Fundação Lemann lança pesquisa sobre a visão dos professores a respeito da educação

Por: GIFE| Notícias| 07/08/2015

Com a proposta de criar um espaço para dar voz aos professores, importantes agentes de mudança na educação, a Fundação Lemann, em parceria com IBOPE Inteligência e apoio do Instituto Paulo Montenegro, lança a pesquisa “Conselho de Classe – A visão dos professores sobre a educação no Brasil”.

Ernesto Martins, coordenador de projetos da Fundação Lemann, aponta as motivações para tal iniciativa: não é possível implementar de fato uma política pública sem compreender as demandas, os desafios e os desejos daqueles que vivenciam diariamente essa educação junto aos alunos, ou seja, os educadores. “Portanto, não é uma questão de ser importante ouvi-los, mas sim de ser essencial. Por estarem na ponta com os alunos, com a missão de ajudá-los a obter um aprendizado que os auxilie em seus projetos de vida, os professores trazem pontos importantes que precisam ser considerados pelas políticas educacionais. Até então, não víamos pesquisas ou dados que nos mostrassem com clareza a opinião dos professores sobre esse aspecto”, ressalta.

O que faz os olhos dos professores brasileiros brilharem? Quais são os temas que mais os preocupam? Eles se sentem ouvidos pelos tomadores de decisão? São algumas das perguntas levantadas junto aos professores.

Foram entrevistados mais de mil professores que atuam no Ensino Fundamental 1 e 2 da rede pública de ensino. Além disso, para ajudar na definição do questionário foram realizados encontros com grupos focais e entrevistas em profundidade. A maioria é mulher (82%), possuem em média 41 anos e 13 anos de experiência na rede pública.

A partir do estudo, foi possível identificar que o que faz os “olhos brilharem dos professores” é ver os seus alunos aprendendo. No entanto, se sentem bastante desvalorizados, seja pela parte financeira frente a outros profissões, quanto no fato de não serem ouvidos no debate educacional.

“Um dado preocupante que percebemos com o estudo é que além do professor se sentir pouco ouvido em relação à implantação de políticas é que aqueles que atendem alunos de baixo nível socioeconômico e/ou possuem resultados educacionais mais negativos são os que se sentem menos ouvidos. São professores que precisam muito de apoio devido aos desafios, mas que atualmente não têm suas opiniões valorizadas”, destaca Ernesto.

De acordo com a pesquisa, foram identificados quatro grandes temas que preocupam os professores: formação efetiva do aluno; heterogeneidade das turmas; relação com as famílias; e aplicabilidade das políticas educacionais.

Em relação à formação, os educadores não sentem segurança de que estão formando bem seus alunos e acreditam que não têm apoio para dar suporte aos estudantes que mais precisam. Além disso, apontam a importância de um diálogo mais próximo da escola com as famílias para resultados efetivos de aprendizagem.

“A questão que nos chama a atenção é justamente como os problemas do dia a dia são os que mais os afligem e os que mais consideram urgentes. A necessidade de acompanhamento psicológico para os alunos que precisam foi colocada como a principal urgência do cotidiano escolar pelos professores. Logo após aparece indisciplina dos alunos e defasagem de aprendizado. São desafios que exigem do professor e da escola um preparo para desenvolver nos alunos habilidades cognitivas e socioemocionais. Essas questões cotidianas apareceram de forma muito mais forte na pesquisa do que outras como currículo, material didático e formação”, comenta Ernesto.

Sobre os temas de destaque no debate educacional, como a questão das avaliações externas, grande parcela é contra o fim dessas avaliações e vêem sua contribuição positiva. No entanto, apontam a necessidade de mais formação para que possam de fato apoiar significativamente o trabalho em sala de aula. Já em relação ao uso das tecnologias, os professores aprovam a sua utilização e percebem que sua contribuição é muito positiva. “Nesse sentido, garantir infraestrutura e conectividade nas escolas é fundamental, assim como uma boa formação das equipes escolares no uso de TICs”, acredita o coordenador da Fundação.

Valorização dos educadores

Além da pesquisa, a iniciativa contempla ainda um filme, produzido pela equipe da 2020 e Maria Farinha Filmes, no qual alguns alunos de escolas nos quais a Fundação realiza projeto falam sobre professores inspiradores que impactaram suas vidas. (Clique aqui para assistir).

Mais de 300 crianças e 60 professores foram entrevistados para encontrar aqueles que tinham o real desejo de serem professores quando crescer, inspirados pelo trabalho de seus educadores atuais. “O resultado que encontramos foi exatamente o que estávamos buscando: ao participar com seu trabalho do momento em que uma criança aprende a ler, a escrever e a fazer contas que não sabia, o professor ajuda a abrir as portas para um novo mundo na vida do aluno. E isso merece ser reconhecido e valorizado. A ideia é reconhecer o professor como um profissional da educação e todo o impacto que o trabalho dele tem na formação, na aprendizagem e na vida dos alunos”, explica Ernesto.

A Fundação criou também uma página “Conselho de Classe” na rede social Facebook, que visa ser um espaço para manter um diálogo mais próximo com os professores de todo o Brasil. A ideia é que a página seja utilizada para troca de informação, experiências e aprendizados mútuos. Vários dados da pesquisa servirão como pontos disparadores de debate, a fim de que mais professores possam também compartilhar suas visões sobre os temas. Para o coordenador da Fundação, a escuta ativa destes atores será essencial para amplificar as transformações educacionais que o Brasil precisa, pois esse diálogo ajudar na compreensão das lacunas e necessidades que precisam ser superadas.

A iniciativa já tem recebido vários retornos positivos por parte dos professores. A educadora Sara Bertaglia, que fez parte da gravação do filme, por exemplo, deixou seu depoimento na página: “Nem sei como expressar minha gratidão e emoção de ter participado dessa gravação. Lembro-me de como chorei no dia. E, hoje, depois de uma manhã exaustiva e de lágrimas derramadas em virtude do meu trabalho, voltei a vê-la, o que aqueceu o meu coração!”. Outros educadores também manifestaram suas opiniões:“Eu acredito no poder transformador da educação”; “São essas emoções que nos estimulam a ser professor. Parabéns a todos!”, “Com certeza são gestos assim que nos animam”.
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