Evento internacional celebra o centenário das Fundações Comunitárias e projeta os desafios para o futuro

Por: GIFE| Notícias| 27/10/2014

O ano de 2014 marca o centenário da primeira Fundação Comunitária, a norte-americana Cleveland Foundation. Para celebrar a data, mais de mil pessoas, representando centenas de organizações sociais, estiveram reunidas na última semana, entre os dias 19 e 22, em Cleveland (EUA), para discutir lições aprendidas e tendências para o investimento social comunitário.

O movimento das Fundações Comunitárias surgiu nos Estados Unidos há cem anos e, rapidamente, se espalhou pelo mundo. Essas instituições sem fins lucrativos são caracterizadas pela atuação territorial, focada na melhoria da qualidade de vida de uma população específica. Em geral, mantém independência operacional de governos e doadores privados e contam com conselhos representativos do espaço onde atuam. Atualmente, são mais de 2000 organizações desse tipo no mundo, com atuação em cerca de 50 países.

A história da Cleveland Foundation, homenageada nesse ano durante a Conferência para Fundações Comunitárias, evento promovido pelo Council on Foundations (CoF), foi o gancho para mostrar a força da ação comunitária e o poder transformador dessas organizações. Há exatos 100 anos, Frederick Goff criava a primeira organização que viria a se tornar um exemplo para o mundo.

Vikki Spruill, presidente e CEO do CoF, reconhece a evolução desse movimento. “Estamos comemorando oficialmente 100 anos desde a criação da Fundação Cleveland, e este momento significa muito para todo o setor, já que a filantropia não pode ser bem-sucedida sem fundações comunitárias fortes e vibrantes. O centenário nos dá a oportunidade para refletir sobre a importância do cenário e quão longe chegamos.”

Apesar de atuar em uma realidade bastante diferente da brasileira, o trabalho do CoF inspira reflexões importantes para o nosso cenário local. Vikki Spruill explica que, conforme o setor caminha para seu segundo século de existência, novos desafios são colocados.

“Ainda que as organizações estejam se aproximando dos doadores e criando estratégias de envolvimento com a comunidade, o sucesso do trabalho ao longo dos próximos cem anos depende, basicamente, de uma questão de confiança pública”, explica a CEO. Nesse sentido, o CoF tem apoiado organizações no desenvolvimento de metodologias de comunicação e relacionamento, buscando responder à necessidade urgente dos dias atuais por mais informações.

Vikki Spruill contou que, para embasar algumas reflexões recorrentes e reforçar sua estratégia de atuação, foi realizada uma pesquisa no último ano, em parceria com o Urban Institute’s Center on Nonprofits and Philanthropy e a Kellogg Foundation, com centenas de fundações comunitárias americanas.

Uma das descobertas mais importantes apontou para a clara conexão entre doadores e sua participação ativa em suas comunidades. Os dados mostram que, diferente de uma certa percepção antiga, os investidores vão além do simples repasse de recursos às fundações. Eles querem se envolver com o trabalho e têm se engajado cada vez mais nas ações comunitárias que suportam.

O resultado da pesquisa americana encontra eco no cenário brasileiro, quando cada vez mais investidores sociais buscam apoiar projetos de base local e desenvolvimento comunitário. De acordo com o último censo GIFE, 53% dos entrevistados atuam nesse segmento – desse total, 31% repassam recursos a organizações terceiras. Na edição anterior, apenas 45% dos participantes responderam atuar com programas ou projetos de desenvolvimento comunitário, um crescimento relevante.

Representação setorial

Outro ponto que ganhou espaço no evento foi a importância da ação coletiva. O CoF abrange um amplo ângulo de visão do setor nos Estados Unidos, resultado de uma atuação em parceria com diversas organizações de variadas missões, estratégias, tamanhos e posições.

Segundo Vikki Spruill, o trabalho do conselho tem se posicionado para uma representação do coletivo, considerando diversas necessidades específicas de seus membros. Essa visão ampla da comunidade filantrópica americana é o que garante representativade e lastro à atuação da organização.

“Para garantir um próximo século de conquistas, temos que ter uma voz unificada, em uma mesma batida, para que o poder político possa nos ouvir mais e mais. Nosso sucesso nos dá esperança e os erros que vivemos nos dá a instrução. Esses 100 anos de trabalho nos levou à criação de novas ferramentas, novas ideias e novos relacionamentos, e também dotou o nosso campo com energia para as tarefas que temos pela frente.”

Um mapa do setor: conheça o Community Foundation Atlas

Como uma ferramenta poderia ajudar uma comunidade global de Fundações Comunitárias a melhorarem suas práticas? Provocados por essa inquietação, um time de organizações atuantes na área social criou o Community Foundation Atlas, um mapa abrangente sobre esse movimento.

A plataforma funciona como um banco de informações de amplitude global sobre o movimento de Fundações Comunitárias, estimulando o senso de colaboração entre as entidades que participam fornecendo informações à iniciativa. Além de incentivar o desenvolvimento individual das organizações, o Community Foundation Atlas acaba promovendo a visibilidade do segmento em diversas regiões do mundo.

Mais do que uma plataforma voltada apenas para os participantes, a iniciativa que ganhou destaque durante a Conferência para Fundações Comunitárias, serve também como fonte de informações para a imprensa, autoridades governamentais, parceiros filantrópicos, empresas e a sociedade como um todo.

Navegue pelo mapa e conheça melhor o cenário das Fundações Comunitárias em escala global.

Presença brasileira na Conferência para Fundações Comunitárias em Cleveland

A convite da InterAmerican Foundation, da Mott Foundation e da City University of New York, o Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICom) participou da conferência 2014. O ICom é uma organização sem fins lucrativos que opera segundo o conceito de Fundação Comunitária desde novembro de 2005, por meio de ações de mobilização e apoio a investidores e organizações sociais.

A organização participou de um painel sobre Perspectivas Globais para Ação Local e compôs um grupo internacional durante a plenária de abertura do último dia de atividades do evento, em uma conversa sobre a evolução das fundações comunitárias no mundo.

Além disso, os representantes do ICom no evento, Lucia Dellagnelo, presidente do conselho ICom, e Anderson Giovani da Silva, gerente executivo, participaram de diversas reuniões de trabalho com grupos internacionais para programação de uma série de atividades voltadas ao tema do investimento social comunitário.

Mais uma fundação comunitária brasileira que esteve presente no encontro representando o movimento no Brasil foi o Instituto Rio. Primeira fundação comunitária no Brasil, o Instituto Rio foi fonte de inspiração e referência para a criação de outras no país como do próprio Icom e o Instituto Baixada, no Maranhão. O Instituto Rio tem um diferencial bem destacado com relação ao seu fundo patrimonial e as doações importantes que vem fazendo nos últimos 10 anos (foram doados quase 2 milhões de reais a organizações da sociedade civil na Zona Oeste do Rio de Janeiro).

O registro dessa experiência poderá ser encontrado, em breve, no site da organização.

Confira o programa completo da conferência.

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