Financiador não interfere na autonomia da ONG, aponta Abong

Por: GIFE| Notícias| 30/08/2010

As relações entre organizações sociais e os financiadores de origem privada nem sempre foram consideradas as mais amigáveis. No entanto, uma pesquisa divulgada, no último dia 24, pela Associação Brasileira de ONGs (Abong), mostrou que muito do que se diz sobre esse relacionamento pode ser apenas mais um mito do setor social.

O levantamento “Sustentabilidade das ONGs no Brasil: acesso a recursos privados”, realizado com apoio da Oxfam GB, ouviu o que 25 organizações associadas à Abong tinham a dizer sobre os desafios enfrentados por elas, quando financiadas pelo setor privado, para aprofundar o debate sobre sustentabilidade.
“Elas não reportaram imposição ideológica ou excesso de preocupação com a marca por parte de quem as financia. Apresentaram uma relação tranquila, provando que está se formando um ponto de intersecção entre as organizações sociais e as empresas, fundações e institutos corporativos”, explica Vera Masagão, integrante da diretoria executiva da Abong.

Segundo ela, a maioria das formas de relação com os fundos privados não se estabelece através de uma busca ativa por parte da ONG, mas sim a partir da ação dos próprios fundos. Em muitos casos há a mediação de terceiros, no caso, aqui, os institutos e fundações.

“A interferência de doadores na condução dos projetos e ações de organizações donatárias é tema de discussões, frequentemente permeadas de ideologia e estereótipos. Apesar de haver uma forte dimensão política nessa relação, que não deve ser negligenciada, é importante colocar em perspectiva o cerceamento da autonomia das organizações por parte de seus financiadores”, acredita o gerente da área de Conhecimento do GIFE, Andre Degenszajn.
Para ele, as organizações tendem a buscar apoio para as ações que pretendem realizar, dentro das suas capacidades e missão. “A dificuldade de acesso aos recursos privados se deve também à incompatibilidade de objetivos e forma de atuação. Caso contrário, se as organizações agissem a serviço das empresas, haveria muito mais recursos sendo destinados a essas instituições”, argumenta.

Recursos internacionais
O lançamento da pesquisa foi acompanhado por um seminário realizado no Instituto Itaú Cultural , em que, entre os temas debatidos, destaca-se a mesa “Sustentabilidade das organizações da sociedade civil e a iniciativa privada”. Nela, representantes da Fundação Avina, Neylar Lins, e do GIFE, Andre Degenszajn, foram convidados a apresentar dados mais contextuais ao estudo.
Um dos pontos centrais postos em discussão foi o da diminuição e saída dos recursos destinados pelas agências de cooperação internacional ao movimento social brasileiro. Segundo levantamento elaborado pelo Instituto Fonte, apresentado pela Neylar, os investimentos estrangeiros para o terceiro setor devem cair 49,9% de 2009 para 2010.

A representante da Fundação Avina explicou que a principal razão para o fenômeno seria o recente desenvolvimento econômico do Brasil, que teria feito do país alvo de ações menos emergenciais.

Além da queda prevista para este ano, a pesquisa constatou que já ouve redução no número de instituições que financiam projetos brasileiros entre 2009 e 2010. Das 30 que informaram os investimentos entre 2007 e 2010, 17% reduziram o montante entre 2007 e 2008 e 43% entre 2009 e 2010. Nesse grupo, apenas 1% das organizações estrangeiras aumentaram os recursos, contra 17% entre 2007 e 2008.
A questão é importante para as organizações associadas à Abong por um motivo simples: agências de solidariedade e cooperação internacional têm sido historicamente seus parceiros. Isto é, menos dinheiro disponível para se manterem.
De acordo com Vera Masagão, como grande parte dos fundos privados destinam recursos para projetos específicos, de curto prazo, o investimento para o desenvolvimento institucional da organização (até então suprido pelas agências) fica empobrecido. Em outras palavras, o dinheiro que entra já está vinculado a um programa e não ao fortalecimento da organização.
Por isso, as organizações sociais brasileiras que dependem de capital estrangeiro devem, como afirma Vera, ampliar o leque de doadores. “O caminho para a autonomia é a diversificação das fontes de recursos, sejam elas públicas, de empresas, pessoas físicas ou próprias da ONG”, aconselha.
Em consonância com as conclusões da Abong, o GIFE lançou no início do ano a Visão do Investimento Social Privado para 2020, que ambiciona um setor relevante e legítimo, abrangendo diversos temas, regiões e públicos, formado por um conjunto sustentável e diversificado de investidores.
Para assegurar essa abrangência é necessário ampliar a prática de doação e diversificar as estratégias de investimento. No entanto, o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti lembra que há um complicador nessa questão: a predominância do investimento corporativo, em comparação ao familiar ou comunitário.

“O investimento corporativo, mesmo o mais sofisticado e voltado ao bem comum, tem um limite: a própria marca. É muito raro uma empresa se envolver em causas ou ações sociais que podem gerar conflitos e polêmicas. Assim, é uma tendência destinar recursos a fins consensuais como educação e cultura, cujo potencial de risco é muito menor a temas como reforma agrária e defesa dos direitos humanos”, argumenta.

Assim, a Visão dedica-se a alterar esse contexto e estimular a diversidade do setor da filantropia no Brasil. Pesa para os próximos 10 anos, fomentar um ambiente mais propício para a criação de fundações independentes, sejam elas comunitárias ou familiares.

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Rodrigo Zavala –
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