Evento reuniu cerca de mil pessoas em quatro dias de reflexões sobre cidadania

Por: GIFE| Notícias| 31/05/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Cidadania, democracia, conhecimento e eqüidade foram os eixos principais dos trabalhos durante o 7º Encontro Ibero-Americano do Terceiro Setor e o 3º Congresso GIFE sobre Investimento Social Privado, que aconteceram simultaneamente de 16 a 19 de maio, em São Paulo. O evento foi organizado pelo GIFE e contou com a participação de cerca de mil pessoas, representando 19 países.

A cerimônia de abertura aconteceu na noite de 16 de maio, no Teatro Alfa. Além dos participantes, palestrantes e conferencistas, estiveram presentes diversas autoridades, como a secretária de assistência social do Estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, representando o governador, e a secretária municipal de educação de São Paulo, Maria Aparecida Perez.

Todos os presentes assistiram, logo após a cerimônia, a uma conferência da escritora Nélida Piñon. A imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) fez um texto especialmente para o evento, falando sobre a origem das raízes ibero-americanas e sua influência na cidadania da região na sociedade atual. Após sua apresentação, o público assistiu a um show do cantor e compositor de música popular brasileira João Bosco.

A conferência que abriu os trabalhos, no dia 17, teve como tema Os parâmetros da cidadania no século 21 – Novos direitos, novas responsabilidades. Liszt Benjamim Vieira, presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e mestre em ciências sociais pela Universidade de Paris, fez um histórico do conceito de cidadania e falou sobre a evolução do termo “”sociedade civil”” e seu papel na atualidade.

“”Em alguns casos, para decisões internacionais, uma organização não-governamental tem mais peso do que a máquina estatal. As ONGs permeiam e influenciam fortemente os organismos internacionais. Umas mais, outras menos, mas influenciam””, afirmou Vieira.

No decorrer do dia, as mesas de debates e os painéis de experiências reuniram especialistas do Brasil, México, Portugal, Argentina, Colômbia, Venezuela e Estados Unidos. O tema principal foi a democracia. A partir dele, tratou-se do papel dos organismos multilaterais no equilíbrio da ordem mundial, da cultura e do desenvolvimento social como fatores de integração regional da América Latina, da inserção de temas sociais na agenda de debates dos organismos internacionais e da participação do terceiro setor na governabilidade mundial.

Na terça-feira (18/5), o cientista social e pesquisador do MIT Media Lab (EUA), Federico Casalegno, fez a conferência intitulada Cidadania e tecnologia – Produção e propriedade do conhecimento como instrumentos de inserção social. Ele falou sobre mídia, informação e cidadania e afirmou que a relação entre estes três conceitos, que estão intimamente relacionados com a democracia, é crucial. “”Só por existirem, as novas mídias não necessariamente apóiam a democracia. Precisamos aprender a interagir. No modelo de comunicação pela internet, ainda há hierarquia. Se por um lado a maioria tem acesso, por outro, isso ainda não é homogêneo. Por isso é preciso criar um modelo paralelo de sociedade, no qual as pessoas sejam atores e autores da informação.””

A criação e a circulação de conhecimento continuaram sendo os eixos das discussões e apresentações de casos durante a tarde. Foi debatido o papel da educação para o exercício da cidadania, o problema do controle da circulação de informação, as redes sociais como uma alternativa para a democratização do conhecimento e a inclusão digital na América Latina.

O secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), Rubens Ricupero, fez a conferência que abriu o último dia do Encontro. Em uma apresentação aplaudida diversas vezes pelo público presente, o ex-ministro da Fazenda falou sobre concentração de renda, desigualdade e pobreza. (leia a matéria completa nesta edição)

Uma das mais concorridas mesas de debates trouxe o presidente do Conselho da Fundação Avina, Brízio Biondi-Morra, e o presidente da Philips do Brasil e América Latina, Marcos Magalhães. O mediador foi Oded Grajew, presidente do Instituto Ethos. Entre outros temas, eles discutiram a responsabilidade social empresarial como nova forma de fazer negócio.

“”A partir da perspectiva do empresário, estas novas formas de fazer negócio são significativas, quase radicais””, afirmou Biondi-Morra. Ele disse ainda que esta revolução não é passageira, pois agrega desenvolvimento pessoal e criação de oportunidades – para a empresa e para a comunidade – e porque está em jogo a sobrevivência da empresa e da sociedade. “”Não posso conceber que uma empresa seja bem-sucedida em longo prazo numa sociedade fracassada. Ao mesmo tempo, também não é possível imaginar uma sociedade bem-sucedida com empresas fracassadas””, alertou o presidente da Avina.

As demais mesas e painéis de experiências trataram do conceito de capital social na América Latina, a validade dos índices estatísticos na mensuração do desenvolvimento humano e social e o desafio de realizar projetos que conciliem a preservação do meio-ambiente com a geração de renda para as comunidades que vivem em áreas de proteção ambiental.

Paralelamente ao evento, de 17 a 19 de maio, aconteceu a Mostra de Iniciativas Sociais, que reuniu mais de 30 instituições, entre empresas, fundações e institutos de origem empresarial, ONGs, organizações governamentais, organismos internacionais, federações, câmaras de comércio e revistas voltadas à temática do terceiro setor. Todos tiveram a oportunidade de apresentar suas ações, práticas e atividades, além de comercializarem os produtos de sua atuação social.

Na conferência de encerramento, Ruth Cardoso e Bernardo Toro reforçaram a importância do diálogo entre terceiro setor e Estado. Na seqüência, o público presente assistiu a uma apresentação exclusiva da Orquestra Acordes Pão de Açúcar, programa de ensino coletivo de música do Instituto Pão de Açúcar, que reúne 40 jovens de 10 a 18 anos. Eles foram acompanhados pelo grupo Madeira de Vento e apresentaram músicas de Ary Barroso, Tom Jobim e Milton Nascimento, entre outros.

Logo após a apresentação da orquestra, Joaquim Falcão transmitiu a presidência do Movimento Ibero-Americano do Terceiro Setor ao argentino Rodolfo Borghi, presidente da Fedefa (Federación de Fundaciones Argentinas). O próximo Encontro acontece no México, em 2006, e será organizado pelo Cemefi (Centro Mexicano para a Filantropia). Jorge Villalobos, presidente executivo da organização, apresentou um vídeo com uma pequena retrospectiva dos eventos anteriores e um convite para o próximo.

O 4º Congresso GIFE sobre Investimento Social Privado também acontecerá em 2006, ainda sem local definido. A primeira edição foi em Vitória (Espírito Santo) e a segunda em Fortaleza (Ceará) visando incentivar a participação das empresas na resolução das desigualdades brasileiras e fomentando a discussão e o debate sobre temas pertinentes a essa prática.

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