Especialistas discutem a relação entre negócios sociais de impacto e o investimento social

Por: GIFE| Notícias| 13/03/2014

De que forma os negócios de impacto se relacionam e complementam as ações de investimento social? Quais as tendências e os principais desafios para a expansão do campo? Como ampliar o apoio de investidores sociais nas fases iniciais dos negócios?

Essas são algumas questões que vão nortear a mesa de debate “Quando negócios de impacto e o investimento social se complementam”, realizada no dia 20 de março, das 9h às 11h, durante o Congresso GIFE (veja aqui programação completa).

Entre os palestrantes, estarão presentes Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare; Claudio Sassaki, fundador da Geekie; e Valdemar de Oliveira Neto, diretor programático da Fundação Avina. A mediadora será Vivianne Naigeborin, assessora estratégica da Potencia Ventures.

Segundo Valdemar de Oliveira Neto, o campo de negócios sociais de impacto é ainda incipiente no Brasil, mas vem ganhando força a cada dia. Ele ressalta que, atualmente, tanto o investimento social direto quanto os negócios sociais se apresentam como duas modalidades, que buscam gerar transformações sociais, atuando de formas distintas, mas complementares.

No caso do investimento social em programas e projetos, por exemplo, a maneira de se conseguir gerar escala e ampliar o impacto na sociedade é por meio das políticas públicas. Já no caso dos negócios sociais, a ideia é ativar mecanismos de mercado para garantir essa escala. Ou seja, há uma perspectiva de retorno de capital investido.

“Inclusive, há um temor no setor em relação à ideia de que o investimento nestes negócios de impacto podem significar a redução dos investimentos puramente sociais. Acreditamos que isso não é a realidade, pois sabemos que nas fases iniciais, para garantir o impacto social, esse tipo de negócio depende também de um investimento de maior risco, de esforço de capacitação e preparação, que vêm por meio do investimento social direto. Ou seja, esse aporte é extremamente importante no processo de incubação e experimentação que é necessário para o desenvolvimento de negócios de impacto”, comenta o diretor da Fundação Avina.

A própria Fundação tem articulado algumas iniciativas neste sentido. Valdemar está liderando a constituição da Fundação WTT (World Technology Transform), que tem investido em inovações tecnológicas que possam ajudar a mudar a realidade da base da pirâmidade.

Já Anna Penido, do Inspirare, irá apresentar a experiência do Instituto no investimento também em startups que têm como foco a área de educação. “No Brasil, ainda temos problemas crônicos na educação que não conseguimos resolver. Acreditamos que um dos caminhos talvez a seguir, seja juntar cada vez mais gente, com diferentes expertises, que possam contribuir com a causa pensando em soluções às vezes não convencionais para podermos chegar mais rápido onde queremos”, explica.

Por isso, a proposta é identificar tendências em educação que estejam mais alinhadas aos desafios e avanços do século XXI, e trazer novos recursos e possibilidades para dentro da escola. “Uma destas tendências é a tecnologia. E, nesse mundo tecnológico, existem muitas startups que genuinamente têm a preocupação da melhoria da educação brasileira. Fizemos recentemente um encontro com parceiros, entidades sociais, universidades e startups e o resultado final foi muito rico porque houve uma troca e aprendizado conjunto. Ficou claro que os potenciais se complementam”, enfatiza.

Segundo Anna, o objetivo não é eliminar o investimento social em iniciativas já realizadas em parceria com o poder público e ONGs, na área de formação de professores e mobilização social, por exemplo, mas apostar também nos outros setores emergentes. Em sua opinião, é preciso novas formas, inclusive, de financiamento para os negócios sociais, para que eles possam se desenvolver, sem terem de lidar com a pressão do mercado tradicional, correndo o risco de levarem suas ações puramente para o lado comercial.

“É preciso um equilíbrio e um respaldo para essas experiências sociais que levam mais tempo para ter o retorno, mas que são relevantes socialmente. É necessário esse olhar diferenciado e ajudar a fortalecer e a formar estes empreendedores. Muitos deles são bem intencionados, mas conhecem pouco da realidade social, apenas do negócio. Precisamos ajudá-los a entender, por exemplo, qual é o contexto de uma escola pública, para que suas soluções sejam de fato apropriadas e gerem impacto”, comenta a diretora do Inspirare.

Para Anna, um cenário interessante a ser buscado é a aproximação cada vez maior entre os investimentos sociais e os negócios sociais, permitindo uma atuação cada vez mais conjunta. “Seria muito interessante o estabelecimento de parcerias entre ONGs e startups. A startup poderia criar uma solução tecnologia e, em parceria com a entidade, esta promover a formação dos professores para o uso da tecnologia. Com isso, iríamos diminuir os muros e até fortalecer o trabalho das organizações sociais. Tudo é uma questão de como vamos conseguir fazer esses arranjos”, aponta.

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