Fortalecimento da economia popular requer apoio de mais organizações

Por: GIFE| Notícias| 12/05/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Para auxiliar o fortalecimento da economia nacional, algumas empresas e fundações desenvolvem e apóiam projetos de geração de renda. As ações geralmente envolvem moradores de locais com pouca perspectiva de atuação. A possibilidade de comercializar os produtos, de formar cooperativas e de combater o desemprego eleva a auto-estima e as expectativas de vida dos beneficiados e de suas famílias.

O Projeto Educação e Ambiente, desenvolvido pela Aces (Ação Comunitária do Espírito Santo), com apoio da Fundação Otacílio Coser, há quatro anos capacita adultos dos bairros de Forte São João, Cruzamento, Romão e Jucutuquara, na Grande Vitória (ES). O programa atende, direta e indiretamente, mais de 20 mil pessoas.

“”São oferecidos cursos de corte e costura, informática, manicure e pedicure e, em breve, o grupo de Jucutuquara também terá capacitação em estética e relação com o cliente””, conta a gerente do projeto, Seledyr de Azerêdo Gomes, lembrando que no primeiro ano também houve aulas de bordado, doces e salgados e embalagens.

Ela acredita que o diferencial em apoiar programas de geração de renda está na mudança de perspectiva causada na comunidade. “”Geralmente, as pessoas que entram nesse tipo de capacitação estão desesperançadas. A possibilidade de participar de projetos como esses renova completamente a visão e o foco de vida. Elas voltam a acreditar que são capazes de fazer algo por si próprias e por sua família e recuperam a auto-estima.””

Cooperativas – Desde 2001, a Fundação Telefônica investe no Programa de Geração de Renda para Mulheres Chefes de Família, destinado a melhorar as condições de vida de crianças e adolescentes. “”Na medida em que essas mães têm uma renda melhor, elas adquirem melhores condições de vida para a família, e seus filhos não precisarão trabalhar””, explica o diretor presidente da Fundação, Sérgio Mindlin.

Três organizações foram selecionadas para iniciar o programa: a Associação Mundaréu (SP), com o Projeto Comércio Justo, a Associação Saúde Criança Renascer (RJ), com os projetos Anzol e Profissionalizar, e o Pangea – Centro de Estudos Socioambientais (BA), com o projeto Mulheres Costureiras de Salvador.

Mindlin conta que, na Bahia, as costureiras conseguiram se organizar como uma cooperativa, ampliaram o número de mulheres e criaram uma grife própria de produtos, que já tem inclusive loja em um shopping de Salvador. Além disso, elas também encontraram no próprio grupo mantenedor da Fundação um mercado.

“”Com essa cooperativa também fizemos um projeto que chamamos de brinde solidário. Elas produzem e a empresa compra para eventos, presentes de final de ano, entre outras coisas. Estendemos isso para a Associação Mundaréu e sempre há alguma empresa do grupo que procura esses locais para fazer encomenda.””

O Programa de Geração de Renda para Mulheres Chefes de Família surgiu a partir de uma análise de dados do IBGE, que apontaram que 25% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres. O apoio visa a ações sociais que englobem capacitação técnica, desenvolvimento de produtos, apoio à comercialização, técnicas de gestão e cooperativismo.

São destinados cerca de R$ 600 mil por ano ao programa, mas Mindlin lembra que projetos de geração de renda dificilmente geram resultados em um ano. Por isso as três entidades continuam recebendo apoio, e outras estão sendo selecionadas. “”Mas os recursos não serão suficientes para financiar mais que duas ou três. São projetos que precisariam ser multiplicados pelo investimento de muitas outras organizações. Nós podemos fazer numa escala limitada.””

Auto-estima – Dentro de seu Programa de Geração de Renda, a Fundação Orsa desenvolveu na região do Jari (AP/PA) o Centro de Excelência da Mulher. Foi identificado que as mulheres não tinham uma presença efetiva na comunidade e era necessário investir mais em projetos que resgatassem sua atuação, mas não apenas na geração de renda.

“”Sabemos o quanto a mulher é importante para o processo de desenvolvimento do país. E não a vemos apenas como geradora de renda, mas procuramos resgatar seu papel de mulher e de mãe. Se não há uma abordagem ampliada sobre o significado disso, não conseguimos mudar as questões culturais que estão equivocadas””, diz Elizabeth Rosa, coordenadora da área de promoção social da Fundação Orsa.

A atuação envolve três pilares: resgate da auto-estima da mulher, trabalho do seu papel dentro da família e o que ela deve exercer na comunidade. Para colocar isso em prática, elas passam por um processo de capacitação e contam com um programa de microcrédito. Neste ano, o orçamento previsto para o projeto é de R$ 127 mil.

Geração de receita para ONGs – Atuando para o fortalecimento das entidades sociais sem fins lucrativos do Vale do Aço, em Minas Gerais, a Fundação Acesita criou o Vale Cidadania. Viabilizado a partir de uma parceria com a Fundação Interamericana (IAF) e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o programa tem como uma de suas ações o apoio a projetos de geração de receita.

Por meio do Fundo de Apoio a Projetos, as organizações recebem financiamento, capacitação e consultoria para a elaboração de suas ações e planos de negócio, visando a sustentabilidade.

O presidente da Fundação Acesita, Anfilófio Salles Martins, acredita que o maior desafio do projeto esteja na transição de uma cultura de dependência para uma de auto-sustentação. “”A dependência financeira é uma situação conhecida pelas entidades que têm pouco ou quase nenhum controle sobre os recursos que determinam sua ação. O maior diferencial do apoio a projetos como esse está na possibilidade de minimizar esse vínculo, alcançando uma situação na qual as entidades possam ser capazes de gerar os recursos de que necessitam.””

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