Ética deve ter respeito, justiça e solidariedade como princípios

Por: GIFE| Notícias| 20/10/2002

Uma das palestras do Encontro GIFE 2002 terá o tema Ética, Sociedade Civil e Relações Intersetoriais e será apresentada pela professora da PUC-SP e autora do livro Ética e Competência, Terezinha Azerêdo Rios. Em entrevista ao redeGIFE, ela fala sobre o que será discutido no encontro, exclusivo para os associados.

redeGIFE – O que a senhora pretende abordar na palestra do Encontro GIFE 2002?
Terezinha Rios – O objetivo da palestra é realizar uma discussão sobre os valores que orientam as ações e as relações dos indivíduos e grupos na sociedade, refletindo sobre o fundamento e a consistência desses valores. E também procurar identificar os desafios que se colocam à presença da ética nas organizações, para além do discurso.

redeGIFE – Como tem sido tratada a questão da ética no meio empresarial? Houve um avanço no entendimento do conceito de ética e em sua prática nos últimos tempos?
Terezinha – Assim como em outras instâncias do social, constatamos hoje nas empresas uma preocupação com a presença da ética tanto no seu contexto interno quanto nas relações que se estabelecem com a sociedade. Essa preocupação tem origem na própria história das sociedades, nos desafios contemporâneos à construção de sociedades em que a dignidade e a justiça estejam presentes, superando as desigualdades e a violência que marcam as relações. É preciso, entretanto, estar atento para o fato de que, muitas vezes, o apelo à ética se faz apenas no discurso e está ausente na prática das relações cotidianas. Daí a necessidade de fazer constantemente o exercício da crítica, para identificar os limites e explorar as possibilidades de uma efetiva presença da ética.

redeGIFE – Manter um relacionamento com funcionários, clientes e investidores, além de investir na comunidade, são elementos valorizados nos dias de hoje. Existe uma relação entre atitude ética e imagem das empresas? Como comprovar a veracidade de uma ação aparentemente ética?
Terezinha – Perguntar pela comprovação nos remete aos critérios que devem ser considerados para avaliar um comportamento ou uma atitude dos indivíduos. Na perspectiva da ética, deve-se considerar o bem comum como a finalidade das ações. Na medida em que fazemos parte de uma sociedade, devemos tomar como referência a concretização da possibilidade de todos exercerem efetivamente seus direitos e terem acesso aos bens que aí se constroem. Assim, as empresas e as instituições que desenvolverem ações no sentido da realização do bem comum terão sem dúvida uma imagem favorável no contexto social. O respeito, a justiça e a solidariedade são princípios éticos. Se podemos identificá-los nas ações, na certa somos levados a aprová-las.

redeGIFE – Como a ética deve ser tratada nas organizações da sociedade civil, na qual praticamente não existe hierarquia e a gestão dos projetos é matricial?
Terezinha – Do ponto de vista da ética, não se leva em consideração a especificidade do contexto em que se dão as relações. Explico melhor: não importa se ajo num espaço privado ou no público, no meu grupo de amigos ou na instituição na qual trabalho. Os princípios sobre os quais devem se sustentar minhas ações são os mesmos. A dignidade humana e o bem comum são a referência. As relações têm um caráter de intersubjetividade, isto é, qualquer que seja a função ou a categoria dos indivíduos são sujeitos que estão em relação. E esses sujeitos, sempre diferentes, devem ser considerados iguais enquanto participantes do espaço profissional ou social. Falamos em respeito e justiça – é esta a medida.

redeGIFE – De que maneira os três setores (governo, empresas e organizações da sociedade civil) devem se relacionar para que se mantenha uma postura ética?
Terezinha – Aquilo que afirmei sobre a conduta no interior das organizações vale para todo o contexto social. Nas relações, envolvem-se sujeitos, instituições, organizações e entidades que possuem características, funções e tarefas diferentes. A dinâmica social sustenta-se exatamente na articulação desses elementos diversos. Entretanto, se há diferença nas atribuições, há semelhança na responsabilidade que é assumida nas ações. A responsabilidade é, na verdade, o núcleo da moralidade. Definimo-nos como sujeitos humanos exatamente porque devemos responder por nossas atitudes, pelo encaminhamento de nossas ações. E nossa resposta tem implicações na vida daqueles com que nos relacionamos. Cada setor terá que considerar a especificidade do outro, que junto com ele constitui o social.

redeGIFE – Qual deve ser o compromisso ético das organizações não-governamentais ao receber financiamento?
Terezinha – Se essas organizações estão efetivamente voltadas para a promoção e o desenvolvimento de ações que vão ao encontro de necessidades concretas da comunidade da qual fazem parte, elas não se esquecerão de tomar como referência os princípios da ética. Vale, entretanto, chamar atenção para uma distinção fundamental entre comportamento moral e reflexão ética. Muitas vezes as organizações pautam suas ações em valores discutíveis, que sustentam interesses particulares, às vezes até escusos. Daía necessidade do que chamamos de “”vigilância ética””.

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