Fórum Social Temático 2016 mobiliza movimentos sociais na cidade de Porto Alegre
Por: GIFE| Notícias| 25/01/2016Com o tema “Paz, Democracia, Direito dos Povos e do Planeta”, mais de 10 mil pessoas estiveram presentes no Fórum Social Temático 2016, realizado em Porto Alegre (RS), de 19 a 23 de janeiro. O objetivo foi discutir e fazer um balanço sobre as questões centrais que marcaram estes 15 anos do Fórum Social Mundial (FSM), tendo em vista que a cidade foi a primeira sede do evento. O encontro faz parte das etapas preparatórias para a próxima edição do FSM, que acontecerá entre 9 e 14 de agosto, em Montreal, no Canadá, com a expectativa de reunir mais de 50 mil pessoas.
Desde a sua primeira edição, o Fórum busca ser um espaço internacional de articulação de organizações e movimentos sociais de todo o mundo, sendo um contraponto ao capitalismo e ao neoliberalismo, principalmente frente ao Fórum Econômico Mundial de Davos, visando discutir novas formas de desenvolvimento que contemplem justiça social e sustentabilidade. Por isso, o lema: “Por um outro mundo possível”.
“Nestes 15 anos muita coisa mudou na sociedade e novos debates surgiram, mas ele continua sendo um espaço de contraponto ao Fórum de Davos. O que queremos é ter uma sociedade cada vez mais empoderada. É um contracenso ainda termos no Brasil um cenário, por exemplo, em que 40% do nosso orçamento vai para pagamento de juros, enquanto não se reserva o necessário para educação e saúde”, comenta Lélio Falcão, presidente do Instituto Amigos do Fórum Social Mundial Porto Alegre e um dos integrantes do Comitê Organizador.
Sociedade em debate
Frente ao cenário atual mundial – marcado por crises econômicas, sociais, ambientais e políticas – novos temas pautaram as discussões e as atividades autogestionadas promovidas ao longo da semana em diferentes espaços da cidade de Porto Alegre.
O encontro começou no dia 19 com a tradicional marcha dos movimentos sociais, que percorreu ruas do centro da cidade até o Largo Zumbi dos Palmares, onde teve início a programação cultural. No dia seguinte, dando início oficialmente às atividades, foi promovido na Assembleia Legislativa um ritual ecumênico, com a presença de vários representantes religiosos, que fizeram em conjunto o pedido pela tolerância e ao diálogo.
Ao todo, foram mais de 800 atividades, entre oficinas, passeatas, seminários, debates, apresentações culturais, entre outras iniciativas realizadas por dezenas de movimentos e organizações sociais.
O “futuro das cidades e suas necessidades atuais”, tais como mobilidade urbana, resiliência, habitação e serviços, estiveram entre as temáticas discutidas em várias atividades, assim como o debate sobre os potenciais energéticos do mundo, combate à pobreza, fomento à agricultura familiar, controle e participação social, educação de qualidade etc.
A Rede Nossa São Paulo e o Programa Cidades Sustentáveis, em parceria com a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e a Associação Brasileira de Municípios (ABM), por exemplo, promoveram no dia 21 o seminário “Os desafios da implementação e municipalização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil – A estratégia do Programa Cidades Sustentáveis para as eleições de 2016” e, no dia 22, realizaram um seminário intitulado “A experiência dos Parlamentos Metropolitanos para o aprofundamento da democracia”, com a assinatura de Compromisso dos Parlamentos Metropolitanos com o Programa Cidades Sustentáveis.
Nesta mesma linha temática, a Abong – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais realizou o debate “Agenda Pós 2015 – Governança, Implementação e Monitoramento”, em parceria com o Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030. Na ocasião, o diretor executivo da Abong, ressaltou que a Agenda 2030 é uma pauta não só nacional e internacional, mas deve ser uma pauta local, municipal e estadual e uma oportunidade das organizações proporem novos paradigmas de desenvolvimento e de sustentabilidade para o planeta.
“É importante para nós colocar no centro do debate das políticas de desenvolvimento o aumento das desigualdades e a necessidade da sustentabilidade ambiental para essas políticas”, disse.
Resistência e participação
O Fórum de Porto Alegre foi marcado também por momentos de intenso engajamento dos participantes, como o painel sobre “Economia Solidária e Democracia Econômica”, realizado no dia 21 no Auditório Araújo Viana. O que era para ser apenas um debate se tornou um ato de resistência, tendo em vista que militantes presentes extenderam um pano de cerca de 5 metros pedindo pela manutenção da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), que corre o risco de ser extinta.
À frente das discussões estiveram Paulo Singer, secretário nacional da SENAES e Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português, coordenador do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, que possui um grupo de pesquisa especializado no assunto. “Já temos hoje no mundo inteiro um movimento de economia solidária, ao lado do desgaste do desemprego”, lembrou Singer na ocasião. Ele apontou ainda que é na economia social que as gerações mais novas podem deslumbrar um futuro numa sociedade em crise.
No Brasil, segundo o Atlas Digital do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES), lançado em 2014, há 19.708 estabelecimentos do tipo no país. Destes, 10.793 estão na zona rural. Outros 2.058, aparecem como sendo de zona rural e urbana.
O mesmo auditório recebeu ainda uma mesa de debate, com a presença de dez mulheres – uma estudante secundarista, duas deputadas, uma ministra, uma militante sul-africana, uma dançarina de hip hop e uma ativista antimanicomial -, para discutir sobre “Democracia, direitos, diversidade, resistência e luta”. Elas abordaram o papel das mulheres nos movimentos sociais, a luta dos estudantes contra o fechamento das escolas, as pautas da população de lésbicas, gays, travestis e transexuais (LGBTs), a construção da democracia na África do Sul e o atual momento político no Brasil.
A ministra Nilma Lino Gomes, do recém-formado Ministério da Cidadania, que congrega as pastas de Igualdade Racial, Políticas para as Mulheres e Direitos Humanos, disse que a ‘onda neoconservadora’ que tem marcado o país tem como objetivos tentar plantar a desesperança e o desânimo nas lutas.
Por ser uma mulher negra, que veio do movimento feminista e de educadoras, Nilma disse que foram estes setores que a “educaram” em termos sociais e profissionais. “Espero que esses setores possam também me reeducar à frente da luta que o nosso ministério tem. Para quem é descendente de africanos que foram escravizados, não podemos tirar as palavras ‘esperança’ e ‘força’ do nosso vocabulário”, destacou. A conquista da democracia será defendida, mesmo que as forças conservadoras queiram desestabilizá-la, garantiu, destacando a relação e a importância entre os conceitos que serviram como título da mesa: “uma diversidade democrática não existe sem resistência e luta”.
Com informações do site Fórum Social Porto Alegre, Fórum Social Mundial e Abong.