Evento promovido pela FEAC valoriza a potência das juventudes periféricas

Por: Fundação FEAC| Notícias| 19/06/2023

O documentário Visionários da Quebrada foi tema do debate no último dia 6, em Campinas

Mais de 250 jovens lotaram uma sala de cinema do Shopping Iguatemi Campinas para assistir ao documentário Visionários da quebrada. Protagonizado por jovens das periferias de São Paulo, o filme conta a sua visão de mundo e o trabalho que desenvolvem em seus territórios, com arte, educação, moda, gastronomia, mobilização, gerando impacto em suas comunidades e inspirando outras pessoas.

Após a exibição, o público participou de um debate que teve como convidados especiais a diretora do filme, Ana Carolina Martins, e duas lideranças jovens de regiões periféricas de Campinas: Layne Gabriele, estudante de Letras na Unicamp e fundadora do primeiro cursinho popular do bairro Campo Belo, e Jefferson Rodrigues, cofundador da Ozipa Criativa, espaço que promove ações de educação, cultura e empreendedorismo no Parque Oziel.

O evento foi idealizado e promovido pela Fundação FEAC, por meio do projeto CinemAQUI, que investe na ação Cinedebate por acreditar no poder do audiovisual para sensibilizar as pessoas e abrir espaço para discussão de temas relevantes. Rodrigo Correia, líder do Programa Juventudes, da FEAC, explica que a estratégia pensada para esta primeira edição 2023 do Cinedebate foi aproximar a realidade do filme, que se passa em territórios de São Paulo, de uma realidade muito semelhante que existe nos territórios de Campinas.

Uma nova narrativa para a realidade de áreas vulneráveis

A conversa que se seguiu ao filme foi permeada por momentos de emoção e forte identificação entre muitos da plateia com as ideias e visões abordadas no documentário. Os três convidados para o debate e boa parte do público compartilha do desejo de dar visibilidade e reconhecimento à cultura e toda produção intelectual e social produzida nas periferias, para além dos estereótipos retratados.  

Ana Carolina, 34 anos, é diretora e idealizadora do documentário. Ela abriu o debate contando que o filme nasceu de uma realidade que sempre a incomodou: a forma como as narrativas dominantes retratam as periferias, sempre exibindo apenas o que é negativo.

“Quando se fala de pessoas incríveis, grandes visionários, essas pessoas nunca são parecidas com a gente. E quando se olha para o problema, para os lugares mais violentos, esses são sempre os lugares onde a gente mora. Será que não tem outras histórias para contar do que a gente vive em nossos territórios, que têm problemas, mas também têm muitas coisas boas? Este foi o ponto de partida”, explica Ana, nascida e criada no bairro do Capão Redondo. “É de lá que venho construindo minha história, de uma periferia, de uma quebrada de responsa”.

“Você não está vestindo minha roupa, mas minha história”

Para a articuladora e educadora social, Layne Gabriele, o filme vem lembrar a quem se esqueceu, que o lugar onde vivemos, a cor da pele, o jeito de vestir e de falar são importantes. “Assistir ao filme me remeteu muito a isso. Eu acesso esse lugar hoje que se chama Unicamp, uma das maiores universidades da América Latina. Mas eu sou o quê? Uma negrinha favelada. E é desse lugar que eu falo. Quando eu vou para a universidade eu não deixo de lado o que sou, os bairros que vivo e frequento. O filme traz muito essa experiência, de como a gente tem de olhar para as nossas vivências”.

Para ilustrar o que diz, Layne cita uma passagem do documentário em que um dos personagens, que é costureiro, diz: “Mano, você não está vestindo minha roupa, está vestindo a minha história”. A fala faz alusão à luta do rapaz para realizar um sonho: trabalhar coletivamente criando roupas e atuando em seu próprio território, no caso, uma periferia na zona sul da capital paulista. “Você acha que a cultura é escassa na quebrada? Não é”, diz Layne. Segundo ela, a cena mostra que há muita cultura nas periferias.

Jefferson, que criou há 1 ano e nove meses a OSC Ozipa Criativa, no bairro onde cresceu em Campinas, o Parque Oziel, aponta a burocratização dos processos para acesso a editais como um fator excludente e chama a atenção para o fato de o documentário ter sido viabilizado através de uma vaquinha coletiva que teve mais de 500 doadores. “A Lei Paulo Gustavo é uma lei federal que enviou para Campinas R$ 8 milhões para ser investido em cultura. Vai chegar lá na quebrada? Sem auxílio, orientação, sem formar esse jovem da periferia para que ele saiba escrever um texto formal, preencher os cadastros e conseguir os documentos, não chega”, diz Jeff.

Desatar estes nós estruturais e fomentar transformação social são propósitos da FEAC. “Essa edição do Cinedebate dialoga com objetivos estratégicos de nossa atuação voltada às juventudes, que são promover a inclusão produtiva do jovem periférico e olhar para a sua participação social e política, entendendo que também é papel das juventudes a transformação da sua realidade pessoal e do seu entorno”, conclui Rodrigo.

O debate, que iniciou de forma tímida, ganhou corpo e emoções e se tornou um espaço de muita troca de experiências, incentivos e deu luz aos desafios e potências das juventudes nas periferias. “Desenhamos o Cinedebate com o objetivo de promover ações coletivas que agregam positivamente as relações de convivência e valorizam o pertencimento. Usamos o audiovisual para conectar pessoas e causas. Os filmes são potentes ferramentas de empatia”, completa Sílnia Prado, coordenadora do Programa Fortalecimento de Vínculos da Fundação FEAC.

Ainda em 2023 acontecerá mais uma edição do Cinedebate prevista para o mês de novembro. Todas as informações podem ser acompanhadas nas redes sociais da Fundação FEAC.

Por Natália Rangel

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