Estratégia de inclusão socioprodutiva orienta projetos da FEAC e seus parceiros
Por: Fundação FEAC| Notícias| 07/11/2022A inclusão socioprodutiva ganhou força com o aumento do desemprego e de pessoas em grande vulnerabilidade social no pós-pandemia
O conceito de inclusão produtiva tem, cada vez mais, norteado ações tanto de organizações da sociedade civil quanto do poder público. O assunto ganhou força com o aumento do desemprego e de pessoas em grande vulnerabilidade social no pós-pandemia.
Diante deste cenário, a Fundação FEAC passou a adotar essa estratégia, juntamente com alguns de seus parceiros, em projetos de empreendedorismo social desenvolvidos pelo Programa Desenvolvimento Territorial, como o Empreende Campinas (leia mais abaixo).
“Até então, a FEAC atuava com inclusão produtiva pontualmente, em projetos de capacitação, por exemplo, na área de gestão de negócios visando o fortalecimento de nano, micro e pequenos empreendimentos e incentivando o empreendedorismo”, explica Marcelo Patarro, coordenador do programa.
Após esse primeiro passo para atuar de forma mais contínua e perene com a pauta da inclusão produtiva, a FEAC iniciou uma reflexão e pesquisas sobre essa estratégia, relacionando-a com as premissas que sempre nortearam a atuação da entidade.
O fator socioemocional
“A FEAC tem um viés muito forte nas áreas de proteção e assistência social. A gente percebeu, pela experiência da atuação com a população vulnerável em Campinas, que o trabalho com a base da pirâmide exige um suporte mais amplo e acompanhamento mais próximo”, observa Marcelo.
Pessoas em situação de vulnerabilidade têm necessidades específicas, muito mais profundas que outros cidadãos. Boa parte da população menos privilegiada, possui histórico de trabalho com baixa remuneração, exploração e outras situações degradantes, o que gera estigmas sociais e emocionais. Fatores que, geralmente, interferem diretamente no desempenho do negócio, estabelecendo mais um desafio a ser superado. Então, além do acesso a renda é preciso olhar para outras necessidades e limitações dessa população.
“Não se faz um processo de inclusão produtiva sem uma atenção à questão socioemocional. A gente quer garantir direitos econômicos, mas também os direitos sociais, como acesso à educação de qualidade, à saúde, atenção psicossocial”, explica ele.
Assim, para dar conta desse óbice, a organização entende que o caminho é investir na estratégia da inclusão socioprodutiva. “Entendemos essa estratégia como a busca pela geração de trabalho decente e renda digna de maneira estável para as populações em situação de pobreza e vulnerabilidade social, viabilizando acesso a direitos econômicos e sociais”, resume Marcelo.
Essa estratégia compreende cinco dimensões: assistência social com apoio socioemocional; desenvolvimento e fortalecimento de uma rede de operacionalização; apoio de iniciativas empreendedoras e empregabilidade; melhoria da ambiência empreendedora e de acesso ao emprego, conexão com grandes empresas e produção e disseminação de conhecimento, especialmente em parceria com universidades.
Empreende Campinas
Os projetos Tempo de Empreender e Empreende Campinas, desenvolvidos pela Fundação FEAC e parceiros, colocaram em prática esta estratégia e criaram uma eficiente rede de suporte ao empreendedorismo junto às populações mais vulneráveis do território.
O objetivo é apoiar empreendedores e empreendedoras de áreas vulneráveis de Campinas, por meio de capacitação em gestão de negócios e acesso facilitado a microcrédito. Nos anos de 2020 e 2021, o projeto focou em regiões de maior vulnerabilidade social, visando a redução dos impactos econômico e social da pandemia de Covid-19.
A experiência proporcionou a homens e mulheres beneficiados pelo projeto histórias de sucesso e superação. Algumas documentadas em vídeos que contam a trajetória de empreendedoras que passaram pela capacitação e montaram o seu próprio negócio durante os dois primeiros anos da pandemia (saiba mais neste link).
Rede de parceiros
Para ampliar o impacto deste trabalho, a parceria com organizações interessadas em atuar estrategicamente em inclusão socioprodutiva é fundamental.
Uma das referências é o trabalho desenvolvido pela Fundação Arymax, que publicou pesquisas para fundamentar iniciativas nessa área. “Essa é nossa principal causa. Além disso, a entidade se debruça na filantropia baseada em evidências, articulando pesquisas que trazem dados importantes para o meio”, explica Viviane Naigeborin, superintendente da Fundação Arymax.
É o caso do estudo Retrato do trabalho informal no Brasil: desafios e caminhos de solução, realizada entre outubro de 2021 e junho de 2022, em parceria com B3 Social e Instituto Veredas. “O intuito foi identificar possíveis caminhos e soluções para promover a inclusão socioprodutiva na prática”, diz ela.
O estudo mostrou que existem diversos perfis de trabalhadores informais. O principal é o dos “informais por subsistência”, que representa uma fatia de 60% e reúne pessoas com renda de até 2 salários-mínimos. Há os “informais com potencial produtivo”, que não se formalizam por falta de garantias, e os “informais por oportunidade”, que permanecem nessa condição para evitar custos adicionais.
Viviane explica que as condições que geram a informalidade devem orientar as soluções. No caso dos informais, isso significa diminuir a vulnerabilidade econômica dos indivíduos e dos territórios onde eles vivem. “Isso passa pela oferta de creches e programas de segurança alimentar, saúde e educação até o apoio financeiro, como programas de renda básica, além do acompanhamento das famílias e reforço do Sistema Único de Assistência Social (Suas). Tudo isso visando garantir mais condições de inserção no mercado”, explica ela.
Ecossistema empreendedor
Outro parceiro da FEAC é a Aliança Empreendedora, que desde sua fundação, em 2005, trabalha com o conceito de inclusão produtiva. “Nosso foco era o apoio a microempreendedores em situação de vulnerabilidade socioeconômica nas periferias dos municípios, entendendo o grande potencial que eles representam para o Brasil”, afirma Lina Maria Useche Kempf, cofundadora da Aliança Empreendedora e head de relações institucionais.
Ela explica que, no início, o termo empreendedorismo ainda era nascente e estava atrelado mais ao grande empresário. Empreender era visto como coisa da elite. “Aquela pessoa que trabalhava por conta própria nas periferias, usando a criatividade para gerar renda, via essa atividade como um bico, não como um negócio que podia prosperar”, explica Lina.
A Aliança Empreendedora vislumbrou, então, que seu papel era atuar para eliminar esse gap e promover a inclusão desses microempreendedores ao ecossistema empreendedor que estava se formando no país. “Entendemos que o nosso papel era criar pontes entre os microempreendedores que estavam na periferia e o mundo empreendedor, para ajudá-los a mudar a perspectiva, a enxergar o que faziam como um negócio, uma atividade importante não só para gerar renda para si, mas também uma atividade de impacto para a economia do país.”
Para isso, a Aliança Empreendedora trabalha em três frentes: empoderar, oferecendo cursos para que o indivíduo desenvolva a autopercepção como empreendedor, mude uma chave interna; capacitar, com formações que o ajude a gerenciar melhor o seu negócio; e conectar, visando encorajá-lo a se conectar com outros micros da região, a feiras, eventos e outros contatos que possam alargar o horizonte de sua atuação.
Soma de esforços
Lina explica que a pauta da inclusão socioprodutiva requer uma rede de atuação que abranja não só entidades da sociedade civil mas também o poder público e a criação de políticas públicas. “Tivemos um avanço importante com a criação da Secretaria Nacional de Inclusão Social e Produtiva, em 2017, pelo governo federal”, diz.
Segundo Mariana de Queiroz Brunelli, líder de impacto da Artemísia, outra parceira da FEAC, essa soma de esforços é fundamental, especialmente nesse momento em que a geração de renda e trabalho dignos é urgente. “Por isso, trabalhamos em aliança para buscarmos contribuir para a solução do grave e complexo problema de exclusão social vivenciado por populações de territórios e contextos marcados pela pouca mobilidade social”, afirma.
A Artemísia atua com educação empreendedora e fomento a soluções de negócios em empregabilidade. Em 2021, fez uma coalizão com outros dez parceiros visando o apoio direto a pequenos empreendedores vulneráveis, a criação do programa de inovação aberta de impacto junto a municípios e a disseminação da causa da inclusão produtiva com foco no empreendedorismo.
Entre várias iniciativas, desenvolve o projeto “JA_É: Jornada de Apoio a Empreendedores(as)”, que oferece conteúdos gratuitos, via WhatsApp, para pequenos empreendedores vulneráveis com foco no apoio à gestão e digitalização dos empreendimentos. “Assim, visamos o aumento na produtividade e de renda dos participantes”, afirma Mariana.
Por Iracy Paulina