Europa debate como articular doações na AL

Por: GIFE| Notícias| 23/01/2006

FERNANDO ROSSETTI*
Secretário geral do GIFE

Cerca de 40 dirigentes de fundações e agências internacionais que investem recursos e mantêm projetos na América Latina reuniram-se nos dias 18 e 19 de janeiro, em Madri, Espanha, para construir uma agenda de interesses e oportunidades de colaboração.

Com o tema Investindo na América Latina e Caribe – Oportunidades para Fundações Européias, o evento teve uma maioria de organizações da Espanha, mas também um número grande de outros países da Europa e da própria América Latina.

Entre as organizações nacionais, além do GIFE, estavam o Instituto Ayrton Senna, o Fundo de Direitos Humanos, mantido pela Fundação Ford, e o Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social Privado).

Das internacionais que atuam no Brasil, estavam as fundações Avina, Ford e Telefônica – associadas ao GIFE -, a Rede América, a fundação britânica Charities Aid – que a partir deste ano será representada no país pelo Idis – e a Fundação Bernard van Leer, da Holanda.

As instituições presentes somaram um investimento na região em 2005 de cerca de 100 milhões de euros, ou R$ 275 milhões.

Áreas prioritárias

A agenda de campos de colaboração montada por um dos grupos de trabalho mostra que as organizações internacionais têm interesses e enfrentam desafios semelhantes aos brasileiros. Além da idéia de unir recursos para incrementar o impacto e a abrangência de projetos, foram destacadas como áreas prioritárias:

  • Avaliação, monitoramento e indicadores de resultado.
  • Aumento de escala e disseminação de projetos.
  • Gestão de conhecimento, comunicação e informação.
  • Alianças, redes e parcerias (envolvendo os três setores).

    A reunião faz parte das atividades da Rede de Investidores na América Latina e Caribe, criada em 2002 pelo Centro de Fundações Européias – o EFC, equivalente europeu do GIFE. O principal produto dessa rede é um site, onde seus membros buscam compartilhar informações.

    O encontro foi aberto com a apresentação dos resultados preliminares da primeira pesquisa sobre doações e programas na América Latina mantidos por fundações da Espanha e Portugal. O estudo, realizado pela fundação espanhola José Ortega y Gasset e financiado pela Ford, mostra que, na Espanha, a maior parte dos investimentos sociais internacionais vai para essa região; no caso de Portugal, vai para a África.

    Segundo Sevdalina Rukanova, coordenadora de programas internacionais do EFC, a idéia é expandir esse tipo de pesquisa para toda a Europa, de maneira a facilitar a articulação de parcerias e o desenvolvimento de projetos conjuntos. Durante a reunião, a fundação suíça Pró Vitimas se associou ao grupo que está promovendo a pesquisa ibero-americana.

    “”Todos as organizações estão conscientes da perda de impacto por trabalharem com doações dispersas””, afirmou a coordenadora da pesquisa, Laura Ruiz Jimenez. “”Mas, para colaborar, as organizações precisam se conhecer””, acrescenta. “”Há vazios enormes de informação””, concordou Leonor Portocarrero, da área de cooperação internacional do governo espanhol.

    Transformação social

    Para Marcos Kisil, do Idis, “”mais do que informações sobre o volume de investimento, a questão é como é feito esse investimento””. “”Na América Latina, a tradição é mais de caridade do que de investimento social privado””, disse. “”A questão é quanto vai de fato para a transformação social, e não para a manutenção do status quo, como ocorre com a caridade.””

    “”O volume investido não tem correlação direta com a transformação social””, concluiu a pesquisadora Laura Jimenez.

    O representante da Fundação Bernard van Leer, Leonardo Yánez, destacou a necessidade de “”construir interfaces de cooperação não só entre doadores, mas também com beneficiários dos investimentos, como governo, fundações locais e ONGs””.

    Os encaminhamentos da reunião serão sistematizados para a próxima reunião anual da rede, no final de maio, durante a Conferência do EFC, em Bruxelas. Lá também serão apresentados os resultados finais da pesquisa.

    O encontro mostra uma tendência global – com reflexos no Brasil – de articulação e profissionalização das ações filantrópicas. Os EUA já têm bastante tradição em coordenação de ações sociais na América Latina. Nos últimos anos, essa prática se disseminou também na Europa, movimento associado a um dos principais programas internacionais da União Européia, denominado “”Europa no Mundo””.

    Não fazer

    Um dos debates da reunião produziu uma lista daquilo que não se deve fazer quando se investe em desenvolvimento comunitário – área de atuação de muitas das organizações presentes. Essa lista vale para vários projetos sociais no Brasil:

  • Não atuar isoladamente.
  • Não pensar só no curto ou médio prazos (transformação social leva tempo).
  • Não trabalhar só com o governo (é preciso envolver também organizações da sociedade civil, para dar sustentabilidade aos projetos).
  • Não gerar dependência.
  • Não criar planos de ação por demais rígidos e pré-estabelecidos.
  • Não desrespeitar os tempos distintos de cada comunidade.
  • Não deixar de manter processos de avaliação externa (por mais onerosos e potencialmente conflituosos que possam ser).

    * O GIFE participou da reunião “”Investindo na América Latina e Caribe – Oportunidades para Fundações Européias”” com apoio dos realizadores (EFC, fundações Charities Aid, Ford e “”la Caixa””) e do Instituto Synergos.

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