Fundações discutem sobre inovações em mecanismos financeiros para acelerar o impacto social

Por: GIFE| Notícias| 01/06/2015

Com a proposta de compartilhar aprendizados no campo de investimento de impacto e discutir a respeito das recomendações da Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais para o crescimento do setor no Brasil, a Ashoka, o Banco J.P. Morgan, o GIFE, o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) e a Rockefeller Foundation promoveram um encontro com fundações no dia 28 de maio, em São Paulo.

O evento contou com a participação de Bill Young, filantropo canadense pioneiro em investimento de impacto da Social Capital Partners, e Stuart Yasgur, diretor de Finanças Sociais da Ashoka Global, além de Célia Cruz, diretora executiva do ICE, e Maria Alice Setúbal, membro da Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais.

Andre Degenszajn, secretário-geral do GIFE e membro da Força Tarefa, abriu o encontro destacando a atuação da organização neste cenário, que pretende ajudar na estruturação e no estímulo ao campo, tendo em vista o potencial dos negócios sociais no país para a transformação social. “Estamos num momento de revisão geral sobre finanças sociais no mundo e nada melhor do que vir aqui ao Brasil para conhecer as experiências, tendo em vista que este país é pioneiro neste campo”, completou Stuart Yasgur, da Ashoka Global.

Stuart Yasgur destacou a atuação da Ashoka na área, tendo em vista que investe há 35 anos nos empreendedores sociais. Hoje, a organização está presente em 75 países, buscando apoiar o trabalho destes profissionais, conhecidos como fellows. Há dez anos, a Ashoka criou um programa de finanças sociais para atender a uma demanda de falta de acesso a capital por parte dos empreendedores. “Ao longo do tempo inovamos e temos novas abordagens, interagindo com instituições financeiras, novos fundos, trabalho com governos, entre outros”.

Neste período, de acordo com o diretor da Ashoka, foi possível perceber também, a partir de trabalhos realizados com a Rockefeller Foundation, de que os negócios sociais ajudavam os empreendedores a potencializarem suas ações e ganharem escala global. “Estamos vivendo agora um movimento neste campo que nunca foi visto antes”, comentou, destacando boas práticas realizadas no Brasil, nos Estados Unidos e na África, para resolver questões como posse de terra, destinação de resíduos e acesso à energia.

Stuart destacou ainda a urgência em se criar novas formas de investimento, para que os empreendimentos possam melhorar o ambiente de sua cadeia de valor. Frente a esse cenário, o terceiro setor desempenha um papel fundamental em ajudar as empresas a como fazer boas escolhas para o seu investimento social. “Precisamos investir em pessoas que permitam que outras se levantem em suas comunidades e promovam mudanças. São caminhos novos, mas que trariam muitas transformações”, apontou.

Experiência internacional

Durante o encontro, Bill Young compartilhou também a sua experiência pessoal, enfatizando que decidiu colocar todo o conhecimento que tinha do campo de negócios para aplicar em novas iniciativas de mudança social, criando assim a Social Capital Partners (SCP). A organização articula os principais interlocutores dos setores privado e sem fins lucrativos e órgãos públicos e desenvolve novas abordagens para lidar com os desafios do emprego do Canadá.

Bill apresentou alguns exemplos de iniciativas realizadas pela SCP, como a concessão de empréstimos a empresas com boas lideranças e propósito de beneficiar as comunidades em que estavam instaladas, gerando emprego local.

A SCP testa uma série de soluções diferentes e verifica, junto com seus parceiros, quais têm capacidade de escalar as ideias mais promissoras. Em vez de procurar uma solução, a organização desenvolve  propostas de valor para as grandes organizações que pretendem investir para trazer impacto transformador.

“Percebemos que enquanto bilhões de dólares eram gastos anualmente em programas de emprego e formação, os candidatos não estavam sendo treinados nas habilidades necessárias para o sucesso no trabalho. Ao mesmo tempo, os empregadores estavam lutando para encontrar candidatos adequados para preencher suas posições. Decidimos atuar neste campo, unindo os setores a fim de fazer com que as forças sociais possam solucionar os problemas vigentes. Era preciso mudar o sistema”, comentou.

A partir deste movimento da SCP, por exemplo, o governo canadense foi ao encontro da organização para entender os processos e está realizando alterações, inclusive, em suas legislações.

“Precisamos fazer um mundo diferente para as novas gerações. E elas já estão um passo a nossa frente, pois já perceberam que não é possível mais ter esse ‘divórcio’ entre o mundo da carreira e o sonho de ajudar a mudar a sua comunidade. Eles querem trabalhar em lugares que promovam essa convergência”, destacou Bill.

“E são as novos negócios sociais que promovem essa aproximação. Os jovens querem unir os propósitos dos negócios para resolver os problemas e trazer valor para a sociedade”, completou o diretor da Ashoka.

Força Tarefa

“Num país que ainda vive enormes desigualdades, é fundamental que olhemos para o social com o foco no seu impacto. Estamos ainda começando neste campo no Brasil, mas estamos buscando encontrar soluções para este novo modelo de pensar o social. É preciso criar novos valores”, comentou Maria Alice Setubal, membro da Força Tarefa.

Maria Alice apresentou, na segunda parte do encontro, o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais. A Força Tarefa, criada em 2014, atua, com envolvimento de representantes de diferentes setores, como catalisador e articulador para o campo. O propósito é ampliar o capital privado e público para financiar inovações sociais que contribuam na resolução dos problemas sociais brasileiros.

Para isso, tem desenvolvido uma série de iniciativas neste um ano de trabalho, como pesquisas, recomendações para bancos, mapeamento da oferta de capital, carta de princípios para negócios de impacto, entre outros.

Um dos materiais elaborados pelo grupo – em parceria com a Deloitte (2015) – é o relatório “Mapeamento dos recursos financeiros disponíveis no campo social do Brasil com vista a identificação de recursos potenciais para finanças sociais”. O estudo mostrou que os recursos disponíveis para o campo social somaram R$ 457 bilhões em 2014. Desse total, apenas 3% (R$ 13 bilhões) foi alocado através de mecanismos de finanças sociais. A proposta do grupo é fazer com que esse número chegue a R$ 50 milhões até 2020.

“Se olharmos para este campo, foram as fundações que fizeram os maiores investimentos na área. Por isso, têm um papel pioneiro, seja enquanto investidores, doadores, apoiadores de intermediários – como as aceleradoras ou incubadoras – ou até mesmo comprando diretamente dos negócios sociais”, disse Célia Cruz, do ICE.

Célia apresentou ainda outro material que está sendo elaborado pela Força Tarefa, que traz recomendações para avanços no campo. Esse documento será apresentado, no dia 14 de outubro, durante o evento “Finanças Sociais: tendências globais e recomendações para o Brasil”, em São Paulo, que terá a participação do Sir Ronaldo Cohen, co-fundador da Social Finance Ltd.

A proposta foi realizar uma consulta com os participante do evento, para que pudessem fazer sugestões sobre as recomendações e apresentar novas ideias. Outros encontros também estão sendo programados para os meses de junho e julho.

* Leia mais sobre este assunto em matéria publicada no RedeGIFE.

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