Especialistas em investimento social privado fazem previsões para 2025

Por: GIFE| Notícias| 09/01/2006

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Uma das principais parcerias feitas pelo GIFE em 2005 foi com a Alliance, revista internacional sobre filantropia e investimento social privado, que enfoca as últimas tendências e acontecimentos da área, com análises críticas e aprofundadas dos desafios enfrentados por financiadores e financiados, a partir de uma perspectiva global.

Em dezembro, e graças a essa parceria com GIFE e Instituto Synergos, a Alliance teve, pela primeira vez, conteúdo publicado em outro idioma que não o inglês (em português). O tema principal da edição foi o futuro da filantropia, por isso contou com artigos de especialistas de diversos países.

Tomando como gancho este assunto, o redeGIFE falou com alguns representantes brasileiros para saber sobre o futuro do investimento social privado no Brasil. Veja como eles imaginam que deva ser o ISP no país em 2025:

Evelyn Ioschpe, diretora-presidente da Fundação Iochpe: “”Difícil prever o curso do investimento social privado num horizonte de 20 anos, num país como o nosso. As empresas vêm internalizando a cultura e as ferramentas do ISP de forma crescente, o que faz com que as políticas de gestão contemporâneas incorporem as práticas de voluntariado e de solidariedade estratégica, e que os institutos de aferição de qualidade internacionalmente adicionem esta medida. Vejo, no entanto, a sustentabilidade do esforço muito mais junto à força de trabalho das empresas, que vem descobrindo um adicional de qualidade de vida no trabalho, que propriamente nos níveis decisórios da empresa. Afinal, não faz tanto tempo assim que ′capitalismo selvagem′ era o rótulo aposto à atividade empresarial. Mudanças culturais levam décadas, e meu sentimento é que estamos recém vivendo o momento da virada.””

Francisco Azevedo, representante da Fundação Avina para a região Sudeste e Distrito Federal: “”Espero que, antes mesmo de 20 anos, o investimento social privado ultrapasse o campo da filantropia para estar no campo estratégico das empresas do país. Assim, os resultados serão mais eficazes, pois a atenção será a mesmo que se dá às grandes questões ligadas ao processo produtivo das corporações. Para isso, é necessário que cresça na sociedade a cobrança e, ao mesmo tempo, a valorização das empresas socialmente responsáveis. A lógica do mercado que antes não valorizava o investimento social privado, agora passa a considerá-lo, uma vez que cresce na sociedade, no cliente, no consumidor a consciência de que o papel da empresa vai muito além da geração de empregos e do pagamento de impostos. Espero que, dentro em breve, ser socialmente responsável possa ser verdadeiramente um diferencial comparativo para as empresas.””

Ilona Becskeházy, superintendente da Fundação Lemann: “”Acho que será mais profissionalizado e estruturado, como qualquer outro negócio. O mundo, mesmo que de forma diversa e em diferentes estágios de desenvolvimento, quer padrões de vida e de desenvolvimento político e social cada vez melhores. Boa parte da solução está na ação filantrópica desvinculada dos interesses mais imediatistas das corporações e das limitações das negociações políticas. O principal canal de voz para regular e fiscalizar primeiro e segundo setores é o terceiro setor, mas para fazer isso de forma eficaz, tem que ser muito profissionalizado e competente.””

Marcus Fuchs, diretor executivo do Instituto Telemig Celular: “”Em 2025, o Brasil será mais justo, terá menos desigualdades e será um local melhor para se viver. Para a adequação do investimento social privado a este novo momento, as empresas, fundações e institutos diminuirão as práticas de financiamento de projetos para participar mais diretamente das iniciativas e aportar maior diversidade de recursos. Também haverá o crescimento de projeto realizados em redes e pelas parcerias dos três setores: governo, empresas e organizações sociais. Isso levará a uma maior participação e influência do segundo setor nas políticas públicas. E isso acontecerá tanto no âmbito local quanto no âmbito nacional.””

Miguel Krigsner, presidente de O Boticário: “”Os conceitos de responsabilidade social e de investimento social privado vêm amadurecendo muito no Brasil, pelo próprio avanço da organização da sociedade civil e de um senso crítico em boa parcela da população. Isso é considerável e, certamente, será um impulso e uma exigência para que, daqui a 20 anos, tenhamos uma prática consolidada de investimentos privados em projetos sérios e que contribuam, de fato, para o desenvolvimento do país. Planejamento, sistematização, comunicação e avaliação de resultados já começam a fazer parte de qualquer análise a respeito de investimentos em iniciativas sociais. Isso dá um caráter de inteligência e otimização à aplicação dos recursos e, naturalmente, gera melhores resultados. Logo, cria-se um círculo virtuoso em que boas práticas terão investimentos perenes e gerarão resultados concretos para o Brasil.””

Regina Stella Schwandner, diretora superintendente do Instituto Criança é Vida: “”Vejo o investimento social privado com grande otimismo para os próximos 20 anos. Jamais se teve tanta consciência de sua necessidade, nunca se investiu tanto e nunca as empresas e seus executivos estiveram tão interessados no assunto. Há um caminho a ser trilhado, mas já existem muitos na estrada, sensibilizando a outros. Há uma profissionalização e uma transparência que não existiam há 10 anos. Há leis sendo alteradas e há um interesse da sociedade no assunto. As empresas já sentiram que têm um papel a cumprir. Com certeza há muito para fazer, mas se compararmos com o que era há 20 anos, a mudança foi radical. E trata-se de um movimento que, na minha opinião, salvo algo muito grave, não tem volta!””

Sean Mckaughan, gerente de serviços da Fundação Avina: “”Eu não tenho nenhuma bola de cristal, mas vejo algumas tendências interessantes, e gostaria de pensar que em 20 anos, elas poderiam redefinir o jogo. Por exemplo, acredito que cada vez mais empresas vão enxergar seu investimento social como um elemento fundamental da estratégia da empresa e, por isso, vão cobrar mais sinergias e resultados. Haverá mais empresas que até parecem ONGs em seus objetivos, tentando usar o motor do mercado para gerar uma transformação social na direção de um desenvolvimento mais sustentável. Haverá mais competição entre indivíduos ricos, não para demonstrar sua bondade, mas para realmente eliminar problemas perenes no mundo. As fundações vão focar mais suas ações e aumentar a colaboração entre si para gerar resultados efetivos em questões específicas, em vez de priorizar suas ações individuais. E, em todas as esferas, está crescendo a consciência da importância de não ver problemas econômicos, sociais ou ambientais em isolamento, e de buscar soluções que envolvam uma teia de atores e interesses, de setores diferentes e de diversas competências. Claro que em 20 anos, ao ritmo atual, os problemas que enfrentamos vão ser mais graves. Espero que estas tendências de fato amadureçam para tentar dar conta do desafio.””

Sérgio Amoroso, presidente do Grupo Orsa e instituidor da Fundação Orsa: “”Se pudermos pensar em um cenário daqui há 20 anos, acredito que a responsabilidade social corporativa estará totalmente incorporada e absorvida na cultura e no custo das empresas, respectivamente. Será um negócio como as certificações ISO de hoje: em questões que envolvam este tema haverá um aumento de conscientização e de participação da sociedade e o diferencial aparecerá por uma responsabilidade social corporativa eficiente. Para ser eficiente será necessário que o conceito esteja totalmente incorporado dentro das empresas””.

Sérgio Mindlin, diretor-presidente da Fundação Telefônica: “”Acredito que, em 20 anos, o investimento social privado estará consolidado, maduro e profissionalizado. Como será e no que se concentrará depende do que acontecer com o país neste tempo. Esperemos que o que estamos investindo agora mude a cara do Brasil e não tenhamos as mesmas carências de hoje.””

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