Franquias sociais são opção de investimento para as empresas

Por: GIFE| Notícias| 19/05/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Com o progressivo aumento das ações de investimento social privado no Brasil, cresce também a implementação de projetos conhecidos como franquias sociais. O termo, que ainda não é consenso no setor, identifica programas desenvolvidos por uma organização e replicados por outras.

Neste modelo, iniciativas bem-sucedidas são implantadas de forma monitorada em empresas que desejam ter uma ação social e acreditam que seja melhor seguir uma metodologia que já está funcionando.

“”A franquia traz uma profissionalização na maneira de replicar o projeto, algo que até a década de 90 não era feito, porque o próprio conceito de profissionalização da ação social não era muito presente no Brasil. Com ela, há estruturação, resultados apurados e perspectivas concretas de bons resultados””, afirma Ézio Rezende, gerente de expansão e projetos da Fundação Projeto Pescar.

A implementação de franquias sociais também é defendida como meio de sustentabilidade e de ampliação do impacto social dessas iniciativas. Para Beth Callia, coordenadora do Programa Formare, desenvolvido pela Fundação Iochpe, o formato facilita a multiplicação, pois organiza os procedimentos de todas as etapas de implantação e operação de um projeto social: “”A franquia otimiza recursos e tempo de experimentação, dispensa a necessidade de criação de um departamento específico para o desenvolvimento de programas sociais e permite a aplicação de um sistema já conhecido, testado e com resultados comprovadamente exitosos””.

O Formare é uma franquia social composta por 40 escolas profissionalizantes instaladas dentro de empresas, que incentivam seus funcionários a atuarem como educadores voluntários. Já o Projeto Pescar possui 55 unidades que também funcionam nas dependências de companhias que adotam a iniciativa, proporcionando formação pessoal e profissional para adolescentes de baixa renda.

Preconceito – O preconceito que muitas pessoas têm com relação às franquias sociais existe justamente por acreditarem que este modelo impossibilita uma adaptação de acordo com as condições de vida de cada comunidade.

Marcelo Cherto, consultor e presidente do Grupo Cherto – que participou do desenvolvimento do Programa Formare -, acredita que esse sentimento vem diminuindo e deriva da falta de informação. “”Já ouvi gente do terceiro setor dizer que tem medo de que a franquia social engesse os programas, obrigando uma entidade de Fortaleza, por exemplo, a agir da mesma forma que uma de Porto Alegre. Ora, isso não corresponde à realidade. O que se franqueia é o processo, não o produto final.””

Segundo ele, as regionalizações do conceito da franquia são vitais. “”Talvez seja até melhor falar em re-aplicação, e não apenas replicação. Afinal, só faz sentido levar uma iniciativa social a uma determinada comunidade se for para melhorar as suas condições de vida, o que geralmente obriga a fazer algumas adaptações no conceito original.””

Cherto alerta que é preciso ter muito claro o que é adaptável e o que deve ser preservado, sob pena de perda do “”código genético”” do programa e conseqüente prejuízo à sua efetividade.

Ézio Rezende afirma que o investimento social privado deve dar retorno, um retorno social: “”As pessoas que têm preconceito confundem o conceito empresarial de franquia com a questão social, e não conseguem ver a comunhão das duas coisas””.

Ele lembra que, para adotar uma franquia social, é necessário atentar para as prioridades, o foco de atuação e acreditar nisso. “”O investimento é baixíssimo. O que importa é ter vontade e maturidade. Ter um olhar externo e saber que a ação não é para formar mão-de-obra para a empresa. Ela até pode ser utilizada, mas não pode ser o foco inicial do trabalho. A ordem de prioridade é muito diferente””, alerta.

Acompanhamento – Para garantir que os conceitos e valores da ação sejam mantidos e que haverá continuidade no trabalho, o acompanhamento do processo de implementação da franquia social é fundamental. Segundo Rezende, só assim é possível saber se o conhecimento foi realmente absorvido, já que a operação depende do ritmo de cada empresa.

Mas, apesar de as franquias oferecerem um modelo pré-estabelecido de ação social, é importante deixar espaços abertos para contribuições e respeitar a diversidade de cada região na qual elas são implementadas.

Rezende lembra que a organização franqueadora precisa saber se a empresa que adota a franquia está seguindo os critérios éticos que caracterizam a ação, mantendo sua identidade e seus valores. Mas também deve haver espaço no próprio modelo para aprimorar a tecnologia. “”Se o processo for completamente rígido, a empresa não pode colaborar, o processo fica engessado e não traz possibilidades de troca de experiências e inovações.””

Para Beth Callia, o principal desafio é garantir a qualidade do programa, mesmo com a expansão em escala. “”Ao preservar a individualidade de cada operação, é preciso ter clareza das margens de negociação para atender às necessidades e características de cada local e, ao mesmo tempo, não perder os princípios norteadores do programa.””

Para saber mais:

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