Gestão é base para elevar a qualidade do ensino

Por: GIFE| Notícias| 16/11/2009

Na última semana, foram reunidos gestores educacionais de 226 municípios paulistas com o objetivo de aprimorar processos de planejamento desses profissionais e, assim, garantir o direito de aprendizagem de crianças e adolescentes. No evento, Gestão Educacional e Resultados de Aprendizagem, eles foram apresentados a ferramentas que possam melhorara formulação e a implementação políticas públicas.

Se no setor privado o planejamento é intrínseco aos processos pelos quais uma empresa implementa suas atividades, o mesmo não pode ser dito quando se trata de gestores públicos. Daí, a necessidade de iniciativas como Programa Melhoria da Educação no Município, que, desde 1999, formou 3.438 gestores de 1.027 municípios, em 17 estados brasileiros.

Criada pela Fundação Itaú Social em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância e Adolescência (Unicef) e do Centro de Estudos em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) – apoiada pela União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) – a proposta é que esses profissionais tenham subsídios para elaborar um planejamento real e viável de seus municípios, respondendo às necessidades educacionais quanto ao acesso, à permanência e à qualidade do atendimento ofertado. Enfim, sua missão.

Só em 2009, já foram realizados 12 seminários como esse, que possui como base complementar a coleção “”Diálogos sobre a Gestão Municipal””, composta por três cadernos, dois aplicativos e um DVD. Este material serve de base para o desenvolvimento de oficinas, orientando o conteúdo e a metodologia de trabalho.

Segundo o vice-presidente da Fundação Itaú Social, Antonio Matias, o aprimoramento da gestão é a base para elevar a qualidade do ensino. “”Isso é fundamental para se fazer frente aos desafios educacionais brasileiros, em um cenário de escassez de recursos como o que existe em boa parte do Brasil””, afirma.

Em entrevista ao redeGIFE, a diretora da Fundação, Ana Beatriz Patricio, fala um pouco mais sobre o trabalho formativo e quais são os maiores desafios na hora de qualificar esses dirigentes.

1. Quais as razões para investir na qualificação de gestores?
Ana Beatriz Patricio – A Gestão é área chave para a transformação de uma realidade educacional. Não é possível implementar reformas que garantam ganhos qualitativos e sustentáveis, se a gestão não é feita de forma competente. É tarefa de cada um dos 5.564 municípios brasileiros cuidar da escolarização básica de sua população.

Assim, os gestores precisam ser formados para articular políticas públicas locais, desenvolver processos democráticos e participativos em suas comunidades. É essencial formar os quadros técnicos das secretarias, para que os ganhos das políticas públicas educacionais não sejam interrompidos ao final de cada gestão e tenham perenidade.

redeGIFE – Os dirigentes municipais estão mal preparados para os atuais desafios educacionais no país?
Ana Beatriz Patricio – Ainda temos muitos desafios na formação de gestores públicos de educação. Conhecer e considerar a realidade do município, por exemplo, é pressuposto para a elaboração de um plano educacional viável e eficaz para o município e, muitas vezes, os dirigentes não dispõem de informações que lhes possibilitem fazer o diagnóstico da situação para que desenvolvam um planejamento que permita explorar as potencialidades locais.

Os gestores precisam, também, estar mais preparados para fazer a gestão dos planos já existentes. São diversos os planos elaborados, e, muitas vezes, não há sintonia entre eles e entre as diretrizes nacionais.

Um problema que compromete muito a melhoria da educação nos municípios brasileiros é a descontinuidade das ações e, certamente, além de todas as questões políticas envolvidas, há, aqui, questões de gestão a serem enfrentadas. É preciso ter clareza da importância de se fazer uma passagem de uma gestão para a outra.

redeGIFE – Quais são os maiores desafios na hora da qualificação desses dirigentes?
Ana Beatriz Patricio –A gestão não pode se restringir a aspectos administrativos, mas deve considerar questões relacionadas a recursos humanos, materiais e pedagógicos em todas as esferas da gestão, do órgão central até a sala de aula. Esses pontos não podem faltar na formação destes gestores.

No Brasil, encontramos uma enorme diversidade entre a realidade dos gestores e os contextos onde estão inseridos. Essas questões também precisam ser consideradas para uma boa formação.

A criação de ferramentas, de instrumentos que assessorem ações de gestão é fundamental. Um trabalho que temos realizado com os gestores de educação é a realização de oficinas de leitura e diagnóstico da realidade local, a partir do Aplicativo Brasil Hoje.

Este aplicativo contém uma grande base de dados com indicadores sociais e educacionais brasileiros, inclusive temas como população, condições de vida, infraestrutura, saúde, educação e finanças sobre todos os municípios brasileiros. O aplicativo permite que os gestores estabeleçam comparações com outras localidades e monitorem a evolução de seus municípios.

Entendemos que o investimento em gestão deve considerar, por um lado, a orientação, formação e suporte aos gestores, que são responsáveis pela indução, articulação e coordenação de políticas públicas em educação e, por outro lado, é imprescindível a maior compreensão do papel da estrutura das secretarias de educação no desempenho educacional.

redeGIFE – Como o Programa Melhoria da Educação no Município se insere nas políticas do MEC?
Ana Beatriz Patricio – A partir das crenças sobre a importância da gestão na busca pela qualidade da educação, a Fundação Itaú Social desenvolve, desde 1999, o programa Melhoria da Educação no Município, fruto de parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância e Adolescência (Unicef), com a coordenação técnica do Centro de Estudos em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e apoio pela União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), que já envolveu 3.438 gestores de 1.027 municípios, em 17 estados brasileiros.

O Programa foi criado com a proposta de capacitar os gestores a elaborarem um plano de ação educativa para seu município a partir de um diagnóstico da situação local por meio da utilização de indicadores sociais, identificação de espaços educativos subaproveitados – como bibliotecas, parques, praças e museus – e análise das fragilidades do sistema educacional.

Em 2008 o MEC usou a mesma metodologia do Programa na preparação feita aos consultores que assessoraram os municípios com baixo Ideb, com o objetivo de qualificar os gestores para a elaboração do Plano de Ações Articuladas (PAR).

Em 2009, retornamos aos municípios que já participaram do Programa, realizando doze seminários pelo território brasileiro (Campina Grande, Juazeiro, Teófilo Otoni, Teresina, Goiânia, Salvador, Natal, São Luís, Presidente Prudente, Marília, Ribeirão Preto e São Paulo), com o objetivo de atualizar os gestores municipais da educação, contribuindo para o fortalecimento dos processos de gestão educacional no município, voltados para garantia da aprendizagem.

A programação dos Seminários contava com uma mesa de debates sobre o papel do gestor na busca da educação de qualidade e uma oficina no período da tarde. Na oficina, a partir de uma situação-problema, os gestores tinham subsídios para elaborar um diagnóstico adequado de seus municípios e relacioná-lo com o PAR elaborado na gestão anterior.

redeGIFE – Existe algum monitoramento a respeito do trabalho dos gestores que participaram do programa?
b>Ana Beatriz Patricio – Entendemos a importância da avaliação no compromisso de oferecer uma educação de qualidade. O processo avaliativo utilizado no Programa busca identificar a viabilidade, eficiência e efetividade do Programa. São avaliados os processos, os resultados e os impactos de cada ação.

A avaliação de impacto realizada pela Fundação Itaú Social, em parceria com a área de Avaliação Econômica do Banco Itaú (disponível em www.fundacaoitausocial.org.br), mostrou o impacto positivo sobre o fluxo escolar após dois anos de Programa.


Em tempo
A Fundação Itaú Social (FIS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) premiam nesta segunda-feira, em São Paulo (SP), as quatro organizações não-governamentais vencedoras da etapa nacional da 8ª edição do Prêmio Itaú-Unicef.

O objetivo do Prêmio é reconhecer e estimular o trabalho de organizações sem fins lucrativos que contribuam, em articulação com a escola pública, para a educação integral de crianças e adolescentes de todo o Brasil. Nesta edição, o tema “”Tempos e Espaços para Aprender”” estimula a reflexão sobre a diversidade de locais que oferecem possibilidades de aprendizagem.

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