Fórum Social das Resistências reúne organizações e movimentos sociais em Porto Alegre

Por: GIFE| Notícias| 16/01/2017

Porto Alegre (RS) recebe entre 17 e 21 de janeiro o ‘Fórum Social das Resistências – por democracia e direitos dos povos e do planeta’. O encontro, que nasceu do Fórum Social Mundial (FSM), realizado pela primeira vez na cidade em 2001, acontece em um formato completamente novo e convoca a sociedade para discutir pautas democráticas e ligadas às causas humanitárias.

A proposta é uma iniciativa de várias organizações e movimentos sociais brasileiros em diálogo com agentes sociais da América Latina e do mundo. Conforme anunciado no Fórum Mundial Social de 2016, realizado em Montreal, no Canadá, a data do evento mais uma vez tem caráter simbólico, em contraponto ao Fórum Econômico de Davos, evento anual que reúne líderes empresariais e políticos na Suíça.

O evento tem caráter simbólico destacado na agenda social brasileira. Em um momento de amplo debate sobre garantia de direitos, reformas políticas e o papel das organizações e movimentos sociais como influenciadores da administração pública, os organizadores convocam a sociedade para este diálogo. Para entender melhor as motivações e as pautas propostas pelo fórum, o redeGIFE conversou com Mauri Cruz, diretor regional da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) e representante do Comitê Local do Fórum Social das Resistênciais.

Mauri explica que a mobilização que reuniu tantas organizações e movimentos sociais em torno desta iniciativa foi um processo iniciado na edição de 2016 do Fórum. “Buscamos trabalhar com uma metodologia diferenciada, que desse espaço para movimentos como o dos povos negros, das mulheres, das juventudes, dos moradores de rua. Buscamos as temáticas que circulam no universo dos direitos humanos. Isso foi muito interessante. Tivemos um Fórum em janeiro de 20016 que recuperou o espírito de militância. E, de lá, saímos com a ideia do encontro de 2017.”

Ao lembrar do último encontro e do planejamento para o Fórum de 2017, Mauri sublinha: “Aí veio 2016 e toda esta conjuntura política e econômica que nos atropelou”. O cenário que, nas palavras da organização publicada em carta aberta, é de “crescente processo de retrocessos políticos, sociais, econômicos e de aprofundamento da crise ambiental” pedia uma resposta. Assim nascia esta agenda das resistências, uma militância que tem como essência discutir a crise da democracia no país.

O mergulho na pauta das resistências foi profundo. Em diálogos com movimentos dos povos indígenas, por exemplo, Mauri explica que, para estes grupos, a resistência é secular. “Tudo isso parece uma agenda nova, mas, para alguns grupos [que historicamente têm seus direitos negados], a resistência é contínua e muito antiga.”

O evento é, acima de tudo, um grande chamado à sociedade civil para uma grande mobilização pela democracia e pelos direitos dos povos e do planeta. Nesse sentido, todos estão convocados. Mauri avalia que a pauta precisa extrapolar os núcleos dos movimentos sociais mais engajados e sensibilizar inclusive o campo democrático institucional, como os institutos e fundações que atuam com agendas mais tradicionais. “Para muitos, a ficha ainda não caiu. Quem está na resistência é apenas o campo popular. Outra parte do campo democrático brasileiro parece estar alheio. É preciso que todos se engajem.”


Agendas estratégicas e uma nova metodologia

 

Para os organizadores do Fórum, o cenário de crise das democracias, o agravamento das questões ambientais e o retrocesso na garantia de direitos é global. Mauri lembra a crise econômica de 2008 e a onda que impactou economias no mundo todo e aprofundou vulnerabilidades sociais.

“Acredito que a crise serviu para que o status quo retomasse a agenda do neoliberalismo e dos modelos não sustentáveis do ponto de vista ambiental. A partir daí percebemos um grande impacto na America Latina. A mudança no Brasil não é gratuita nesse cenário. Contudo, as estratégias de enfrentamento dessa crise, por parte dos movimentos democráticos, humanistas e ambientalistas, não são comuns. Estamos vivendo um momento de muita desarticulação.”

Para enfrentar os desafios que o cenário político e econômico propõe e fortalecer a sociedade civil, Mauri avalia que precisamos de muito diálogo, de muita cooperação para construção de agendas estratégicas capazes de aprofundar discussões e propor saídas para a crise. Mari Dutra, do coletivo SoyLocoPorTi, de Curtiba, no Paraná, que estará no Fórum, reforça a ideia de integração. “[Precisamos] de muita participação, muita união, muita conversa para nos organizarmos. O ano de 2017 já está anunciando que não vai ser fácil.”

O próprio formato do evento tenta, de certa forma, propor este exercício metodológico. O modelo de participação é totalmente horizontal, e todo indivíduo tem espaço para participar. As atividades fogem do modelo apresentador-plateia. De acordo com a organização, quando você está falando com um público que tem histórico de luta, que é habituado a construir no coletivo, é preciso reinventar as fórmulas de organizar eventos.

“Estamos buscando criar um espaço de construção de unidade, de discurso, de forma muita verdadeira. Quem mais está sofrendo com essa crise são os grupos mais vulneráveis da sociedade. E eles estarão no evento. Portanto, eles precisam de espaço para falar. Muitas diálogos vão ser construídos dentro do próprio encontro. Decisões sobre as agendas serão tomadas. Essa metodologia é uma aposta”, explica o diretor regional da Abong.

Além do modelo geral – centrado em um formato aberto de diálogos, de maneira horizontal -, algumas atividades de convergência também são novidades. No dia 17 acontece a marcha os Povos em Resistência, no Largo Glênio Peres. E estão programadas ocupações de espaços públicos com muitas atividades artísticas e diálogos sobre política, economia e direitos humanos.

Programação

 

Um dos destaques da agenda é o ato do dia 17 em defesa das lutas e resistências no Brasil, na América Latina e no mundo. Já, nos dias 18 e 19 de janeiro de 2017 acontecem grandes debates das temáticas centrais do processo do FSM em eventos abertos para todos. Os dias 20 e 21 estão reservados para as discussões próprias do Conselho Internacional. Confira a programação completa:

Dia 17

17h – Marcha dos Povos em Resistência – Largo Glênio Peres
19h – Ato por Democracia e Direitos dos Povos – Largo Zumbi dos Palmares

Dia 18

9h – Análise da Conjuntura Internacional – Auditório Araújo Viana
14h – Análise da Conjuntura da América Latina – Auditório Araújo VianaDia 19
9h – Plenárias das Resistências
14hs – Assembleia dos Povos Luta e Resistências – Auditório Araújo Viana

20 e 21 

9hs às 17hs – Atividades Autogestionadas – #OcupaParqueFarroupilha
17hs (do dia 21) – Ato de Encerramento – Parque Farroupilha

Inscrições e realização


As inscrições para o I Fórum Social das Resistências podem ser feitas pelo site ou presencialmente a partir do dia 17, no Parque da Redenção, em Porto Alegre. A taxa é de R$ 20 – deste valor, R$ 6 são convertidos em moeda social e devolvidos aos participantes para que possam utilizá-los na Feira de Economia Solidária e demais empreendimentos inscritos no Fórum.

Mariana Cruz, representante do Comitê Local do Fórum, explica que o pagamento da taxa de inscrição é voluntário e que é ele que viabiliza a realização do encontro. “O evento é aberto ao público, ou seja, não é obrigatória a inscrição. No entanto, em caso de lotação das atividades, a preferência é obviamente de quem está inscrito. Além do que, a inscrição é uma forma de apoiar e resistir conosco aos retrocessos e a retirada de direitos que estamos acompanhando no Brasil e no mundo.”

Ela explica que quanto ao financiamento, a organização na utiliza qualquer recurso financeiro de governos ou empresas. “Assim, no FSdasResistências, contamos apenas com os recursos de cada coletivo, movimento social, sindicato, entidade e demais grupos que organizaram suas atividades, buscaram espaços, infraestrutura. etc. Além disso, temos o “Fundo Solidário”, no nosso site onde recebemos doações de valores a cima dos R$ 20,00 da inscrição.”

Fazem parte do Comitê Organizador: Abong, Ação Educativa, CAMP, CEAAL, CEBs, Clacso, CNJP, CTB, CUT, FALP, FMEducação, FS das Pessoas Idosas, FMML, FREPOP, FUNPOTPMA, Ibase, IDhES Instituto, Instituto Ethos, Instituto Parrhesia, IPF, Geledés, MMM, MNLM, Movimento Comunitário, Profetas da Ecologia, RECID, SEMAPI, Sindicato dos Artesões, UBM, UGT, UNEGRO, UNIVENS, Vida Brasil e VPoa.

A cobertura do evento pode ser acompanhada pela página do Fórum no Facebook.

Futuro

 

A organização do Fórum Social das Resistências conta que já está sendo programada uma segunda edição, neste formato, para 2018 em Salvador (BA). Também existe a ideia de realizar novamente o Fórum Social Mundial em Porto Alegre no ano de 2019. Para além dos encontros formais, a expectativa é a que a pauta da resistência se fortaleça. “Esperamos que, a partir do encontro, os movimentos caminhem com temas centrais, buscando sinergias. A ideia é ‘como incorporar na minha agenda as pautas dos outros movimentos’. Isso é unidade. Porque, no fim do dia, a luta é pela democracia e pelos direitos dos povos e do planeta.”

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