Evolução do investimento social é permanente

Por: GIFE| Notícias| 01/10/2007

Rodrigo Zavala

Na última semana, mais de 60 especialistas em investimento social privado se reuniram em São Paulo para discutir o futuro da filantropia na América Latina. O evento, promovido pelo Instituto do Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), com apoio do GIFE, partia da premissa de que os desafios socioambientais mundiais são similares e que a expertise local, nos diferentes países latinos, poderia mostrar novas formas de enfrentar essas questões.

Ao final do Fórum de Lideranças, o que se pôde constatar, segundo as falas dos participantes, é que o movimento está em constante e gradual transformação. Nos três dias de debates, os convidados apresentaram um panorama do setor, apontando instabilidades políticas, legislações precárias e a confusão entre os papéis do Estado e sociedade civil organizada como os grandes impeditivos para a evolução do investimento.

No entanto, não foram poucos aqueles que argumentaram como correta a idéia de que ainda é preciso o próprio setor privado criar formas mais estratégicas de atuar pelo bem comum. “”Não há uma cultura de financiamento na América Latina. O México é um exemplo disso: no país há apenas 250 organizações doadoras. Isso é uma vergonha para um país desse porte””, argumentou o presidente do Centro Mexicano para a Filantropia (Cemefi), Jorge Villalobos.

Na mesma linha crítica, a coordenadora-geral do Grupo de Fundações e Empresas Argentinas (GDFE), Carolina Langan, foi bastante enfática ao analisar se o investimento social privado coopera para a visão sustentável de desenvolvimento desses países. “”Na América Latina o ISP é principalmente caracterizado pela assistência social, influenciado, principalmente pela caridade cristã””, defendeu.

Nesse contexto, o desenvolvimento de uma visão sistêmica dos que investem apareceu como a tônica dominante. “”O que buscamos é um setor mais sofisticado e profissionalizado, com formas mais inovadoras de financiamento. O pensar nas causas e não nos efeitos dos problemas sociais tornou-se o grande desafio para aqueles (financiadores) que buscam um retorno de suas doações”” argumentou o diretor executivo da Charities Aid Foundation (CAF), Russel Prior, co-realizador do evento.

Doação X Investimento

Embora as considerações sobre os investimentos sociais de origem privada pareçam incômodas, elas apenas refletem uma autocrítica do setor, que busca melhorar sua atuação. Segundo o gerente corporativo de responsabilidade social empresarial do Grupo Arcor, Cláudio Giomi, a mudança do conceito de donativo para investimento, ocorrida nos últimos anos, deu início a um processo de profissionalização dos gestores sociais.

“”Foi possível perceber que não é mais possível manter ações improvisadas, amadoras, com uma visão parcial da realidade. Hoje, isso parece muito claro, mas não era há um par de anos””, afirmou o gerente corporativo.

Em um efeito cascata, essas novas preocupações impactaram fortemente nas políticas sociais das empresas. “”A mudança é gradual. As ações, até então pontuais e dispersas, dão cada vez mais espaço a programas permanentes, com monitoramento e acompanhamento constante””, afirmou o coordenador de investimento social da Asociación Los Andes de Cajamarca, do Peru, Flavio Flores.

Outro indicador positivo da evolução do trabalho social do setor privado está na incorporação do desenvolvimento local e sustentável como fim. “”Isso mostra um maior envolvimento das organizações. É o tal trabalhar junto em vez de para“”, afirmou Flores.

Esses elementos em conjunto explicam o aumento da consciência da população sobre a importância do investimento social privado. Segundo o diretor da Fundação Empresários pela Educação da Colômbia, Guillermo Carvajalino, isso é possível pelo fato de haver mais recursos e um maior número de atores envolvidos em ações sociais. “”Ao abrir espaço para um trabalho conjunto em grandes processos de mudança, o reconhecimento é muito maior””, disse.

Carvajalino também ressaltou a importância de organizações como, por exemplo, o Fórum Instituiciones y Empresas, a Rede Interamericana de Investigação do Investimento Social, dentre outras organizações, que operam como grandes articulares de políticas sociais da iniciativa privada. “”Hoje vemos crescer as redes de aprendizagem que não estão mais vinculadas apenas às empresas ou ao governo. São redes intersetoriais, que vinculam os poderes público e privado””, disse.

O secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti, fez coro a Carvajalino, considerando que a existência de organizações como o GIFE e o Ethos, no Brasil, por exemplo, reforçam o fortalecimento da infra-estrutura da sociedade civil.

Ao falar sobre a importância do Fórum de Lideranças ocorra no Brasil, Rossetti é enfático: “”Os problemas discutidos nesse evento mostram que o Brasil está alinhado aos debates internacionais sobre o tema, já que se trata de uma preocupação internacional. Não há bibliografia, pesquisas ou estudos consistentes para se apoiar. A solução será baseada em diálogos sistemáticos como o realizado no encontro””, acredita.

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