Falta apoio para o desenvolvimento de organizações financiadoras
Por: GIFE| Notícias| 28/07/2003MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE
Lançado pelo GIFE e pelo Instituto Synergos, o Guia Prático para a Criação de Organizações de Financiamento de Projetos Sociais traz informações e exemplos de formação de organizações financiadoras de projetos sociais.
Em entrevista ao redeGIFE, Shari Turitz, vice-diretora do programa de países do Synergos e uma das autoras do livro, fala sobre o assunto.
redeGIFE – Quais diferenças podem ser identificadas entre o processo de criação de uma instituição de financiamento de projetos sociais e o de outras organizações, que apenas recebem recursos?
Shari Turitz – A principal diferença é que as instituições de financiamento enxergam como uma de suas principais responsabilidades a canalização de recursos para outras organizações da sociedade civil. Muitas também operam programas, mas elas se vêem mais como um mecanismo de suporte financeiro para a sociedade civil. Essas organizações também têm de prestar contas para seus mantenedores, além de se preocupar com a convergência de interesses dos beneficiários de suas doações e dos seus mantenedores.
O principal foco de uma ONG é captar recursos para os programas que ela acredita serem importantes para a sociedade. Já uma instituição de financiamento tem que ver seus mantenedores como “”clientes”” e pensar em como atender aos seus anseios. Ela também funciona como uma ponte e ajuda a aproximar doadores e ONGs.
redeGIFE – O que é fundamental para a formação de uma instituição financiadora?
Shari – É fundamental que ela tenha um Conselho Diretor forte, que assuma a responsabilidade pela construção da instituição. Ser um conselheiro de uma instituição financiadora significa ter um papel ativo no desenvolvimento da organização. Também é essencial que os primeiros membros da equipe técnica entendam o papel diferenciado que uma instituição financiadora tem em relação a ONGs e empresas.
O fato de que há poucos modelos no Brasil a serem seguidos torna mais difícil o processo de criação de uma identidade. O Instituto Synergos, em parceria com o GIFE, trabalha para levar às instituições financiadoras em formação casos exemplares de outras localidades para que elas possam entender melhor seu papel.
redeGIFE – Quais as maiores dificuldades enfrentadas por uma organização que deseja ser financiadora?
Shari – Mais do que tudo, creio que seja a falta de compreensão da sociedade sobre o papel vital dessas organizações, o que leva a uma dificuldade para obter apoio. A falta de incentivos fiscais para este tipo de instituição também não ajuda, mas eu acredito que a falta de conhecimento é um obstáculo ainda maior.
redeGIFE – Existe uma estrutura ideal de equipe para uma instituição de financiamento de projetos sociais?
Shari – Não há uma estrutura ideal para este tipo de organização. Elas devem ter funcionários especializados no desenvolvimento de programas e projetos, pois essas pessoas estão mais capacitadas para identificar as melhores entidades para receber recursos. Também é preciso ter uma pessoa especializada em gestão financeira e contabilidade, já que a principal atividade da instituição será o gerenciamento de fundos. Por fim, a instituição vai precisar de pessoas que sejam capazes de captar recursos.
A maioria destas organizações também necessita de um diretor executivo com presença e que funcione como um “”rosto”” da instituição na sociedade.
redeGIFE – Qual a importância dos fundos patrimoniais para a sustentabilidade dessas organizações? Eles têm sido bem utilizados?
Shari – Os fundos patrimoniais são essenciais para a construção de uma instituição financiadora forte, independente e capaz de atender às várias necessidades financeiras e técnicas das organizações da sociedade civil. Na maioria dos países em desenvolvimento, os fundos patrimoniais são pequenos e ainda não têm um papel de destaque na manutenção da sustentabilidade das instituições financiadoras. Onde eles existem, estão sendo largamente utilizados e parte do trabalho do Instituto Synergos é pegar essas experiências e compartilhá-las com instituições que ainda estão construindo seus fundos patrimoniais.
redeGIFE – Como as organizações financiadoras costumam comunicar suas ações, tanto para seus beneficiados quanto para o público em geral?
Shari – A maioria dessas organizações publica relatórios anuais e possui sites descrevendo suas atividades. As instituições mais sofisticadas têm relações próximas com meios de comunicação, o que contribui para uma maior difusão das atividades.
redeGIFE – Além da doaçãode recursos, que outras ações essas instituições desenvolvem para apoiar outras organizações?
Shari – Muitas dessas instituições também oferecem capacitações para o seu público em diversas áreas, como elaboração de projetos e avaliação de impacto. Em alguns casos, essas organizações também ajudam os seus apoiados a captarem mais recursos e também estimulam a criação de redes entre eles, para a troca de experiências.
redeGIFE – No que diz respeito às estratégias de ação, quais são as diferenças entre as organizações da América Latina, África e Ásia, em comparação às européias e norte-americanas?
Shari – As instituições financiadoras na América Latina, África e Ásia tendem a ser híbridas, ou seja, financiam e também operam programas. As da América do Norte e Europa têm no financiamento de terceiros sua principal atividade. Mas isso pode variar de país para país.
redeGIFE – Como foi feita a escolha das organizações que aparecem no livro?
Shari – São instituições reconhecidas por seus programas. Com algumas nós já trabalhávamos, e as demais foram recomendadas ao Instituto Synergos por causa dos seus projetos exemplares.