pensando o sentido público desta prática como espaço público também. “A pergunta é: em que medida o processo de avaliação permitiu responder às necessidades reais existentes na coletividade? Ou seja, a avaliação permitiu espaço de fala de diferentes atores sociais? Ela possibilitou a explicitação de necessidades desses atores? Ela possibilitou reconhecimento mútuo e negociações abertas?”, questiona.

Para garantir mais credibilidade ainda ao processo, a proposta é que a avaliação traga não apenas as boas práticas, mas de relatos sobre o que não foi exitoso para que outras organizações possam evitar o mesmo erro.

“Temos que ter mais consistência nas avaliações, pois estamos lidando com o bem público. As nossas avaliações precisam nos ajudar a aprender com os erros. Por isso, eles precisam aparecer”, acredita Maria Alice Setubal, presidente do conselho consultivo da Fundação Tide Setubal.

Práticas de monitoramento e avaliação

Mas, afinal, como os investidores sociais têm atuado nesta agenda?

O Censo GIFE apontou que, entre os investidores sociais, há uma série de modalidades de avaliação e monitoramento. O que predoomina são as ações de monitoramento de seus programas ao longo do tempo (realizadas por 94% dos respondentes), da avaliação de resultados (praticada por 87% deles) e diagnóstico inicial, ou marco zero, realizado por mais da metade dos respondentes (60%). As ações de avaliação de impacto (voltada à mensuração das mudanças produzidas pela intervenção dos programas) são realizadas por 41% dos respondentes, o que chama a atenção devido à alta complexidade desse tipo de prática.

Sobre os objetivos das ações de avaliação e monitoramento, nos aspectos relacionados a processos de aprendizagem e tomada de decisão, o Censo observou que grande parte dos respondentes (83%) realiza avaliação e monitoramento sempre com o intuito de revisar ou aprimorar o projeto ou programa, mas também de aprender e decidir sobre aspectos de implementação e execução (75%) e sobre a manutenção ou revisão das estratégias da organização (73%). As decisões sobre o volume de recursos ou sobre a continuidade de parcerias são mais raramente ou nunca consideradas como um objetivo para o maior número de organizações, ainda que sejam consideradas com mais frequência pelas empresas (os dois critérios são sempre objetivos de suas avaliações em 70% dos casos para esse tipo de investidor).

Segundo o Censo GIFE, é possível observar que os processos de avaliação ainda são pouco vistos entre os investidores sociais como objeto de sua comunicação externa ou como algo a ser compartilhado para fora do âmbito institucional, tendo, aparentemente, um peso maior em processos internos. Ou seja: se a comunicação sobre os resultados das avaliações a conselheiros e mantenedores é considerada como um objetivo para 78% dos respondentes, a comunicação para a sociedade em geral o é para apenas 53% das organizações e a comunicação para os demais públicos apenas esporadicamente ou nunca é considerada, para a maioria das organizações.

Para Celia Cruz, diretora executiva do ICE (Inovação em Cidadania Empresarial, é preciso criar um movimento no setor para que as avaliações se tornem públicas, a fim de compartilhar os processos, técnicas e metodologias utilizadas e que possam ser facilmente replicadas por outras instituições, tendo em vista que as práticas de avaliação ainda demandam, normalmente, investimentos altos para serem executadas.

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