FEAC apoia criação de áreas verdes em espaços escolares para aproximar crianças da natureza

Por: Fundação FEAC| Notícias| 14/08/2023
FEAC apoia criação de áreas verdes em espaços escolares para aproximar crianças da natureza

Não ter uma área verde adequada perto de casa é um cenário comum a muitas famílias brasileiras, como mostra a pesquisa O papel da natureza para a saúde das crianças no pós-pandemia, de 2021, encomendada pelo programa Criança e Natureza do Instituto Alana em parceria com a Fundação Bernard Van Leer e o WWF-Brasil.

Uma consequência disso é que, logo na primeira infância, as crianças se distanciam da natureza e se isolam em ambientes fechados. O direito da criança de brincar e aprender ao ar livre, conforme é recomendado pelo Manual de orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), é ignorado.

A Fundação FEAC reconhece que a natureza valoriza o potencial da criança e possibilita a ela viver experiências importantes, além de proporcionar desenvolvimento pleno e bem-estar. As brincadeiras ao ar livre despertam a criatividade dos pequenos e possibilitam novas descobertas e conhecimentos.

Por isso, uma das frentes de atuação da FEAC busca assegurar o acesso das crianças às áreas verdes e ressignificar os espaços escolares para que valorizem a aprendizagem e o brincar ao ar livre. “O Programa Infância em Foco, desde o seu surgimento, tem a preocupação permanente em qualificar espaços escolares e possibilitar que as crianças tenham mais contato com a natureza”, ressalta Stelle Goso, líder do Programa da FEAC.

Em 2022 e 2023, a Fundação FEAC investiu R$ 965 mil em projetos destinados à criação de áreas verdes em Organizações da Sociedade Civil (OSC) de educação infantil. Mais de 2.200 crianças de 13 escolas em Campinas foram impactadas – e as ações não param por aí.

Em junho, a FEAC anunciou o Edital Verdejando Escolas, em parceria com a OSC CoCriança. Três OSC colaboradoras de educação infantil de Campinas foram selecionadas para reformarem seus espaços e adotarem práticas pedagógicas que aproximem a criança da natureza. Para mais informações acesse www.cocrianca.com.br/verdejandoescolas.

Muitas crianças ainda não têm acesso à natureza

A dificuldade de acesso a áreas verdes atinge principalmente as populações de regiões vulnerabilizadas. No ano passado em Campinas, a instituição parceira Espaço Crescer e Vencer realizou uma pesquisa com as famílias das crianças que frequentam a OSC para o Projeto Verdejando as Aprendizagens, apoiado pela Fundação FEAC.

O projeto tem como objetivo qualificar os espaços de ensino para impulsionar o desenvolvimento infantil e aproximar os pequenos da natureza. Para poder seguir adiante com a iniciativa, a equipe da OSC precisava entender qual era o nível de aproximação das crianças com o meio ambiente.

A pesquisa investigou se as crianças moravam em casa com quintal e, se sim, qual o tamanho da área; se em momentos de lazer, os pais ou responsáveis levavam as crianças a parques ou praças; se havia espaços ao ar livre seguros perto de casa; se os pequenos brincavam na rua e/ou em contato com elementos da natureza como plantas, animais e água, entre outras informações.

Os resultados se revelaram preocupantes. Quase todas as crianças (81,7%) não moram em casa com área verde. Os brinquedos de plástico estão presentes nas brincadeiras de 76% dos pequenos, e o contato diário com aparelhos eletrônicos também é elevado, 68%.

A pesquisa também descobriu que:

  • 79% das crianças têm contato com a natureza apenas uma ou duas vezes na semana.
  • 15% não têm contato algum com áreas verdes.
  • 38% não têm quintal com área verde.
  • 73% das crianças estão expostas a adversidades quando brincam ao ar livre no bairro onde moram.

Por que aproximar as crianças da natureza?

Cores, texturas, cheiros, gostos, sons. A natureza é rica em elementos que aguçam os sentidos das crianças.

Observar pássaros e insetos, sentir a textura dos troncos, brincar com galhos e folhas, correr na terra e cheirar plantas e flores são atividades que contribuem para um desenvolvimento cognitivo saudável e para o fortalecimento do sistema imunológico, de acordo com o Manual de orientação da SBP.

Gabriel Salgado, coordenador da área de educação do Instituto Alana, destaca outros benefícios, como um melhor relacionamento da criança com o mundo, com o ambiente onde ela está inserida e com os outros ao redor. Ao ar livre, ela está em constante aprendizado ativo, no qual ela pode expandir sua comunicação, sociabilidade, imaginação, criatividade e repertório.

“Por isso a gente sempre pauta junto com o fortalecimento do convívio da criança com a natureza a importância do brincar livre. Principalmente para as crianças pequenas, é importante estar na natureza livremente para poder se desenvolver na sua máxima potência”, explica Gabriel Salgado, coordenador na área de educação do Instituto Alana.

Os benefícios do contato com a natureza de fato são demonstrados pela pesquisa O papel da natureza para a saúde das crianças no pós-pandemia. Mais de 90% das famílias entrevistadas relataram que o humor e a disposição das crianças melhoraram quando brincaram ao ar livre.

As famílias também testemunharam outras mudanças positivas no comportamento dos pequenos quando estão na natureza, como melhora na qualidade de sono, diminuição do interesse por aparelhos tecnológicos e baixa incidência de sintomas de estresse e ansiedade.

Escola é a ponte entre a criança e a natureza

A escola é uma das grandes promotoras dos direitos das crianças. Com a ausência de áreas verdes em bairros de moradia, ela desempenha um papel fundamental em conectar os pequenos à natureza. Principalmente porque é o lugar onde eles passam boa parte do dia.

“Se eventualmente as famílias não conseguirem proporcionar o acesso das crianças à natureza por uma série de fatores estruturais – de desigualdades, de classe, de raça, de gênero e de região –, a escola pode atuar como uma grande promotora desse direito buscando também a redução das desigualdades”, aponta Gabriel Salgado.

Os editais da Fundação FEAC, conduzidos pelo Programa Infância em Foco, propõem um novo olhar à escola sob o conceito de “desemparedamento”. O termo foi criado pela professora e doutora em Educação Léa Tiriba para ressignificar os aprendizados e as brincadeiras da criança ao aproximá-la da natureza.

Mais do que “desemparedar”, a FEAC também acredita na “renaturalização” dos espaços, ou seja, em restituir o aspecto natural perdido. Providenciar nas escolas iluminação e ventilação naturais, maior acesso às áreas externas e um contato mais próximo das vidas vegetal e animal.

“Depois de lançar o edital Novo Olhar para os Espaços Escolares, que já tinha esse foco do ‘desemparedamento’, em incentivar projetos focados em tornar os espaços mais naturais, percebemos que as escolas começaram a mergulhar mais nessa temática”, diz Stelle Goso, líder do Programa Infância em Foco, sobre o aumento do interesse das escolas em possibilitar aos alunos o acesso à natureza.

A construção de uma educação ambiental

Em uma época na qual os índices de desmatamento e de mudanças climáticas são alarmantes, o contato precoce com a natureza também é um fator importante para a valorização da biodiversidade e a adoção de práticas sustentáveis. A educação ambiental é essencial para conscientizar as novas gerações sobre as necessidades ecológicas do planeta.

De acordo com o artigo 29 da Convenção sobre os Direitos da Criança, tratado mundial que visa a proteção de crianças e adolescentes criado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), é obrigação dos países signatários imbuir na criança o respeito pela natureza no sistema de educação – entre eles o Brasil, que ratificou o documento em 1990.

“É uma via de mão dupla. Para além do contato com o meio ambiente, que possibilita o desenvolvimento integral das crianças, fortalece também os vínculos para que ela possa se corresponsabilizar pela proteção, conservação e cultivo da natureza”, diz Gabriel Salgado.

O contato com a natureza estimula uma alimentação saudável

Os projetos apoiados pela Fundação FEAC têm apresentado resultados positivos em Campinas. As escolas relatam que houve uma melhora significativa no convívio dos pequenos. Há menos conflitos e momentos de irritação e eles demonstram bem-estar e estão se alimentando melhor.

Um exemplo é o Projeto Parque Feliz, realizado pela OSC Associação Evangélica Assistencial (AEA), na unidade Vila Formosa, com apoio da FEAC. Uma das ações foi a construção de uma horta com temperos que são utilizados nos preparos das refeições.

A horta incentiva uma educação alimentar saudável nas crianças, permitindo que elas conheçam novos cheiros, texturas e gostos e ampliem o repertório do paladar. Elas se interessaram tanto que percebem quando a refeição não está temperada com os cultivos e fazem questão de elas mesmas buscarem os temperos na horta.

“O projetou apoiou o processo de conhecimento de novas espécies de plantas. As crianças sabem qual é o tomilho, o orégano, o manjericão. Teve desenvolvimento sensorial porque elas cheiram, saboreiam, apreciam. Torna a relação com o alimento mais afetiva, mais próxima e mais positiva”, observa Stelle Goso.

As crianças se sentem responsáveis ao cuidarem da horta com o auxílio da equipe de cozinha da AEA Vila Formosa, que também exerce um papel educativo no espaço. A horta é uma oportunidade para que elas fortaleçam os vínculos com as educadoras e se sintam pertencentes.

“É um incentivo para uma alimentação saudável. O fato de as crianças estarem em maior contato com a área externa, com elementos naturais, as tornam mais calmas. E isso, consequentemente, impacta na qualidade das relações entre elas, com as educadoras e nas experiências de aprendizado e de alimentação”, diz Stelle Goso.

Por Pietra Bastos

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