“Filantropia e desigualdade” será tema de novo debate online do GIFE

Por: GIFE| 9º Congresso GIFE| 22/02/2016

“A filantropia hoje já tem um papel no combate à pobreza ao apoiar projetos e iniciativas de organizações sociais que atuam seja para influir políticas sociais, seja para atividades diretas com comunidades. O debate sobre a concentração de riqueza e suas consequências no combate à pobreza deveria também fazer parte da agenda das instituições filantrópicas. Não só quanto à desigualdade econômica, mas também quanto às desigualdades geradas pelas questões de gênero e raça. Trabalhar contra a desigualdade significa abordar questões estruturais”.

O convite para este novo olhar para a filantropia é de Katia D. Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, convidada para participar do próximo debate online a ser realizado pelo GIFE, no próximo dia 23 de fevereiro, que terá como tema “Filantropia e Desigualdade” (clique aqui para participar).

A conversa contará também com a presença de Nilcea Freire, representante da Fundação Ford no Brasil, organização associada ao GIFE e que tem longa trajetória de trabalho, principalmente no campo dos direitos humanos, de gênero e de equidade racial, e estabeleceu uma nova estratégia global de atuação que terá como eixo central será a “desigualdade” (veja matéria completa no site sobre o novo posicionamento da Fundação).

O debate online é um aquecimento para a conferência especial sobre este tema que acontecerá no 9ºCongresso GIFE, com a presença de Darren Walker, presidente global da Fundação Ford. Em recente artigo publicado no “The New York Times”, inclusive, Walker defendeu a ideia de que não basta retribuir à sociedade, mas é preciso combater as causas estruturais das desigualdades. Em outras palavras, a filantropia não pode mais lidar simplesmente com o que está acontecendo no mundo, mas também deve questionar a forma como isso tem acontecendo e o porquê.

“Alimentar os famintos está entre as obrigações mais fundamentais da nossa sociedade, mas também devemos questionar por que os nossos vizinhos estão sem alimentos nutritivos para comer. Dar casa aos sem-teto é um imperativo, mas também devemos questionar o porquê nossos mercados de habitação são tão distorcidos. Como uma nação, precisamos de mais investimento na educação, mas não sem questionar as disparidades educacionais com base em raça, classe e geografia”, disse Walker no artigo (tradução para o português).

Na visão da diretora da Oxfam Brasil, é essencial que a filantropia encontre pontos de convergência entre às iniciativas ligadas à luta contra a pobreza e os temas de desigualdade. “Em última instância, a participação das pessoas e comunidades e a cidadania ativa é que farão a diferença na transformação do nosso país em uma sociedade mais justa e menos desigual”, acredita.

“Por isso, é importante que os ‘investimentos sociais’ considerem a necessidade do fortalecimento de comunidades, grupos organizações como sujeitos sociais que precisam ser empoderados na defesa de seus direitos. Neste momento acreditamos que também é preciso conectar temas setoriais com a discussão mais ampla sobre a desigualdade econômica extrema e seu impacto na construção de uma sociedade mais justa. Ao mesmo tempo, os investimentos sociais devem considerar que a defesa dos direitos humanos é parte fundamental no combate à pobreza e à desigualdade”, completa Katia.

Desigualdade

Discutir a temática se torna essencial frente à crise da desigualdade global, que está chegando a novos extremos. Segundo o relatório da Oxfam “A Economia para o 1%”, apresentado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, o 1% mais rico da população mundial detém mais riquezas atualmente do que todo o resto do mundo junto. Ao mesmo tempo, a riqueza detida pela metade mais pobre da humanidade caiu em um trilhão de dólares nos últimos cinco anos.

A Oxfam calculou que, em 2015, apenas 62 indivíduos detinham a mesma riqueza que 3,6 bilhões de pessoas – a metade mais afetada pela pobreza da humanidade. Esse número representa uma queda em relação aos 388 indivíduos que se enquadravam nessa categoria há bem pouco tempo, em 2010.

A riqueza destas 62 pessoas mais ricas do mundo aumentou em 44% nos cinco anos decorridos desde 2010 – o que representa um aumento de mais de meio trilhão de dólares (US$ 542 bilhões), que saltou para US$ 1,76 trilhão. Ao mesmo tempo, a riqueza da metade mais pobre caiu em pouco mais de um trilhão de dólares no mesmo período – uma queda de 41%.

De acordo com o estudo, se a desigualdade dentro dos países não tivesse aumentado no mesmo período, outros 200 milhões de pessoas teriam saído da pobreza. Esse número poderia ter chegado a 700 milhões se as pessoas em situação de pobreza tivessem sido mais beneficiadas pelo crescimento econômico do que os ricos.

O documento aponta ainda que os poderes e privilégios estão sendo usados para distorcer o sistema econômico, aumentando a distância entre os mais ricos e o resto da população. Uma rede global de paraísos fiscais permite que os indivíduos mais ricos do mundo escondam 7,6 trilhões de dólares das autoridades fiscais. “A luta contra a pobreza não será vencida enquanto a crise da desigualdade não for superada”, diz o documento.

A diretora da Oxfam destaca que, a experiência de trabalho da organização nos 94 países onde atua, vem mostrando que a desigualdade econômica é um grande obstáculo à luta contra a pobreza.

“A distribuição de riqueza dentro de um país tem impacto na possibilidade de governos executarem políticas sociais necessárias para o enfrentamento da pobreza como, por exemplo, nos setores de saúde e educação. Também tem impacto nas oportunidades de vida das pessoas já que em uma sociedade muito desigual as pessoas mais pobres têm menos chances de romper com sua situação econômica. Ela ainda prejudica o desenvolvimento de uma sociedade quando em grandes momentos de crescimento econômico a riqueza gerada fica concentrada numa pequena parcela da população e impede que o país dê grandes saltos de desenvolvimento social”, explica.

Diante desse cenário, a Oxfam está chamando as lideranças mundiais para que tomem medidas e recomenda que sejam adotadas ações no sentido de: garantir o pagamento de um salário digno aos trabalhadores e fechar a distância com as bonificações dos executivos; promover a igualdade econômica e os direitos das mulheres; controlar a influência de elites poderosas; dividir a carga tributária em bases justas; entre outras. Por fim, aponta que é preciso um acordo mundial em torno de uma abordagem global para pôr fim à era dos paraísos fiscais.

Para participar do 9º congresso:

Associe-se!

Participe de um ambiente qualificado de articulação, aprendizado e construção de parcerias.

Apoio institucional