Famílias de alto patrimônio manifestam interesse na filantropia, mas apenas metade está envolvida com o tema
Por: GIFE| Notícias| 12/08/2024Embora 83% das famílias de alto patrimônio no Brasil manifestem interesse na filantropia, apenas metade está consistentemente envolvida com o tema. Além disso, mais de 25% não têm um padrão para realizar doações anuais. As informações são da pesquisa “Famílias de Alto Patrimônio no Brasil – Investimento de Impacto e Filantropia”, realizada pela Sitawi Finanças do Bem.
A pesquisa base para o estudo foi conduzida online, entre julho e setembro de 2023, com 28 respondentes. Um dos desafios foi garantir que o perfil da ‘amostra’ se aproximasse do perfil do ‘universo’, isso porque há uma grande diversidade de famílias de alto patrimônio no país, estimadas em mais de 40 mil (patrimônio conjunto estimado acima de R$ 3 trilhões). Além do perfil mais reservado desse grupo em relação a informações financeiras.
“As famílias de alto patrimônio no Brasil detêm um volume de capital com potencial de gerar transformações significativas e influenciar comportamentos para além de seus círculos. Portanto, suas práticas de alocação de investimentos e filantropia são relevantes para esses setores e precisam ser mais conhecidas”, afirma Silvia Daskal, gerente sênior de Parcerias Institucionais da Sitawi.
Um cenário de potencialidades
Na análise de Rodrigo Pipponzi, integrante da terceira geração da família fundadora da Droga Raia e cofundador da Editora MOL, cada vez mais famílias de alto patrimônio estão conscientes do poder da filantropia, mas ainda têm muitas dificuldades em criar estratégias consistentes.
“A gente vê um crescimento de interesse, mas o assunto ainda está muito distante de mandatos mais efetivos, estruturas mais sólidas, planejamento, especialmente muito distante dos family offices. É um cenário de potencial.”
Para Silvia Daskal, o estudo aponta caminhos promissores para a alocação de recursos. No caso da filantropia, ela aponta um desafio significativo na sua integração às práticas regulares e estruturadas de gestão de patrimônio. Já em relação a investimento de impacto, destaca que a alocação dos recursos ainda é direcionada a um portfólio mais tradicional.
“Por outro lado, quando perguntamos se essas famílias pretendem fazer algum movimento diferente de alocação desse capital em um período de 1 a 3 anos, a resposta é positiva.”
Avaliar impacto é o maior desafio
Um dos tópicos do estudo se dedica a pensar especialmente as barreiras e alavancas para aumentar o investimento de impacto. A dificuldade em avaliar o real impacto do investimento se sobressai, sendo apontada por 100% dos respondentes.
Para Rodrigo Pipponzi, existe um vício do mercado financeiro em criar indicadores para tudo, o que nem sempre é possível. “É muito difícil mensurar o impacto de alguns investimentos de forma objetiva como se faz no setor privado”. Em paralelo, o empreendedor social acredita que é importante as organizações encontrarem estratégias para apresentar essas evidências.
“A mensuração do impacto é importantíssima, afinal os investidores se engajam justamente pelo retorno que excede o econômico”, avalia Luiza Valle, gerente de Parcerias e Relacionamento em Investimento de Impacto da Sitawi. Mas lembra que apenas cobrar a mensuração não basta, é preciso achar caminhos para priorizá-la. “Parte da resposta está em identificar projetos que deem destaque à essa etapa.”
Tendências
O interesse das famílias de alto patrimônio em relação à filantropia estratégica é um dado do levantamento para o qual Silvia Daskal chama atenção. Resultado incomum, já que o mais tradicional são famílias doando para organizações que atuam na ponta. “Esse grupo de respondentes já entende que também precisam doar para organizações dinamizadoras e intermediárias, que promovem advocacy e esforços setoriais, para ter um impacto maior no ecossistema.”
A aposta de Rodrigo Pipponzi para o futuro da atuação das famílias de alto patrimônio no campo, é a influência da nova geração.
“As famílias de alto patrimônio vão começar a transferir recursos para as novas gerações, que vão herdar com um olhar de mais responsabilidade sobre o impacto, porque é a geração que vai vivenciar a intensidade dos problemas que já estão acontecendo. É uma tendência que vamos observar muito nos próximos anos”, projeta.