Garantia e promoção dos direitos das pessoas com deficiência: um convite à reflexão

Por: GIFE| Notícias| 01/12/2014

De acordo com números da Organização das Nações Unidas (ONU), em todo o mundo existem cerca de 610 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Só no Brasil, são 24,5 milhões de brasileiros com algum tipo de incapacidade intelectual, visual, auditiva ou locomotora.

Isso significa um contingente enorme de cidadãos que, muitas vezes, tem seus direitos negados. Ainda observamos no Brasil iniciativas tímidas na linha da inclusão na educação ou mesmo na abertura para o mercado de trabalho. Apesar de contar com legislação específica para entrada e permanência no mundo formal de trabalho, muitas pessoas com deficiência encontram barreiras como inadequação de espaço físico, estrutura de transporte precária e preconceito.

Quando o assunto é acessibilidade das nossas cidades, a situação fica ainda mais delicada. Ainda hoje, percebemos que a maioria dos espaços públicos e privados não são adaptados para receber pessoas com deficiência. Isso tudo significa limitação de direitos ao acesso à saúde, à cultura, ao esporte, à educação, entre outras áreas.

Dentre investidores sociais, podemos observar algumas empresas, institutos e fundações que viram na causa um campo de atuação. Organizações como AACD, Dorina Nowill e Instituto Rodrigo Mendes são referências no Brasil e no mundo. Entre empresas que praticam seu Investimento Social Privado, a causa também tem destaque. Instituto Unimed, Fundação Orsa e Fundação Bradesco são alguns exemplos.

Além do recurso aplicado externamente, são vários os casos de empresas que estão investindo em programas internos de responsabilidade social voltados à diversidade. De acordo com a publicação “O que as empresas podem fazer pela inclusão das pessoas com deficiência”, do Instituto Ethos, vivemos um cenário de mudança. É crescente a consciência de que a inclusão dessas pessoas é uma questão de ética, cidadania e redução da desigualdade social.

O guia mostra como as companhias podem atuar, contratando, mantendo e promovendo profissionais com algum tipo de deficiência, reconhecendo suas potencialidades e apoiando seu desenvolvimento no trabalho. Além das políticas internas de recursos humanos, o material passa por temas como relacionamento com a comunidade, Investimento Social Privado e advocacy junto ao poder público.

Experimentação para a reflexão

Outra iniciativa destacável nessa linha é a exposição Cidade Acessível, que acontece na cidade do Rio de Janeiro até o próximo dia 21 de dezembro. O trabalho é um esforço da produtora Folguedo, em parceria com a Casa da Ciência da UFRJ e patrocínio do Instituto Unimed Rio.

A exposição coloca em pauta uma ampla esfera de temas ligados aos direitos das pessoas com deficiência. A visita é uma oportunidade para vivenciar situações cotidianas que nos desafiam a pensar uma cidade para todos. Trata-se de um espaço de aprendizado e um convite para pessoas, empresas, ONGs e governos pensarem e repensarem a acessibilidade para pessoas com deficiência.

Além da vivência, a visita à Cidade Acessível permite conferir tecnologias ligadas à acessibilidade, como os sistemas que viabilizam acesso à internet para cegos ou os videoguias em Libras para surdos.

Leo Bungarten, um dos pesquisadores e curadores da exposição, explica que a ideia dessa iniciativa é ajudar as pessoas a entender as diferenças e refletir sobre as questões enfrentadas por diversos públicos. Para ele, ainda existe muita desinformação sobre o tema, mesmo entre investidores sociais. “Falta investimento e também entendimento na aplicação de recursos.”

Confira a conversa na íntegra com o curador:

redeGIFE – A exposição é um convite para refletirmos a questão da acessibilidade nos dias de hoje. Em que sentido essa experiência pode provocar uma vivência reflexiva?

Leo Bungarten – Através da experimentação! O visitante é convidado a vivenciar diversas experiências, se colocando no lugar do outro. Dessa forma é mais fácil entender as diferenças e questões enfrentadas por diversos públicos. Seja uma deficiência, mobilidade reduzida, carregar uma mala ou um carrinho de compras, ou qualquer outra situação que qualquer pessoa enfrente no seu dia a dia.



redeGIFE – Uma das propostas é falar sobre direitos e a autonomia de todos os cidadãos. Como esses dois temas são tratados na exposição?

Leo Bungarten – De forma lúdica e interativa. A simulação de barreiras e as ferramentas para superá-las evidenciam esses dois temas que são trabalhados pelos mediadores e também apresentados nos vídeos.



redeGIFE – O visitante pode, ao explorar o espaço, experimentar situações cotidianas. Você pode citar algum exemplo?

Leo Bungarten – Andar de ônibus, experimentar muitas sensações em uma praça, visitar uma escola, etc.



redeGIFE – A exposição também está disponibilizando videoguia em Libras, certo?

Leo Bungarten – É uma ferramenta disponibilizada na exposição como muitas outras. Todas foram incorporadas através de muita pesquisa (de toda a equipe) e consultoria de diversas pessoas. O videoguia em Libras é uma das ferramentas disponíveis para tornar a exposição o mais acessível possível, como também a audiodescrição, pranchas de comunicação alternativa, demais vídeos com legendas e Libras, representação do módulos em ícones, piso tátil, mapa tátil, rampas, passagens largas, ergonomia de desenho universal, conteúdo tátil em suportes móveis, equipamentos e softwares com tecnologia assistiva (acionadores grandes, teclado adaptado e com alto contraste, mouse adaptado, jogos adaptados, brinquedos adaptados, ferramentas para uso de computador com os olhos, e para uso por cegos, etc.).



redeGIFE – Como foi todo o processo de pesquisa para mergulhar fundo nessa tema tão delicado?

Leo Bungarten – Foi um processo muito rico. Conhecemos pessoas muito comprometidas e instigantes, nos aproximamos de muitas situações de dificuldade, mas também de orgulho, dedicação e superação. A pesquisa também teve como base nossas vivências pessoais e trocas familiares, já que meu sobrinho e a sobrinha da Claudia (outra curadora) tem paralisia cerebral e convivemos de perto com essa realidade. 



redeGIFE – A iniciativa passa ainda por temas como artes, esporte e lazer. Qual o tratamento dado a esses assuntos específicos?

Leo Bungarten – O módulo da praça aborda principalmente o lazer através das sensações (vento, luz, plantas reais, texturas naturais, essências, áudios de águas, animais e pessoas, poesias, etc.). E a arte foi incorporada quando convidamos uma artista plástica, Carla Tosto, para desenvolver paisagens táteis que estão nesse módulo. A arte também é abordada nas oficinas e palestras das atividades paralelas, onde já foram trabalhados temas como o corpo e a pintura.



redeGIFE – É difícil atrair investidores para iniciativas que tratem temas como acessibilidade e deficiência?

Leo Bungarten – Sim, demoramos para encontrar um patrocinador e não conseguimos os recursos todos. A exposição foi viabilizada também através de diversas parcerias e com recursos próprios.



redeGIFE – Qual sua visão sobre as nossas cidades, nossos espaços públicos e nossa infraestrutura do ponto de vista da acessibilidade.

Leo Bungarten – Temos um caminho muito longo pela frente. Pelo menos hoje as pessoas sabem minimamente que o assunto existe e temos uma legislação forte na área, mas a realidade ainda é extremamente hostil nesse sentido. Falta investimento e também entendimento na aplicação de recursos. Alguma coisa já é feita, mas não atende a real necessidade das pessoas ou não abrange uma área efetiva, e muitas vezes é feita de forma equivocada. Nesse sentido é importante ressaltar também a urgência da acessibilidade atitudinal. A atitude é fundamental no relacionamento entre as pessoas, é tão importante quanto uma rampa bem feita.

redeGIFE – Quais os espaços para investimento para empresas e organizações sociais que desejam aplicar recursos nesse segmento. E onde procurar repertório sobre o tema ou parcerias para ação?

Leo Bungarten – Acho que os espaços para investimentos são muito variados, falta muita coisa em muito lugar. Trabalhamos com exposições e mesmo que algumas já tenham alguns recursos, existe uma variedade de possibilidades ainda pouco exploradas. Inclusive não apenas através da disponibilização de recursos para dar mais acesso a algo existente, mas através da construção de novas linguagens que sejam mais acessíveis na sua origem, na sua concepção. E a procura pode ser feita nas escolas e institutos especializados, nas universidades, no terceiro setor e também em empresas que trabalham no ramo.

redeGIFE – Por fim, até quando vai a exposição e o que o público que ainda não compareceu pode esperar dessa iniciativa?

Leo Bungarten – Vai até 21 de dezembro e o público pode esperar por uma experiência única, lúdica e interativa.

Serviço – Exposição Cidade Acessível

VISITAÇÃO:

Terça a sexta – 9 às 20h

Sábados, domingos e feriados – 10 às 20h

LOCAL:

Casa de Ciência da UFRJ – Rio de Janeiro

Rua Lauro Müller, 3 – Botafogo – 22290-160

ENTRADA FRANCA

ESCOLAS E GRUPOS:

Agendamento antecipado pelo tel.: (21) 2542.7494

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